Rocky G: “O mercado é muito masculino e, por vezes, um pouco machista”

Rocky G: “O mercado é muito masculino e, por vezes, um pouco machista”

Entrevistas

Rocky G: “O mercado é muito masculino e, por vezes, um pouco machista”

Rita Egídio, conhecida no mundo da música como Rocky G, está de volta a Portugal com música nova e com o desejo de fazer um documentário para a Netflix.

Artigo de Bruno Seruca

12-08-2019

Foi há sete anos que Rita Egídio saiu de Portugal. Aquela que era uma das principais figuras da agenda mediática nacional está de volta como DJ e com música nova. Além de Whatever, Rocky G vai passar dois anos a recolher imagens da sua vida, com o objetivo de realizar um documentário para disponibilizar na Netflix. Em conversa com o paraeles, Rita Egídio defende que beleza física nem sempre ajuda e que não se revê na imagem de sex symbol que têm de si. Garante ainda que não faz sentido voltar a posar nua e dá a conhecer os planos para o futuro.

Esteve sete anos a viver fora de Portugal. Que resumo faz deste tempo?
Foi muito bom viver fora, permitiu alargar os meus horizontes. Foi um prazer, uma experiência incrível e penso repetir sem dúvida nenhuma.

Do que tinha mais saudades em Portugal?
Não sou muito saudosista, mas acho que tinha saudades da comida, dos meus amigos, do bom tempo e dos valores básicos que fazem de nós portugueses. Acima de tudo mudei-me para Portugal com a família para introduzir o português e a cultura portuguesa aos meus filhos.

“Foi muito bom viver fora, permitiu alargar os meus horizontes”

Há algum motivo especial para o regresso a Portugal nesta altura? Está relacionado com o lançamento de Whatever?
Nos próximos dois anos queremos gravar um documentário e esta vinda para Portugal também permitirá retratar melhor quem eu sou, as minhas origens. Possivelmente também será necessário passar algum tempo em São Tomé. O Whatever é mais um statement sobre este momento. “Let’s go back home, whatever that means, just let’s go”, é este o espírito com que tento encarar esta nova fase da minha vida.

Vai passar dois anos a registar em vídeo os momentos mais marcantes da sua vida e carreira. O que irá fazer com as imagens recolhidas?
Mais do que contar, a nossa intenção é documentar o que vão ser estes dois anos. Queremos fazer um documentário da minha vida ao longo destes dois anos e disponibilizá-lo na Netflix.

Pegando no nome do tema, é uma forma de encarar a vida?
Também, mas também sou adepta do “So What” e porque não?

“Queremos fazer um documentário da minha vida ao longo destes dois anos e disponibilizá-lo na Netflix”

Diz que este tema é um “warm up” para o que aí vem. O que podemos esperar?
Podem esperar grandes colaborações com nomes internacionais da música techno. E também algo mais, mais “ácido”, mais “dark”, mais “mysterious”, “deep”, mas ainda estamos a trabalhar nisso.

Com que artista, nacional e internacional, é que gostava de colaborar?
Internacional, sem dúvida que com Carl Cox ou Pig and Dan. A nível nacional DJ Vibe, provavelmente, e partilhar cabine com XL Garcia.

Viveu em Inglaterra e Holanda. Tendo em conta que Amesterdão é uma espécie de capital da música eletrónica, o que esta estadia mudou em si enquanto DJ?
Amesterdão é um dos berços da música eletrónica, o que me fez ter acesso a nomes e pessoas muito interessantes do meio. Foi um prazer poder partilhar cabines de espetáculos com grandes nomes da música techno. Costumo dizer que foi o destino que pôs o amor e a música eletrónica juntos na mesma cidade.

“Amesterdão é um dos berços da música eletrónica, o que me fez ter acesso a nomes e pessoas muito interessantes do meio”

Recuando no tempo, quando e como surgiu a inspiração para ser DJ? E em que momento surge o nome Rocky G?
Rocky G tem uma história peculiar e tem que ver com o nome de um animal de estimação que tive. Era conhecida pelo meu nome próprio e em 2008 quando iniciei o meu projeto como DJ não queria um nome demasiado feminino, queria um nome que não fosse imediatamente associado ou a alguém do sexo feminino ou masculino e estava há diversas horas à procura de uma designação que se encaixasse nestes parâmetros até que uma amiga minha sugeriu Rocky, o nome de um cão que tive e que adorava quando era criança. Gostei do nome, gostei da ideia e assim ficou.

