Neil Warnock, o Vítor Oliveira inglês que deixou Nuno Espírito Santo de mão estendida

Neil Warnock, o Vítor Oliveira inglês que deixou Nuno Espírito Santo de mão estendida

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Neil Warnock, o Vítor Oliveira inglês que deixou Nuno Espírito Santo de mão estendida

É o rei das subidas no futebol inglês e acaba de promover o Cardiff City à Premier League. Mas ao contrário do português, que raras vezes se mete em confusões, não se cansa de comprar guerras com os seus colegas treinadores. Nuno foi o último.

Artigo de André Cruz Martins

08-05-2018

Quatro anos depois, o Cardiff City está de regresso à Premier League, juntando-se, para já, ao “meio português” Wolverhampton nas equipas que conseguiram a promoção direta para o mais mediático campeonato do futebol mundial. Para conseguir este feito, bastou à equipa do País de Gales um empate diante do Reading de Tiago Ilori, na última jornada do Championship, para terminar com mais dois pontos do que o terceiro classificado, o Fulham.

Ao promover o Cardiff City, Neil Warnock tornou-se o recordista de subidas no futebol inglês, somando oito nos vários escalões, sendo esta a terceira à Premier League, depois de Sheffield United em 2005/06 e do Queens Park Rangers em 2010/11. Números que fazem lembrar Vítor Oliveira, que subiu dez equipas em Portugal, embora no seu caso, todas ao escalão maior.

De acordo com a generalidade da imprensa britânica, a promoção direta do Cardiff City constituiu uma surpresa e mesmo um lugar final até ao sexto posto – o último que dava acesso à disputa do “play-off” – parecia muito ambicioso, face à concorrência de clubes com outros argumentos financeiros, com destaque para Wolverhampton, Middlesbrough, Aston Villa e Fulham.

Neil chegou ao Cardiff City durante a época de 2016/17, com o objetivo de evitar a despromoção e conseguiu-o, ao terminar em 12º lugar. Isto num contexto pessoal muito doloroso, pois poucos meses antes fora diagnosticado cancro na mama à sua mulher, que já padecia de um linfedema, uma condição crónica e incurável que causa inchaço nos braços e pernas.

O plantel não parecia estar ao nível dos grandes candidatos à subida

Para esta temporada não havia o objetivo declarado de subida, embora fosse algo que era admitido pela administração e pelo próprio treinador, mas sempre correndo por fora. O plantel não parecia estar ao nível dos grandes candidatos à subida, mas a verdade é que o trabalho tático e a nível mental do treinador fez “milagres”. Junior Hoilett e Sol Bamba revelaram-se dois achados e chegaram a custo zero, Sean Morrison fora dispensado pelo Reading há quatro anos e Nathaniel Mendez-Laing foi adquirido ao modesto Rochdale. Já o guarda-redes Neil Etheridge chegou do Walsall.

Warnock conseguiu criar um espírito de grupo inquebrantável e construiu uma equipa assente numa grande segurança defensiva, como se comprova pelos 39 golos sofridos em 46 jornadas, números bastante interessantes para o competitivo segundo escalão britânico e que só foram igualados pelo campeão Wolverhampton.

A ver vamos se desta vez uma equipa treinada por este veterano vai ter uma presença no escalão principal de maior sucesso, pois com o Sheffield não evitou a descida de divisão logo na primeira época, enquanto com o Queens Park Rangers salvou-se à justa, ao ser a primeira formação acima da linha de água. Tido como um treinador muito exigente, não poupa os jogadores quando estes não cumprem com o plano estabelecido. Observe-se a “bronca” que em 2004 deu a Chris Morgan, defesa do Sheffield United.

As polémicas com colegas treinadores

À parte o excelente trabalho que tem desenvolvido em clubes de escalões inferiores, Neil Warnock tem-se notabilizado por algumas polémicas, a última com Nuno Espírito Santo, que recusou cumprimentar após o derradeiro encontro entre Wolverhampton e o Cardiff City, ganho pela equipa do português, por 1-0. Após o apito final, o técnico inglês de 69 anos repetia, aos berros e de forma claramente percetível na televisão “fuck of, fuck of”.

O Wolverhampton vencia por 1-0, golo apontado por Rúben Neves, quando o Cardiff beneficiou de duas grandes penalidades, em pleno período de descontos, tendo falhado ambas, o que foi efusivamente festejado por Nuno Espírito Santo, que começou a correr pelo relvado, depois do segundo penálti não concretizado. Refira-se que esse resultado foi muito importante na caminhada dos “Wolves” até ao primeiro lugar final, pois na altura permitiu-lhes aumentar de seis para nove pontos a diferença face ao segundo classificado, precisamente o Cardiff City.

“O Nuno é uma desgraça, não tem classe e tem de aprender que no futebol inglês há maneiras e classe quando se ganha um jogo. Usei palavras fortes contra ele e não estou minimamente arrependido”, referiu, após a partida. Quem não parece ter ficado muito incomodado com as críticas foi o antigo técnico do FC Porto: “O que as pessoas pensam não me distrai porque o meu foco é apenas o jogo frente ao Derby”. Nuno mostrou intenção de ir ao gabinete de Warnock pedir desculpas ao seu homólogo, algo que foi recusado. “Não irei para o meu gabinete até ele ir-se embora. Estou muito desapontado com ele”, referiu.

“O Nuno é uma desgraça e não tem classe”, disse Neil Warnock

Em fevereiro último, Neil Warnock criticou Pep Guardiola. “Ele ataca toda a gente quando as coisas não correm bem. Os intocáveis levam sempre a sua avante perante a Federação Inglesa. Se eu tivesse feito o mesmo, tinham-me sancionado”, referiu, a propósito do espanhol se ter “pegado” ao intervalo com Paul Cook, treinador do Wigan, no túnel de acesso aos balneários. Refira-se que o Manchester City acabou por perder esse jogo e foi eliminado nos oitavos de final da Taça de Inglaterra.

Já em 2006/07, os alvos foram Alex Ferguson, que treinava o Manchester United e Rafa Benítez, que orientava o Liverpool FC. Tudo porque o Sheffield United desceu de divisão na última jornada da Premier League, depois do West Ham e do Fulham, dois rivais diretos, terem batido “red devils” e “reds”, respetivamente.

“Isto não se faz, fiquei desapontado com Sir Alex e com Rafa Benítez, mas este é um técnico estrangeiro e nem deve saber o que o Sheffield United representa no futebol inglês. Mas cá se fazem cá se pagam. Se calhar o Chelsea vai ganhar a final da Taça de Inglaterra [que disputaria poucos dias depois com o Manchester United] e o AC Milan a Champions [que jogaria poucos dias depois com o Liverpool FC]”, referiu. Anos mais tarde revelou que nunca iria perdoar a Benítez. “A final da Champions era 18 dias depois daquele jogo com o Fulham e nem se pode dizer que ele tenha jogado com uma equipa de reservas, foi ainda pior do que isso”, sublinhou.

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André Cruz Martins

08-05-2018



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