Edmilson: “Não negava que saía à noite, mas dizia sempre: ‘olhem para os meus números'”

Edmilson: “Não negava que saía à noite, mas dizia sempre: ‘olhem para os meus números'”

Desporto

Edmilson: “Não negava que saía à noite, mas dizia sempre: ‘olhem para os meus números'”

Lembra-se de Edmilson, avançado brasileiro que jogou com grande sucesso no FC Porto e Sporting? Ele está de regresso a Portugal, para ser o coordenador técnico do modesto Nazarenos.

Artigo de André Cruz Martins

31-05-2018

Edmilson, antigo avançado do FC Porto e do Sporting, está de volta ao futebol português, para assumir o cargo de coordenador técnico do Nazarenos, da I Divisão da AF Leiria. O clube é gerido pela empresa de agenciamento de jogadores PBF, presidida por Mauriti Cardoso, e Edmilson respondeu afirmativamente ao convite, chegando a Portugal no próximo sábado, sendo posteriormente apresentado oficialmente. Antecipámo-nos e conversámos com o ex-futebolista, que aborda este novo projeto e recorda os momentos mais marcantes da sua carreira como futebolista em Portugal.

Como surgiu esta possibilidade de vir trabalhar para o Nazarenos?
Fiquei muito surpreendido com o convite, mas apaixonei-me pelo projeto, que me foi apresentado pelo Mauriti. Vou levar comigo o Laécio, que está comigo desde os tempos em que jogava no Salgueiros e que vai ser diretor. Não tive dúvidas em aceitar depois de ver a estrutura do clube e a dimensão a cidade.

Qual vai ser a sua função?
Vou ser o coordenador técnico, fazendo a ligação entre a direção, a comissão técnica e os jogadores. No fundo, vou ser o elo de ligação entre todo o clube e avisei logo o Mauriti: ‘cara, sempre fui um vencedor em todos os clubes por onde passei e agora não vai ser diferente. Com a estrutura que o clube tem e a cidade onde estamos inseridos não é possível estarmos na distrital’.

Qual é o grande objetivo do clube para os próximos anos?
Certamente chegar aos campeonatos profissionais, ou seja, à II Liga. Eu sempre penso alto, nunca penso pequeno. Já quando jogava em equipas pequenas pensava alto. Outro dos nossos grandes objetivos será reforçar os clubes grandes com os nossos jogadores.

Tem saudades de Portugal, nomeadamente do FC Porto e do Sporting, os maiores clubes que representou no país?
Sem dúvida, tenho grandes recordações desses clubes fantásticos. Fui duas vezes campeão nacional pelo FC Porto e uma pelo Sporting, quando quebrámos o jejum de 18 anos sem ser campeão nacional. Levo no coração esses clubes para todos os locais para onde vou, como também levo o Nacional, onde comecei em Portugal, o Salgueiros, onde me dei verdadeiramente a conhecer, o Portimonense e o Guilhabreu, que representei já veterano.

“A bola procurava o Jardel. Ele dizia-me: ‘Edi, você nem olha para a área. Cruza que eu chego lá’”

Qual dos três títulos de campeão nacional foi o mais saboroso?
Tenho de escolher o do Sporting, pois quando se está há muito tempo sem ganhar, tem outro sabor. E eram já 18 anos de jejum. Lembro-me como se fosse hoje: o jogo da última jornada foi em Vidal Pinheiro, um campo que eu conhecia muito bem, por ter representado o Salgueiros. Ganhámos por 4-0 e depois seguiu-se uma caravana dos adeptos na autoestrada, até chegarmos já de madrugada ao velhinho Estádio José Alvalade, onde tínhamos 80 mil pessoas à nossa espera. Foi uma festa linda. Mas atenção, os dois títulos no FC Porto também foram muito importantes para mim. Conquistei o bi e o tri na caminhada do pentacampeonato e nunca esquecerei essas conquistas.