Ainda se recorda da primeira atuação?
Foi numa discoteca que já não existe (Maria.pt) e foi um desastre. Foi muito desastrosa. Eu enganei-me a passar as faixas, mas acho que as pessoas gostaram e ainda ando nestas andanças até ao dia de hoje.

“[Primeira atuação] Foi numa discoteca que já não existe e foi um desastre. Foi muito desastrosa”

Já atuou em mais de 50 países de quatro continentes. Qual o melhor país para atuar?
Na Índia ou nas Filipinas, em geral nos países menos ocidentalizados. Sinto que nos países asiáticos as pessoas tendem a fazer um esforço para ir a um evento específico e quando estão nesse evento desfrutam ao máximo, estão de alma e coração e isso é muito gratificante. De qualquer forma, no geral é bom tocar em locais onde o público tem uma boa energia. Vou dar um exemplo: No âmbito do Worlds of Rocky, o meu projeto em que que toco em locais cultural e historicamente únicos ou significativos, toquei numa cozinha em Lisboa. Essa é uma das minhas atuações mais recentes favoritas.

Worlds of Rocky – Live from Lisbon

Rocky G live from LisbonWarm Up DaveedGaspar Varela Portuguese GuitarLocation Quinta das Pintoras – Marvila

Publicado por Rocky G em Domingo, 7 de abril de 2019

Onde é que teve mais público a assistir a uma atuação sua?
Em Portugal, no Arraial Pride em 2011, no Terreiro do Paço, onde estavam reunidas 30 mil pessoas.

E qual aquele que tem o público mais “frio”?
Normalmente nas cidades com mais acesso e mais festas. É onde é mais frequente acontecer e também nos países nórdicos.

Quais são as suas grandes inspirações na área?
Nina Kraviz, Anna, uma DJ e produtora brasileira. Gosto de muitos artistas como Nastia, Charlotte de Witte, Amelie Lens. Do sexo masculino destaco Pig and Dan, Pan Pot e Carl Cox.

“O mercado é muito masculino e, por vezes, um pouco machista”

Qual a maior dificuldade que teve de superar para triunfar como DJ?
O mercado é muito masculino e, por vezes, um pouco machista. Quando me iniciei enquanto DJ e porque já era conhecida noutras áreas, a ideia não foi logo muito bem aceite por quem já estava há mais tempo do que eu neste meio. Mas eu sempre encarei essas situações como obstáculos que tenho de superar, de transpor.

Para quem nunca assistiu a uma festa em que atua, como é que a pode definir?
Apesar da minha música ser muito forte e até triste às vezes, eu tenho uma alegria muito grande quando estou junto à cabine, vivo mesmo o momento. Adoro o que faço. Aproveito para convidar toda a gente a dar uma vista de olhos nos vídeos que tenho no canal Youtube Rocky G e a dizerem-me o que acham nos comentários.

E quais os detalhes que a distinguem de outros DJs?
Eu sou latina, sou portuguesa, acho que sou um pouco menos “dark” do que a maioria dos DJs techno e acho que isso se sente.

“Acho que sou um pouco menos “dark” do que a maioria dos DJs techno”

Veio para ficar em Portugal? Ou os planos futuros passam pelo estrangeiro novamente?
Ainda não sei. Se sair de Portugal irei talvez para um país da Europa, mas por agora quero ficar aqui.

Pode ser definida como atriz, modelo, empresária e DJ. De todas estas definições, DJ é aquela que melhor a define?
Eu foco-me em ser DJ e serei sempre empresária porque vejo a minha carreira como uma empresa.

Esta aposta no lado de DJ significa que as restantes estão colocadas de lado?
Neste momento sim.

