Slimmy: “Sinto-me uma estrela rock mais verdadeira”

Slimmy: “Sinto-me uma estrela rock mais verdadeira”

Entrevistas

Slimmy: “Sinto-me uma estrela rock mais verdadeira”

I’m not crazy, I’m in Love é o quarto álbum de estúdio de Slimmy e o primeiro depois dos tempos em que o músico português se afundou em álcool e drogas.

Artigo de Bruno Seruca

12-10-2019

Foi em 2000 que Slimmy começou a destacar-se no mundo da música. Seguiu-se um período crescente, em que o músico esteve sempre em patamar de destaque, chegando a ter um tema num episódio da série CSI: Miami, uma das mais populares do mundo. Porém, os últimos tempos foram diferentes. Slimmy afundou-se no álcool, drogas e esteve perto de desistir daquilo que tão bem sabe fazer. Agora, lança I’m not crazy, I’m in Love, o álbum que o fez reacender a paixão pela música. Em conversa com o paraeles, Slimmy percorre o passado, fala do presente e antevê o futuro.

I’m not crazy, I’m in Love é o teu sétimo álbum, o quarto de estúdio. É o melhor que já fizeste ou é injusto colocar as coisas nestes moldes, devido aos anos e fases da vida que os separam?
É apenas o meu 4º disco de estúdio, mas sem saber dizer se é o melhor ou não, este é sem dúvida o mais completo. Uma vez que tem vários temas em português, tem os vários estilos e sabores musicais que me caraterizam, e também algumas das melhores canções que já escrevi.

Pegando no título, há quem diga que és maluco?
Foi mais eu achar que estava a ficar maluco. Ou por estar debilitado a nível mental e ter-me aproximado de um estado perigoso.

O disco começou a ser gravado em 2016 e durante este tempo tiveste de superar alguns problemas pessoais. Isso está vincado no trabalho?
Está vincado e explícito na escrita de várias letras, mas não nas músicas. O disco não é nada melancólico ou depressivo, até pelo contrário. Por todo o processo, contei com a ajuda da minha mulher, que para além de ter cantado vários temas comigo, me ajudou a superar tudo de mal ou de difícil. E parte significativa do disco é uma ode a esse amor imprescindível e incondicional demonstrado por ela.

“É apenas o meu 4º disco de estúdio, mas sem saber dizer se é o melhor ou não, este é sem dúvida o mais completo”

Já disseste publicamente que te afundaste “em álcool e drogas”, algo que te levou a perder a paixão pela música. Este disco é também uma celebração pessoal pelo reacender da paixão pela música?
Sim, sem dúvida. Nunca pratiquei tanto os vários instrumentos que toco como agora. Aprendi piano, canto e gravo todos os dias coisas novas, demos, etc.

O desejo de recuperar o tempo perdido pode ser uma pressão para ti?
Sem dúvida que é, mas ser músico profissional em Portugal nunca foi fácil. Por isso, essa pressão está sempre lá desde há muito tempo.

E nesta fase da vida e carreira, o que te faz ficar apaixonado?
Durante algum tempo não consegui escrever nada de jeito, equacionei desistir e fiz-me mil e uma perguntas sobre se ainda valeria a pena. E de repente o começar a escrever música voltou a curar-me e a tirar-me da cabeça todas as coisas negativas, como já tinha acontecido na adolescência. Voltar a sentir isso fez-me apaixonar pela música novamente.

“Durante algum tempo não consegui escrever nada de jeito, equacionei desistir e fiz-me mil e uma perguntas sobre se ainda valeria a pena”

No álbum encontramos músicas em português e em inglês. O porquê desta decisão?
Apeteceu-me que as mensagens dessas canções fossem entendidas de forma mais imediata e eficiente. Queria desafiar-me também, afirmar-me como compositor de canções na nossa língua. E de alguma forma, as canções nasceram naturalmente em Português, sem que eu pensasse muito no assunto.

Tendo em conta que existem três anos a separar o início do projeto com o lançamento do álbum, foi fácil escolher os temas que fazem parte do disco?
Não, foram muitos temas escritos, perto de 50, e todas as semanas tinha ideias novas para substituir as já escolhidas. Foi difícil, porque mais que nunca, tinha temas para um bom disco duplo, e ficou muita coisa por editar e mandar cá para fora.

