Ricardo Gomes e o plano ambicioso para derrubar o poderoso PSG

Ricardo Gomes e o plano ambicioso para derrubar o poderoso PSG

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Ricardo Gomes e o plano ambicioso para derrubar o poderoso PSG

Ricardo Gomes, diretor técnico da equipa que roubou os primeiros pontos ao PSG na Liga francesa, tem um plano ambicioso para os próximos três anos.

Artigo de André Cruz Martins

05-12-2018

O Girondins Bordéus foi a primeira equipa a roubar pontos ao Paris Saint-Germain na atual edição do campeonato francês, forçando Neymar e companhia a um empate a duas bolas, em jogo disputado no Parc Lescure. A estrela brasileira do campeão francês adiantou os visitantes aos 34 minutos e muitos pensavam que o Paris Saint-Germain iria construir mais uma vitória tranquila, mas não foi isso que sucedeu. Aos 53’ Jimmy Briand fez o empate, Mbapé voltou a colocar os favoritos em vantagem, só que aos 84’, o ponta de lança dinamarquês Andreas Cornelius estabeleceu o resultado final.

É verdade que o Girondins Bordéus não conquistou os três pontos, mas esta foi claramente a grande alegria da época para os adeptos de um clube que se encontra longe dos tempos áureos de sucesso da década de 80 do século passado, quando conquistou quatro dos seis títulos de campeão nacional da sua história.

Mais recentemente, em 2008/09, surpreendeu ao ganhar o cetro máximo do futebol francês, mas essa foi uma exceção no passado recente de insucesso. Atualmente, ocupa um modesto 11º lugar na Liga, com apenas quatro vitórias em 15 jornadas e a oito pontos do Saint-Étienne, que está no sexto posto, o último de acesso à Liga Europa, o grande objetivo do Girodins na temporada em curso.

À boleia do investidor americano

O nosso bem conhecido Ricardo Gomes é o diretor técnico do Girodins Bordéus, depois de no verão ter abandonado o Santos, onde exercia o mesmo cargo. O antigo defesa central do Benfica tem um plano ambicioso para os próximos anos, contando com a ajuda dos acionistas norte-americanos que compraram o clube. Trata-se do fundo General American Capital Partners (GACP) que comprou a participação de 100 milhões de euros da cadeia de televisão M6.

“Estes acionistas foram apresentados no último dia 8 de novembro, mas têm um planeamento anterior, que foi discutido durante um ano. A ideia deles é fazer do Bordéus um grande clube europeu no prazo de dois ou três anos”, revelou.

Para já, Ricardo Gomes não deixa grandes pistas de como o plano será executado. “Estamos a olhar para os bons exemplos do passado recente na Liga francesa, em que houve sempre um clube que faz a diferença durante muitos anos. Aconteceu isso com o Lyon de Juninho Pernambucano e Cris, que ficou sete anos com essa supremacia; aconteceu com o Olympique, que teve a supremacia nos anos 80 e 90; atualmente, sucede com o Paris Saint-Germain”, afirmou.

O antigo futebolista do Benfica tem noção de que a missão não será fácil “devido à qualidade dos jogadores do Paris Saint-Germain e à sua força financeira, mas a solução é trabalhar muito”, realçou.

Kamano é a grande figura

A avaliar pelo momento atual, o Girondins Bordéus terá mesmo de trabalhar muito, como diz o seu diretor técnico. O empate contra o super Paris Saint-Germain foi a exceção à regra num campeonato bastante fraco até ao momento. A grande figura da equipa é o extremo esquerdo François Kamano, o melhor marcador com dez golos, sete deles no campeonato. Destaque ainda para a boa época do central Jules Koundé, um jovem central francês com 20 anos de ascendência do Benim e que parece talhado para voos mais altos.

O ponta de lança Nicola de Préville é outro dos nomes conceituados do grupo, mas tem estado muito abaixo das expetativas, raramente sendo opção como titular e somando apenas dois golos em partidas oficiais. Aguarda-se pelos muitos milhões que vão ser injetados pelo novo dono do clube para perceber o que pode valer o Bordéus num futuro próximo e se será mesmo possível desafiar a supremacia do Paris Saint-Germain.

