Já andava a ameaçar mas só agora é que Mário Rui se estreou em convocatórias da seleção nacional, tendo em vista os jogos particulares com o Egito e com a Holanda, a 23 e 26 de março, respetivamente. O defesa esquerdo aproveitou a dispensa de Fábio Coentrão, devido a problemas físicos e substituiu-o no lote de convocados.
Pouco conhecido em Portugal, uma vez que joga em Itália desde os 20 anos, Fernando Santos não ficou indiferente à boa temporada que o defesa de 26 anos tem realizado no Nápoles, equipa que esta temporada discute palmo a palmo com a Juventus o título de campeão italiano (está sem segundo lugar, a dois pontos da «Vechia Signora»]. Titular indiscutível desde o início de dezembro, já cumpriu 24 jogos e marcou dois golos, tendo ainda realizado três assistências.
Mário Rui estava a passar um curto período de três dias de férias em Roma, concedidas pelo seu treinador Maurizio Sarri, quando lhe telefonaram da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) a avisar que tinha sido convocado. “No início foi um choque, porque não estava nada à espera, mas agora já caí em mim. Decidi passear um bocadinho em família, viemos até Roma passar estes dias. Agora estou a tratar de tudo e viajo amanhã de manhã com a família para Portugal”, confessou na última segunda-feira ao site Maisfutebol, acrescentando: “Sinceramente, ser chamado nesta altura foi surpreendente para mim. A convocatória já tinha saído e eu não estava nela. Tive a felicidade de ser chamado agora, infelizmente por causa de um colega que se lesionou, mas são coisas que fazem parte. Estou muito feliz”.
“Sines era muito benfiquista e eu gostava de ir contra a corrente porque era do contra, só para chatear.”
Curiosamente, em entrevista concedida ao Diário de Notícias no fim de janeiro, não mostrava grande esperança em estar presente no Campeonato do Mundo da Rússia. “Sinceramente não espero, porque até hoje nunca fiz parte do lote de jogadores mais vezes convocado, por isso penso que seja muito difícil numa altura destas. O Guerreiro já esteve, e bem, no Europeu, o Fábio Coentrão está a voltar aos níveis a que nos habituou, por isso a escolha deve passar por eles os dois. E nos últimos jogos também foi chamado o Antunes, que esteve muito bem. Penso que o lado esquerdo da defesa da seleção está bem preenchido”, reconheceu.
Lembre-se que Mário Rui tem vasta experiência nas seleções jovens e foi vice-campeão do mundo de sub-20 em 2011, na Colômbia, prova em que participou em cinco encontros e marcou um golo.´
Começou a jogar futebol aos 8 anos no Vasco da Gama de Sines e foi para o Sporting aos 11, onde se manteve até ao segundo ano de juvenil, mudando-se no primeiro ano de júnior para os espanhóis do Valência, que representou apenas meio ano, regressando não para o Sporting, mas para o rival Benfica, onde esteve uma época e meia do escalão de júnior. Em entrevista concedida ao Maisfutebol em fevereiro de 2015, reconheceu que saiu do Sporting devido a mau comportamento. “Comecei a ter muitos problemas. Muitos por culpa minha, não aproveitei o que me deram. Sempre foram impecáveis comigo e eu não tive, durante um período, o melhor comportamento. Devido a esses problemas, surgiu a possibilidade de ir para Valência. Estava a render menos porque andava com alguns problemas na vida privada”, revelou.
Na primeira temporada como sénior o Benfica emprestou-o ao Fátima, da II Liga e logo depois terminou contrato com os encarnados, rumando ao Parma, que o cedeu primeiro ao Gubbio 1910 e depois ao Spezia, ambos do segundo escalão italiano. Foi em 2013/14 que os portugueses começaram a estar mais atentos à sua evolução, quando, novamente emprestado pelo Parma, fez uma boa época no Empoli, com 26 jogos realizados na Série B, clube que pelo qual assinou em definitivo, depois do Parma não se ter mostrado interessado na renovação.
“Quando o conheci no Empoli, eu só queria correr e fazer cruzamentos”
Logo nessa primeira época, o Empoli, orientado por Maurizzio Sarri, conseguiu subir à Série A, com Mário Rui a reconhecer grande importância do seu atual treinador no Nápoles na sua evolução, essencialmente por ter melhorado bastante a sua forma de defender. “Quando o conheci no Empoli, eu só queria correr e fazer cruzamentos. Ele avisou-me que tinha que melhorar a fase defensiva e com ele evoluí nesse aspeto, inclusivamente no jogo aéreo. É verdade que sou baixo [1,70 metros], mas explicou-me que podia ganhar as bolas de cabeça se me posicionasse melhor do que os adversários e jogando na antecipação”.
As excelentes prestações no Empoli levaram a AS Roma a adquiri-lo, mas não foi feliz nos “giallorossi”, pelos quais fez apenas nove partidas em 2016/17. Quem aproveitou foi Maurizzio Sarri, que o levou para o Nápoles no início desta época, por empréstimo, e certamente não está arrependido. Entretanto, o português já é jogador dos napolitanos a título definitivo, depois de ter sido exercida a cláusula de compra obrigatória à AS Roma, a partir do momento em que atingiu um determinado número de jogos no seu atual clube, que pagou mais 5,5 milhões de euros, para além dos 3,75 milhões liquidados anteriormente pelo empréstimo. No total, o investimento foi de 9,25 milhões de euros, soma bastante apreciável para um defesa lateral.
Na entrevista que concedeu ao «Diário de Notícias», garantiu que até hoje não recebeu qualquer proposta para regressar a Portugal e confessou o seu sportinguismo, pelo menos quando era pequeno. “Digamos que a minha cidade, Sines, era muito benfiquista e eu gostava de ir contra a corrente porque era do contra, só para chatear”, referiu, embora garanta que não tem preferência entre leões e águias num eventual regresso a Portugal. “Sinceramente não, estive no Sporting e no Benfica e ambos foram muito importantes no meu crescimento. Por mais estranho que possa parecer, porque são clubes rivais, tenho carinho pelos dois. Mas entre os três grandes, e apesar do que disse, o que pesaria mais seria sobretudo o projeto e o interesse demonstrado em mim, afinal não é todos os dias que um grande do futebol português revela interesse num jogador”, afirmou.