Qual o melhor ponta de lança com que jogou?
O Domingos era muito bom, mas o melhor foi o Jardel, com quem joguei no FC Porto. A bola procurava o Jardel, era incrível. Ele só me dizia: “Edi, você nem olha para a área. Cruza que eu chego lá”. E a verdade é que a bola lá chegava e ele marcava golos como ninguém.

“Não foi fácil separar aqueles dois brutamontes” [Schmeichel e André Cruz]

E no Sporting, qual foi o melhor jogador com quem se cruzou?
Não é possível escolher apenas um. O Pedro Barbosa era um craque, havia o Rui Jorge, o André Cruz, o Schmeichel, o Acosta, o João Pinto… era um plantel fortíssimo.

Confirma que no intervalo de um jogo entre o Salgueiros e o Sporting o André Cruz e o Peter Schmeichel pegaram-se e a situação esteve muito feia?
Eu não devia falar disso, estava a guardar esse episódio para o livro que estou a escrever sobre a minha carreira. Mas sim, confirmo, foi ao intervalo de um jogo que ganhámos por 5-2 em Vidal Pinheiro, eles estavam a discutir por causa de um lance de jogo. Não foi fácil separar aqueles dois brutamontes, mas tudo se resolveu e ambos voltaram para a segunda parte.

Qual foi o colega mais brincalhão que encontrou?
O Jardel, que era o mais burro (risos). Estou a brincar, claro, o que mais destaco nele é o facto de ser fantástico como pessoa. Mas sem dúvida que ele fazia rir todo o balneário. Histórias que se passaram com ele? Olha, no dia em que ele chegou a Portugal, fui almoçar com ele e com o Domingos Pereira [antigo funcionário do FC Porto]. Quando estávamos a ir para o restaurante na zona da Foz, onde íamos comer uns “preguinhos”, um camião quase amassou o nosso carro. Foi demais ver a cara do Jardel assustado.

“Não é todos os dias que se ganha por 5-0 em casa do grande rival”, diz Edmilson

A vitória do FC Porto por 5-0 na Luz, para a Supertaça, foi o seu jogo mais marcante em Portugal?
Não foi a minha melhor exibição, tive alguns jogos em que fiz “hat-tricks” e nesse da Luz só marquei um golo. Mas claro, não é todos os dias que se ganha por 5-0 em casa do grande rival e foi um jogo que ficou marcado na minha memória para sempre.

Quais os treinadores que mais o marcaram?
Nos primeiros anos, posso falar no José Rachão e no Rolão Preto, no Nacional e do Mário Reis, no Salgueiros, quando fui o terceiro melhor marcador da I Liga, com 15 golos. No FC Porto o Bobby Robson, o Mourinho, que era seu adjunto e já se destacava, o [Joaquim] Teixeira, que também era adjunto. E como se chamava aquele que foi um grande jogador do FC Porto e do Sporting?

Augusto Inácio?
Não.

António Oliveira?
Isso, isso. Grande treinador, apesar dele me ter afastado por uns tempos do grupo, porque fui assistir a uma passagem de modelos com o Fernando Mendes, cheguei atrasado ao treino e ele não gostou.

“Fui assistir a uma passagem de modelos com o Fernando Mendes e cheguei atrasado ao treino”

Confirma que gostava de sair à noite?
Não negava que adorava sair à noite, mas dizia sempre: ‘olhem para os meus números’. Como coordenador técnico vou ser igual, ou seja, estarei em cima de quem sair à noite e depois não render dentro de campo.

Teve conhecimento das agressões aos jogadores do Sporting em Alcochete?
Sim, fiquei chocado, uma instituição tão grande como o Sporting não deveria passar por uma situação destas. E os jogadores e a comissão técnica não mereciam passar por isto. Quero aproveitar para elogiar o Jorge Jesus, que considero um dos melhores treinadores portugueses desde que treinava o Felgueiras. Espero que todos no Sporting ultrapassem este grave problema.

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André Cruz Martins

31-05-2018



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