É uma profissão muito noturna e com muitas viagens. É fácil conciliar isto com o papel de mãe?
Consegue-se conciliar se tivermos o apoio da família e amigos, que nos ajudam a conseguir conciliar. De qualquer modo, também nunca coloquei a hipótese de não o fazer. Tem de ser feito. Dorme-se menos horas, mas faz-se com amor. Eu não quero ter que escolher entre uma coisa e outra. Faço com amor.

“Já não sou uma figura mediática como fui e até é bom que assim seja”

Os filhos opinam sobre a música da mãe?
Opinam, claro e eu ouço sempre as suas opiniões. Alguns deles já são adolescentes, por vezes, já saem com a mãe. Têm muitas vezes a sua opinião. Achei curioso porque a minha filha de quatro anos, a Max, gostou imenso do Whatever.

O que mudou na Rita, mulher, desde que saiu de Portugal, altura em que era uma das figuras da agenda mediática nacional?
Já não sou uma figura mediática como fui e até é bom que assim seja. Na altura era demasiado nova quando comecei a ser conhecida e se calhar não soube gerir isso da melhor forma, talvez também devido à situação emocional que vivi durante esses anos. Muita coisa mudou, agora existem as redes sociais, as pessoas têm voz, podem dizer de sua justiça e eu acho que esse fator também contribuiu para a mudança. Por outro lado, a estabilidade que tenho, a calma e a tranquilidade com que encaro o meu presente permitem-me também ser mais abordada pelos meus projetos, pelo meu trabalho.

“A beleza às vezes desajuda”

A sua beleza física sempre foi muito elogiada. Sente que é um detalhe que pode fazer a diferença na área?
A beleza às vezes desajuda, por assim dizer. Às vezes acho que nem é o ser bonito, é ter a confiança. Há pessoas bonitas que não têm confiança e essa energia não transparece. Por outro lado, sinto que às vezes as pessoas tomam-nos por menos sérios se acharem que somos bonitos. A beleza faz com que por vezes, nos subestimem, o que também pode ser bom. Podem ficar deveras surpreendidos com os resultados. Eu não acordo todos os dias a achar “Oh meu Deus que bonita que eu sou’, mas também não acordo a achar que estou velha ou gorda. Não vivo obcecada com a minha imagem. Eu gosto muito de quem eu sou, tomo conta de mim e é isso que eu quero continuar a fazer.

“Não me vejo como sex symbol de forma nenhuma. Às vezes até pelo contrário”

Foi a única mulher a posar nua sendo mãe de cinco filhos. Passados estes anos, e nesta fase da vida, aceitava novamente o desafio?
Acho que não fazia sentido fazer outra capa neste momento. Agora não me imagino a fazê-lo. Foi um momento, dediquei-o mais às mulheres que aos homens. Adorei fazê-lo, diverti-me imenso. Adorei o feedback. Espero ter mostrado às mulheres que podemos ser mães de quatro, cinco filhos, etc. e que podemos estar em forma. Temos o direito de nos sentirmos sexy e felizes. Nós não podemos dar o que não temos, não podemos amar os nossos filhos se não estivermos bem connosco, se não nos sentirmos bem na nossa pele. Não lhes podemos dar sorrisos se não estivermos para nós.

Revê-se na imagem de sex symbol, que lhe é muitas vezes associada?
Não me vejo como sex symbol de forma nenhuma. Às vezes até pelo contrário. Peco por me vestir e me comportar de uma forma oposta ao que fiz quando tinha 24, 25, 26 anos. A maturidade também nos muda e mostra-nos que ser sexy sem ser pelo corpo, sem mostrar corpo, pode ser muitas vezes mais interessante.

Como é que imagina o futuro daqui a cinco anos?
Quero levar a minha música a todo o mundo. Penso ter trabalhos meus no Top 10 ou 5 entre os DJ techno. Provavelmente vou estar a viver noutro país qualquer. Quero inspirar o mundo com a minha música.

Percorra a galeria e veja mais fotos de Rita Egídio, conhecida no mundo da música como Rocky G.

Fotos: DR

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Artigo de
Bruno Seruca

12-08-2019



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