O treinador português Toni é um profundo conhecedor do futebol iraniano, sendo a pessoa indicada para nos falar do adversário de Portugal desta segunda-feira, na terceira e última jornada da fase de grupos do Campeonato do Mundo.
O técnico, que trabalhou quatro épocas nos iranianos do Tractor Club, alerta para a excelente organização defensiva do nosso rival e para a rapidez dos avançados Sardar Azmoun, que joga no Rubin Kazan, e Karim Ansarifard, do Olympiacos. Toni elogia o trabalho efetuado por Carlos Queiroz e está à espera de dificuldades, mas acredita que os jogadores portugueses vão mostrar a sua superior qualidade.
Toni revela-nos ainda que deverá continuar ao serviço do Kazma, do Kuwait, e aborda a sua vida de emigrante dos últimos 20 anos, com passagem por outros países longínquos, como a China, Egito, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.
Treinou o Tractor Club durante quatro épocas, entre 2012 e 2016, sendo um profundo conhecedor do Irão, adversário de Portugal esta segunda-feira. O que nos pode dizer desta seleção?
O Irão nunca será uma equipa de posse, como aliás se viu logo no primeiro jogo deste Campeonato do Mundo com Marrocos, em que tiveram 32 por cento de posse de bola, contra 68 do adversário. É no entanto uma equipa muito bem organizada defensivamente, como ficou provado nos pouquíssimos golos sofridos na qualificação para o Campeonato do Mundo [apenas 5 em 18 jogos]. É justo realçar o excelente trabalho que tem sido efetuado pelo Carlos Queiroz, que pela segunda vez consecutiva conseguiu qualificar o Irão para o Campeonato do Mundo.
Portugal não pode pois esperar facilidades?
Não, até porque os jogadores sabem que vão jogar a qualificação para os oitavos de final neste jogo. Para além de estar muito bem preparado defensivamente, o Irão tem jogadores muito rápidos na frente, autênticas setas apontadas para a baliza contrária, como são os casos do Sardar Azmoun, que joga no Rubin Kazan, e do Karim Ansarifard, que joga no Olympiacos. Neste lote de 23 convocados, muitos atuam em campeonatos europeus, o que demonstra bem a evolução do Irão nos últimos anos.
Tem falado com Carlos Queiroz nos últimos dias?
Falámos por mensagem antes do início do Campeonato do Mundo, tendo-lhe desejado boa sorte e voltámos a falar por mensagem depois do jogo com Marrocos.
“Ronaldo está ao nível de Eusébio no Campeonato do Mundo de 1966”
Carlos Queiroz tem insistido muito na temática do orgulho ferido dos jogadores iranianos, devido às sanções aplicadas ao país pelos Estados Unidos. Acredita que este facto dá mais força aos jogadores iranianos?
Sem dúvida alguma e para os jogadores iranianos isto é muito mais do que futebol. Por outro lado, estão a jogar para 38 milhões de iranianos. No fundo, esta competição é um enorme montra de visibilidade para todos eles e encontram-se muito motivados para mostrar a sua qualidade ao mundo. No entanto, os jogadores portugueses também jogam para 12 milhões de pessoas e sabem que nós acreditamos muito neles.
Como é que Cristiano Ronaldo é visto no Irão?
O Cristiano Ronaldo é uma figura mítica no Irão, mas esta segunda-feira todos os iranianos vão ser Messi, tal como no Mundial 2014 todos foram Cristiano Ronaldo no dia do jogo com a Argentina, em que o Irão foi derrotado no último minuto, precisamente com um golo do Messi.
Ou seja, até no Irão é muito discutida a velha rivalidade entre Cristiano Ronaldo e Messi e quem será o melhor.
Sim. Mas aproveito para dizer que, na minha opinião, o grande rival do Cristiano Ronaldo é o próprio Cristiano Ronaldo. Ele supera-se a ele próprio todos os dias, não tem limites e será sempre uma referência para os jovens e para os menos jovens. Claro que não vai conseguir marcar três golos todos os jogos e terá exibições menos conseguidas, mas é a grande bandeira portuguesa, ao nível de Eusébio no Campeonato do Mundo de 1966.
“Ganhar a Kuwait FA Cup foi o equivalente a uma Liga dos Campeões”
Atualmente encontra-se de férias depois de ter treinado o Kazma. Vai prosseguir o seu trabalho neste clube do Kuwait?
Em princípio irei regressar. Ganhámos a Kuwait FA Cup e dentro das condições que nós tínhamos este troféu foi equivalente a uma Liga dos Campeões, porque não tínhamos nem de perto nem de longe os melhores jogadores nem o maior investimento. Conseguimos potenciar ao máximo os nossos recursos e sem dúvida que fomos a equipa mais forte e mais regular.
Sabemos que o seu filho, António Oliveira, faz parte da equipa técnica. Tem mais adjuntos portugueses?
Sim, faz um trabalho essencial a nível de organização, planificação e análise dos adversários. Temos ainda um treinador adjunto local e um treinador de guarda-redes sérvio e penso que todos fizemos um ótimo trabalho, tendo em conta as condições que nos foram dadas.
“No início, posso ter ficado chocado com algumas situações, mas hoje em dia já pouco que me consegue surpreender”
Tem estado pelo Kuwait, antes passou por países como a China, Egito, Irão, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. Ainda fica surpreendido com alguma especificidade cultural destes países?
Já são 20 anos mergulhado em países com culturas e religiões diferentes, mas nós portugueses temos grande capacidade de adaptação. No início, posso ter ficado chocado com algumas situações, mas hoje em dia já pouco que me consegue surpreender. Felizmente temos muitos portugueses espalhados pela zona do Golfo, mais do que habituados a conviver com novas realidades.
Quais são as grandes diferenças entre o Kuwait e o Irão?
Há algumas diferenças e são todas estas especificidades que nos vão enriquecendo. Uma das principais diferenças é ao nível da gastronomia, existindo muita “fast food” no Kuwait. Confesso que tenho saudades do nosso peixe, que é inigualável. Ou melhor, ninguém o confeciona como nós. Posso falar também da diferença de temperatura, com um calor agressivo no Kuwait, mas onde não apanho temperaturas negativas de 20 graus, como me aconteceu no Irão.