Qual a melhor forma de apresentares este álbum, em poucas palavras, a quem nunca tenha ouvido um tema teu?
Música feita com muita alma, com os sentidos todos à flor da pele.

“Tinha temas para um bom disco duplo, e ficou muita coisa por editar e mandar cá para fora”

Crazy/Love é o nome da próxima digressão. O que podem esperar os fãs, até porque és conhecido como um artista que se destaca muito em palco?
Não tenho infelizmente a estrutura de outras alturas, mas a entrega, a energia, a imprevisibilidade de um espetáculo de Slimmy mantêm-se. E passo isso aos meus colegas de banda que me acompanham neste momento

O que mudou desde os anos 2000, em que eras um one man show que começa a dar que falar no panorama nacional da música?
Mudou muita coisa. Desde já o facto de com o passar dos anos deixamos de ser novidade, e entretanto já há 1000 bandas do mesmo género, e 1000 “one man show” a fazer coisas parecidas e melhores. Temos que nos adaptar constantemente, uma vez que estamos sempre sujeitos aos gostos e escrutínio do público. No meu caso, fui-me adaptando como podia, mas sem nunca perder a identidade que me fez sobressair no início.

“Estou a adorar a pujança deste quarteto que me acompanha ao vivo”

Quais os prós e contras de estares a trabalhar como one man show e enquanto banda?
Neste momento ando a voltar ao formato one man show, para alguns concertos onde não dá para ir com a banda, e a sensação é ótima, porque há uma maior liberdade de escolha de repertório, diferentes versões, diferentes roupagens de músicas, etc. Enquanto banda andamos a incidir neste último disco e tocamos mais de metade do Beatsound Loverboy. Sabe muito bem essa descarga de energia, é ótimo poder partilhar com excelentes músicos os temas que fiz nas minhas caixas de ritmo, deitado no chão da sala, em Londres. São sensações diferentes, mas diria que estou a adorar a pujança deste quarteto que me acompanha ao vivo.

Viveste alguns anos em Londres. O processo criativo de um álbum é completamente diferente se for feito em países como Inglaterra e Portugal?
Sim, mas acho que a fase em que te encontras na tua vida, tem mais influencia no meu caso, do que propriamente a cidade ou o país onde vivi. Os meus tempos em Londres coincidiram com tempos de solteiro, outro tipo de aventuras, experiências, emoções, que se traduziram nos meus primeiros dois álbuns, muito frenéticos e elétricos, rápidos, etc. Este I’m not crazy, I’m in Love, embora tenha isso tudo também, foi escrito por um gajo com quase 40 anos (tenho-os agora só), com outra estabilidade na vida, mas com outros medos, sentimentos, desejos…

“Este I’m not crazy, I’m in Love (…) foi escrito por um gajo com quase 40 anos, com outra estabilidade na vida, mas com outros medos, sentimentos, desejos”

Bloodsport Star fez parte da banda sonora de um episódio da famosa série CSI: Miami. Também já tiveste uma música – Self Control – nos resumos desportivos do canal Sky Sports. Qual o impacto que momentos como estes têm na carreira de um músico?
São pequenas lembranças de que temos algum jeito “pra coisa” e dão-nos muito orgulho pessoal, como é óbvio.

Beatsound Loverboy foi considerado o terceiro melhor álbum português lançado desde 1994. Distinções como esta aumentam a pressão para novos trabalhos?
Isto foi numa votação da antena 3 em 2009, sobre os melhores discos portugueses desde o inicio da Antena 3 (94-09) e o meu disco de estreia figurou em 3º lugar, fruto da votação do público. Sinto muito orgulho, mas não aumentou nem retirou pressão, continuei a fazer o meu caminho normalmente.

“Sinto-me uma estrela rock mais verdadeira, com mais conteúdo do que em 2010”

Em 2010 dizias sentir-te uma estrela rock. E agora?
Sinto-me uma estrela rock mais verdadeira, com mais conteúdo do que em 2010.

Agora que os tempos menos bons fazem parte do passado, como imagina o futuro?
A tocar, a gravar discos e escrever canções que consigam tocar nas pessoas.

Fotos: DR

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Artigo de
Bruno Seruca

12-10-2019



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