O ponta de lança argentino Mauro Zárate não é por estes dias uma das pessoas mais populares em Liniers, Buenos Aires. Tudo porque acaba de trocar o Vélez Sarsfield, o clube mais representativo desse bairro, pelo Boca Juniors. Há poucos meses, tinha regressado ao Vélez, por empréstimo do Watford e com excelente rendimento (sete golos em 12 jogos) e, quando já estava tudo certo para a sua renovação com o clube argentino, surgiu a “bomba”: decidiu rumar ao rival Boca.
Os “hinchas” do Vélez ficaram furiosos a até queimaram camisolas do jogador. O próprio irmão, Rolando, ex-futebolista, lançou-lhe também ferozes críticas. “O Mauro apunhalou-me pelas costas e estou destruído. Ele traiu toda a história de 40 anos que a nossa família tem com o Vélez. Só me apetece chorar. Nascemos no Vélez, crescemos no Vélez e o nosso pai trabalhou aqui durante quarenta anos”, referiu.
Uma traição que destruiu 40 anos de ligação ao Vélez
Uma opinião bastante curiosa, se nos lembrarmos que Rolando, antigo futebolista do Real Madrid, também jogou no River Plate, outro dos rivais do Vélez. Refira-se que Zarate tem outro irmão, chamado Sergio, que também foi futebolista profissional, tendo representado clubes como o Vélez, o Hamburgo SV, o AC Ancona e o América, do México. Os seus manos foram internacionais A pela Argentina, algo que ele próprio nunca conseguiu. Zárate, atualmente com 31 anos, jogou apenas pelas seleções jovens do país das pampas, tendo sido campeão do mundo de sub-20 em 2007.
Em 2014 até se mostrou disponível para representar a seleção chilena (tem descendência deste país por parte do pai), mas poucos meses depois mudou de ideias e disse que só jogaria pela Argentina. “Jorge Sampaoli [selecionador do Chile na altura] falou comigo alguns meses antes do Mundial e garantiu-me que me iria convocar para essa prova. Pediu-me um tempo para pensar, mas decidi responder negativamente. Sinto-me argentino e não seria fácil jogar por outro país”, confessou.
Ameaça de bomba fechou colégio da filha
O mítico Chilavert, antigo guarda-redes paraguaio e uma das grandes figuras da história do Vélez, também criticou Zárate. “O Vélez tem jogadores melhores do que o Mauro. Mauro, tu não ganhaste nada. Vamos apoiar Heinze e os jogadores que amam o Vélez”, escreveu no Twitter.
E o próprio presidente do Vélez “atirou-se” a Mauro Zárate. “Ele disse-me que foi para o Boca porque lhe prometeram a seleção. Tínhamos tudo certo para a renovação, mas entretanto começaram as dúvidas, precisamente quando alguém da seleção lhe fez essa promessa. Mas não deixou de ser uma enorme traição ao Vélez”, considerou Sergio Rapisarda.
No entanto, o pior foi mesmo a revelação que Natalie Webber, mulher de Mauro, fez a um programa de televisão argentino. “Recebi ameaças nas redes sociais dizendo que me iam matar, ao Mauro e aos nossos filhos. As pessoas não entendem que isto é apenas um trabalho”, lamentou. E até o colégio onde estuda a filha do casal Zarate teve de ser encerrado, devido a uma ameaça de bomba.Todos estes problemas não anularam o negócio e Zárate já realizou exames médicos ao serviço do Boca Juniors. À saída da clínica, foi insultado por adeptos do Vélez, que o acusaram de ser um traidor.
Zárate pediu desculpa aos adeptos do Vélez
Em entrevista ao canal argentino “TyC Sports” na qual as lágrimas lhe escorreram frequentemente pela cara, o próprio Mauro Zárate reconheceu que não geriu bem este processo. “Aceito que errei e peço desculpa aos adeptos do Vélez. Não pensei que isto chegasse tão longe, mas escolhi este caminho e defraudar todos os adeptos do Vélez, que tanto carinho me deram”, referiu, lamentando ainda ter desiludido os seus ex-companheiros na formação de Liniers.
Na mesma entrevista, garantiu não ter qualquer promessa de que irá ser convocado para a seleção argentina por se ter mudado para o Boca e aproveitou para garantir que não perdeu o amor pelo Vélez. “É duro deixar de ser um ídolo no clube do qual sou adepto, mas quando tudo isto tiver terminado, vou ser mais um ‘hincha’ e irei ao estádio ver o Vélez”, garantiu. Quanto às críticas de que foi alvo dos próprios irmãos, limitou-se a dizer que “eles lá sabem o que dizem”.
Ainda assim, garante total empenho ao serviço do novo clube. “Ir para o Boca é um lindo desafio e seguramente vou aproveitá-lo ao máximo. Nunca tive tanta vontade de fazer as coisas bem como agora”, frisou. Entretanto, poucos minutos depois de Mauro Zárate ter dito que iria ver os jogos ao estádio como adepto do Vélez, surgiu a resposta, com uma inscrição nas paredes do estádio onde anteriormente estava uma fotografia gigante do próprio avançado a beijar a camisola do clube a apelar aos adeptos que se fizessem sócios: “Esquece que saíste daqui, pois nunca mais irás voltar”. Os próximos dias prometem continuar a ser bem quentes e já se fazem apostas na Argentina para as ações que os adeptos do Vélez vão preparar quando Mauro voltar à antiga casa ao serviço do Boca.
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