Especialista em Taças

Depois de ter terminado a sua brilhante carreira de futebolista, Ricardo Gomes tornou-se treinador e teve algum sucesso, nomeadamente no próprio PSG que agora pretende desafiar, onde ganhou a Taça de França e a Taça da Liga, em 1997/98 e no Girondins Bordéus (ganhou a Taça da Liga em 2006/07).

Mais recentemente, destacou-se pela vitória na Taça do Brasil ao serviço do Vasco da Gama, em 2011, e pelo título de campeão brasileiro no segundo escalão, pelo Botafogo, em 2015. Em 2016 e 2017 esteve no Al Nassr, da Arábia Saudita, mas não foi feliz e regressou ao Brasil, para ocupar o cargo de diretor técnico do Santos.

A doença não o derrotou

Em 2011, sofreu um AVC num jogo entre o Vasco da Gama e o Flamengo. O treinador foi levado de imediato ao hospital, onde passou por uma delicada cirurgia de três horas para drenagem do excesso de sangue no cérebro. No dia seguinte, os médicos informaram da regressão no hematoma no cérebro e descartaram nova cirurgia, destacando a fantástica evolução, acima das expetativas. Dois dias depois, os médicos iniciaram a retirada dos sedativos e o processo de recuperação começou.

Durante mais de um ano, passou por um tratamento intenso de fisioterapia e terapia da fala. Demorou até recuperar totalmente a locomoção e a fala – ainda fala de forma um ligeiramente arrastada – e de forma emocionada, agradece a quem o ajudou a ultrapassar o período mais complicado da sua vida. “Estou muito feliz pela recuperação e o acidente que sofri revelou-me boas pessoas que eu nunca esperei conhecer. Só posso agradecer por essas pessoas que conheci e com quem convivi e também aos médicos que me seguiram. Vou ter que trabalhar muito para agradecer, agradecer e agradecer, porque as torcidas do Vasco e do Brasil inteiro apoiaram-me muito”, realçou.

Melhor central da história do Benfica?

Ricardo Gomes é por muitos considerado o melhor defesa central da história do Benfica. Futebolista de classe mundial, já era presença assídua na seleção brasileira quando em 1988 chegou ao clube da Luz, onde cumpriu três épocas de grande sucesso, tendo sido duas vezes campeão nacional. Em 1988/89 formou dupla de betão com Carlos Mozer, mas enquanto este se destacava pelo vigor com que disputava os lances, Ricardo jogava em “pezinhos de lã”, embora também soubesse dar algumas pancadas quando era necessário.

Destacava-se pela fantástica capacidade área nos lances ofensivos e pela forma perfeita como cobrava grandes penalidades, tendo feito 22 golos pelas águias nessas três temporadas. E foi o primeiro capitão do Benfica fora de Portugal e das colónias portuguesas.

Acabou por sair para o Paris Saint-Germain mas em 1995/96, com 31 anos, regressaria para cumprir a sua última época como futebolista profissional. A classe estava lá e fez uma boa temporada, mas era visível que já não tinha as mesmas capacidades físicas. Ainda assim, fez 37 jogos oficiais e apontou quatro golos, numa época em que os encarnados conquistaram a Taça de Portugal.

“Perguntavam-me como conseguia ficar tão calmo”

Em abril de 2018, Ricardo Gomes recordou a passagem pelo Benfica, em entrevista ao site oficial do clube. “A adaptação foi fácil pela estrutura do clube, direção, técnicos e adeptos. Tudo isso ajudava muito os estrangeiros e tive a sorte de encontrar um bom clube, onde tudo deu certo. O universo conspirava a favor”, destacou.

O antigo central abordou ainda a sua característica calma olímpica, em contraste com alguns colegas. “Eu era tranquilo, mas lembro-me de alguns jogadores mais exaltados. Havia por exemplo o Mozer e o Álvaro Magalhães, que uma vez me perguntou como é que eu conseguia ficar tão calmo”.

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André Cruz Martins

05-12-2018



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