Se no início da temporada dissessem aos adeptos do Fortaleza Esporte Clube que a sua equipa estaria por esta altura a liderar a Série B do campeonato brasileiro, possivelmente nem os mais otimistas admitiriam esse cenário. No entanto, decorridas 18 jornadas, é isso mesmo que está a acontecer e o grande responsável parece ser o treinador Rogério Ceni, o ex-histórico guarda-redes goleador do São Paulo FC e que somou 1257 jogos ao serviço de clubes, com 131 golos marcados, muitos deles de livre direto.
Recém-promovido da Série C, o objetivo assumido para esta temporada era apenas a manutenção no segundo escalão. Adicionalmente, a direção apostou em Rogério Ceni para treinador, de modo a atrair maior exposição mediática, num ano em que o clube festeja o seu centenário. E só com o estádio cheio e com maiores receitas de patrocínio seria possível pagar o alto salário do técnico.
Ceni avisa que as contas fazem-se no fim
E a verdade é que as melhores expetativas estão a ser superadas. A equipa lidera o campeonato, com três pontos de avanço sobre o CSA e seis sobre o Figueirense e inclusivamente, conseguiu o melhor arranque de sempre desde que em 2003 a Série B passou a ser jogada no sistema de todos contra todos e pontos corridos, ao somar sete vitórias e um empate nos oito primeiros encontros. Os adeptos estão nas nuvens, enchem o estádio – o número de sócios aumentou de 7500 para 19 mil em pouco mais de meio ano – e os patrocinadores que entretanto se juntaram permitem pagar o ordenado de Ceni e da sua equipa técnica.
“Ninguém no Brasil imagina ganhar sete em oito jogos, como nós fizemos. Talvez em Inglaterra ou Espanha alguém imagine, mas aqui não. No entanto, a história fala de quem vence e conquista os objetivos no final e o que vai contar é quando nós no final subirmos à Série A”, avisa Rogério Ceni.
Rogério Ceni é maníaco do trabalho
Entretanto, em entrevista à revista “Veja”, esta lenda do futebol brasileiro confessou que nem tudo são rosas, destacando algumas dificuldades logísticas. “O tempo que o Fortaleza passou na Série C explica essa estrutura inferior ao que eu esperava, embora as coisas estejam a ser feitas. Já temos uma nova academia e um campo de treinos em construção”, frisou.
O antigo internacional brasileiro explicou como é o seu dia-a-dia. “A minha diversão é o trabalho. Chego por volta de 13h30, 14h00, todos os dias e vou embora por volta das 20h30, 21h, isto além do trabalho em casa. Desenho treinos todos os dias, trago tudo programado para executar de acordo com a nossa preparação e do adversário que a vamos enfrentar. Tenho um prazer muito grande em trabalhar”, confessou.
Primeira experiência de treinador correu-lhe mal
Esta é a segunda época de Rogério Ceni como treinador e curiosamente, a sua estreia, ao serviço do São Paulo FC, não correu nada bem, tendo estado sempre em lugares perto de descida à Série B. Sem surpresa, seis meses depois da sua contratação, foi demitido pelo presidente Carlos Augusto de Barros e Silva. “É claro que não queria ter saído e gostaria de ter concluído o trabalho. No entanto, só tenho a agradecer à instituição e não tenho mágoa alguma”, garantiu.
Depois de ter terminado a carreira de futebolista no São Paulo FC em 2015, Rogério Ceni não perdeu tempo e foi tirar o curso de treinador em Inglaterra. Fez estágios em vários clubes da Velha Albion e passou uma semana com Jorge Sampaoli, quando este orientava o Sevilha FC. Em dezembro de 2016 chegou ao cargo de treinador do São Paulo FC, onde como já referimos não foi feliz.
O ex-guardião reconhece que é um treinador diferente hoje em dia e que tem aprendido bastante nos últimos tempos. “As coisas mudam a cada dia que passa, com novos treinos e com pessoas diferentes. A repetição é fundamental. Assim como o atleta que treina faltas muitas vezes, a tendência é que melhore. Como treinador também, a cada dia adquiro novas experiências. Quando comecei, sabia menos do que sei hoje, o que é natural, mas preparei-me bastante”, sublinha.
Marcelo Boeck quer ser o Ceni de Fortaleza
O médio Nenê Bonilha, que passou pelo Nacional e V. Setúbal, faz parte do plantel desta equipa-sensação do futebol brasileiro. E o guarda-redes titular é nem mais nem menos do que Marcelo Boeck. Hoje em dia com 33 anos, o antigo “eterno suplente” de Rui Patrício – fez apenas 30 encontros em quatro épocas e meia no Sporting, dos quais apenas quatro no campeonato – tem-se exibido em alto nível no seu país natal e só sofreu 11 golos em 15 jogos na Série B.
No clube desde o início de 2017, desde logo se assumiu como um dos ídolos dos adeptos e confessa que quer deixar um legado. “Quero jogar mais cinco anos e o meu projeto é batalhar todos os dias por um Fortaleza forte. Com as devidas proporções, quero atingir algo parecido com o que Ceni no São Paulo, ou seja, que haja um Fortaleza antes e depois do Boeck. Esse é o meu maior sonho e propósito dentro do clube”, afirmou.
Marcelo Boeck só tem elogios para o seu técnico. “A contratação do Rogério foi boa para todo o mundo. Ele exige muito da própria comissão técnica e dos jogadores. Tem a cabeça evoluída e isso ajuda-nos a ser mais profissionais e a ter um comprometimento ainda melhor. Ele não aceita a derrota de jeito nenhum e isso é fundamental para o comportamento da nossa equipa dentro de campo”, frisou.
O ex-leão foi figura importantíssima na campanha de sucesso que culminou na subida ao segundo escalão e não escondeu a emoção quando esse objetivo foi atingido.