Flávio Donizete está de volta ao futebol depois de ter destruído a carreira por causa da cocaína

Flávio Donizete está de volta ao futebol depois de ter destruído a carreira por causa da cocaína

Desporto

Flávio Donizete está de volta ao futebol depois de ter destruído a carreira por causa da cocaína

Defesa brasileiro assume que não pode ter dinheiro na carteira e que chegou a deixar as filhas passarem fome para comprar droga.

Artigo de Bruno Seruca

01-03-2019

Está longe de ser um dos grandes fenómenos do futebol brasileiro. Ainda assim, sagrou-se Campeão do Mundo de clubes, conquistou a Taça dos Libertadores e foi campeão do Paulistão. Tudo isto ao serviço do São Paulo, clube onde Flávio Donizete sempre jogou. Visto como um defesa rápido e de qualidade, o jogador brasileiro, hoje com 35 anos, só não conseguiu parar o vício da droga, que de destruiu a carreira.

 

Veja ainda: Em jornada com clássico, arrisque ganhar 540€ com esta aposta múltipla

 

 

Agora, Flávio Donizete tenta regressar ao futebol. A Portuguesa dos Desportos abriu-lhe as portas e é neste clube brasileiro que tem treinado e participado em jogos treino. Limpo há seis meses, o jogador recordou, em entrevista ao site UOL, o inferno por que passou ao longo de sete anos de vício. E que teve início durante uma férias em 2009.

“Houve alturas em que não passava um dia sem usar cocaína”

Nesta altura, Flávio Donizete tinha acabado contrato com o São Paulo e decidiu gozar férias antes de escolher o clube onde iria dar continuidade à carreira. Os relvados deram lugar a festas e a muitos excessos, como o álcool e a droga, que experimentou incentivado por “amigos”. “Eles disseram-me ‘cheira’!’ Eu cheirei e naquele momento o efeito da bebida passou. ‘O que é isto?’. Toda as vezes que saía, dizia: ‘hoje posso beber até à hora que quiser porque, quando usar cocaína vai passar o efeito. Vamos lá buscar!’”, recorda.

A experiência ocasional transformou-se em algo bastante frequente na vida do jogador. “Não parava em casa, era só festas e bebidas alcoólicas. Houve alturas em que não passava um dia sem usar cocaína”, conta. O vício acabou por fazer com que o futebol ficasse para segundo plano, até porque Flávio Donizete temia ser apanhado num controlo antidoping. “Comecei a engordar por causa da bebida, lesionei-me num joelho e não conseguia correr. Tudo junto com a cocaína. Então disse ‘acabou’. Larguei de vez de futebol.”, refere.

“Às vezes as minhas filhas ficavam sem comer”

Com o adeus ao futebol chegou também a despedida da vida de luxo que tinha com a família. E o dinheiro, cada vez menos, era todo canalizado para a cocaína. “Era droga todo dia. Quando estava sozinho, tentava manipular, enganar, roubar e omitir. Fazia de tudo para conseguir a substância. A qualquer preço. Independentemente de prejudicar alguém ou não. Queria droga e conseguia a droga”, relembra.

O vício já era tão forte que Flávio Donizete chegou a prejudicar a família. “Se conseguisse 15 reais [aproximadamente 4 euros] e não tivesse nada para comer, não pensava em trazer o dinheiro para casa. A primeira coisa era a cocaína. Às vezes as minhas filhas ficavam sem comer. Eu conseguia uns 20 reais, gastava 5 em ovos e o resto em cocaína. Às vezes, nem trazia os ovos. Deixava-as comer arroz e feijão puro, mas a minha droga não faltava”, conta.

“As pessoas acusavam, apontavam-me o dedo dizendo que era um vagabundo”

Ainda assim, o jogador assume que também tinha momentos de arrependimento. “Depois vinha o sentimento de culpa por estar desempregado, sem dinheiro. As pessoas acusavam, apontavam-me o dedo dizendo que era um vagabundo, um safado. Os amigos e a família começaram a afastar-se. Você já começa a sentir-se menosprezado. Achava injusto, mas a verdade é que não era”, assume.

E se hoje está recuperado, Donizete tem de agradecer a Cibele, a mulher com que está há 15 anos e que nunca o abandonou. “É meu anjo da guarda. Acho que é amor demais. Hoje consigo ver isso. Amo-a muito. Posso fazer muitas outras coisas por ela, mas nunca vou conseguir retribuir o que fez por mim. Não há como pagar isso. Às vezes, ela ‘briga’ comigo. Eu olho para ela e rio-me: ‘Amo-te, realmente amo-te’. Lembro-me de tudo o que ela viveu no passado para me ter. Se a Cibele me abandonasse hoje, procuraria droga na primeira esquina. Se ela não estivesse comigo, já teria atirado tudo ao ar.”, desabafa.

“Não ando com dinheiro”

Flávio Donizete assume ainda que passou a andar sem dinheiro e que é Cibele quem faz a gestão financeira da família. “Não ando com dinheiro. Nunca. Se estiver sozinho e tiver 10 reais na carteira, sei que vou atrás da droga. Já aconteceu ter uns 20 reais e ficar a pensar. A minha mulher percebeu e disse: ‘A partir de hoje você não anda mais com dinheiro na carteira’. Há momentos que tenho muita vontade de usar drogas. A minha mulher fica ‘colada’ a mim 24 horas por dia. Se vou à casa de banho, se for à rua colocar o lixo, ela está atrás de mim. Onde quer que eu vá. Sem esse suporte, a minha queda seria certa”, conta.

O jogador brasileiro explica ainda que não é fácil viver afastado da cocaína. “A cabeça de um viciado, de um dependente químico, não para. Estou a conseguir, mas não é fácil. É um leão. Dois leões. Três leões por dia. A droga causou-me tantos estragos e prejudicou-me tanto que hoje tenho medo de andar sozinho”, refere. “Evito lugares, pessoas e ambientes. Hoje não posso beber um copo de cerveja porque aciona um gatilho. O corpo pede a droga. Quando bebo um copo, automaticamente dá-me vontade de usar drogas. Já vivi essa experiência: ‘não posso usar cocaína, mas posso beber uma cerveja’. Bebi um copo de cerveja e a primeira coisa que eu fiz foi gastar 50 reais em droga. Hoje, já me policio”, acrescenta.

“Estou a encarar isto [regresso ao futebol] como a oportunidade da minha vida”

Flávio Donizete tenta recuperar o tempo perdido com uma nova oportunidade no mundo do futebol. O jogador quer perder três quilos para recuperar a velocidade que era uma das suas imagens de marca. Se tudo correr bem, em breve deverá estrear-se pela Portuguesa. “Estou a encarar isto como a oportunidade da minha vida, a oportunidade única de voltar. De realizar um sonho que para mim tinha sido perdido há algum tempo. É aquele sonho de criança de poder jogar que toma conta do meu coração. Quando entro no campo, lembro-me do começo, do sofrimento que foi de chegar a um clube de grande expressão. Preciso disso para me manter feliz e me manter limpo. Com a cabeça boa. Acho que o futebol está a ajudar-me bastante com relação a isso”, conclui.

Fotos: Reprodução Instagram

Siga o ParaEles no Instagram
Instagram @paraelesofficial

Siga o ParaEles no Instagram
Instagram @paraelesofficial

Artigo de
Bruno Seruca

01-03-2019



RELACIONADOS