Solange Kardinaly é a mulher do momento no panorama mundial do ilusionismo. A portuguesa foi um dos grandes destaques da última edição de America´s Got Talent e acaba de ganhar o Mandrake d’Or, visto como o Óscar da magia. Solicitada em todo o mundo, a artista portuguesa é a prova de que as mulheres há muito que deixaram de ser apenas a assistente do homem nos espetáculos de magia. E prepare-se que Solange Kardinaly vai trazer o seu espetáculo ao nosso País.
Como surgiu o encanto pelo mundo do ilusionismo? Foi algo que sempre desejou?
Eu pertenço a uma família de artistas de circo. Sou a terceira geração de mágicos na família. Comecei a atuar com 4 anos e até hoje.
Em que momento é que percebe que a paixão por essa área seria mesmo uma profissão?
Não me lembro bem desse momento. Penso que desde muito nova tive uma enorme paixão pela magia, sempre adorei entrar no mundo da ilusão envolver o público num mundo de fantasia e sempre tive focada nisso. Sempre foi muito importante para mim e explorei ao máximo sempre. Tentei desenvolver as minhas habilidades artísticas e desde muito jovem comecei também a fazer os meus próprios vestidos para o espetáculo tentando assim expressar a minha personalidade em palco.
“Em Portugal não há muitas oportunidades”
Quais os maiores obstáculos que enfrenta alguém que, em Portugal, deseja seguir numa carreira igual à da Solange?
Infelizmente em Portugal não há muitas oportunidades para a minha área e mais para o género de magia que eu faço. Levo bastante tempo fora de Portugal e sempre com a esperança de um dia em Portugal ter as mesmas oportunidades que tenho em outras partes do mundo.
Quando se inscreveu no America’s Got Talent, imaginava que poderia ter o efeito que teve? Qual era o objetivo?
Quando há uns anos pensei em fazer algo diferente, foi com o foco de chegar ao America’s Got Talent e consegui! Acho que é a prova de que com muito trabalho e paixão e esforço conseguimos alcançar os nossos objetivos. E sem dúvida o objetivo era conseguir ter visibilidade e projeção a nível mundial.
Sendo uma pessoa já com uma carreira sólida, teve algum receio em inscrever-se num programa desta dimensão, caso as coisas pudessem não correr como desejado?
Sim, claro! É sempre um risco porque nunca sabemos como vão reagir os júris e o público e um número de magia é sempre um risco. Tudo pode correr bem e ser um êxito ou pode falhar qualquer detalhe e não conseguirmos ter o resultado esperado.
“Conseguir surpreender [no America’s Got Talent] depois de tantas edições não é nada fácil”
Qual é a sensação de ouvir os jurados dizerem que é a melhor artista, dentro da sua área, que já passou pelo programa?
É muito gratificante. Já passaram por ali alguns dos melhores artistas do mundo e conseguir surpreender depois de tantas edições não é nada fácil. Fico muito orgulhosa de todo o esforço e trabalho, meu e do meu marido, quando começamos a criar este número. E fico com a certeza que valeu mesmo a pena
Qual o impacto que o America’s Got Talent teve na carreira? Pode falar-se num antes e num depois?
Sim, claro. Devido à grande visibilidade que tive, sendo o número mais viral de toda a sessão deste ano estou a ser muito solicitada por todo o mundo. As pessoas querem ver em direto o número e conhecer-me. É incrível.
Acaba de ganhar o Mandrake d’Or 2024, conhecido como o Óscar da magia. Qual a sensação de ouvir o seu nome como a grande vencedora? Até porque é a primeira mulher portuguesa a consegui-lo.
Se não estou em erro sou a quarta portuguesa a receber este prémio e a única mulher. É um galardão muito prestigiado no mundo mágico. Desde menina que vejo este festival, que é também emitido na televisão portuguesa, e sempre foi um sonho chegar até aqui. E agora em casa temos dois Mandrakes: O meu de 2024 junta-se ao do meu marido, Arkadio, que recebeu em 2006.
“Agora em casa temos dois Mandrakes”
É reconhecida como uma das ilusionistas mais promissoras da atualidade. Isto é um peso que assusta ou uma motivação para fazer ainda melhor?
Depois de ter feito tantos números novos e originais em tão pouco tempo nas fases finais do AGT, já nada me assusta, mas sim motiva. Acho que estou no momento certo para começar a desfrutar do trabalho que criei até hoje. E como sempre nunca parar de melhorar e mais que nunca agora tenho muito mais motivação que antes, porque agora as pessoas reconhecem o meu trabalho. E isso é muito mais motivador, embora eu sempre me automotive para dar o melhor de mim e expressar o que realmente sinto através da magia.
No mundo da magia existe um pouco a ideia de que a mulher tende a ser a assistente do homem (mágico). Sente que está a ajudar a mudar esta ideia?
Sim, mais que nunca. Sempre fui vista como a assistente e sempre fiz de tudo para demonstrar o contrário. E sempre consegui mostrar o meu talento como ilusionista, embora quando atuo com o Arkadio sou assistente dele e ele meu. Não tenho problema nenhum com isso, mas também tenho o meu lugar como ilusionista. As coisas têm que ser vistas como são e não como eram antigamente na história da magia. Aliás, no America’s got talent fui a única Ilusionista a chegar à final nesta última edição. Ficaram pelo caminho alguns homens mágicos. Aqui está a resposta a pergunta.
“Sempre fui vista como a assistente”
Qual a sensação de entrar para o Guinness?
O Guinness foi um grande desafio na minha vida. E sem planear foi uma experiência muito interessante e também desgastante. Nunca imaginei conseguir superar o desafio e fabricar 26 vestidos em 3 semanas. Foi uma loucura. Ficará guardado para sempre na minha memória.
Cria as próprias roupas que usa nos espetáculos. É um desafio ainda maior?
Sim. Desde muito nova comecei a desenhar e criar as minhas próprias roupas, sempre foi algo que me apaixonou. Penso que é muito importante para um artista se expressar não só através de um olhar ou da expressão corporal como também pela estética que quer transmitir ao público. Por exemplo o meu número de quick change das audições é um estilo completamente diferente do que se viu anteriormente. Tenho roupa mais moderna de rua, sem ser roupa de espetáculo. Isto torna o numero diferente e expressa outro lado meu que nunca tinha experimentado. E que neste caso teve bastante êxito, porque esse vídeo teve quase 1 bilião de visualizações.
Já fez uma digressão com o 50 Cent. Como é que tudo isto se proporcionou?
O ano passado fui contactada pela equipe do 50 Cent, porque ele queria fazer um quick change no seu show. E então aceitamos o convite e estivemos nos Estados Unidos com ele em digressão umas semanas. Fabriquei várias camisas para ele, foi uma experiência diferente com a qual fico muito contente ter conhecido o 50 Cent e ter colaborado com ele. Que foi sempre um ídolo para mim desde menina. Foi incrível.
“Gostava que ele [filho] seguisse com o legado”
Está junta com o Arkadio no amor e na carreira. É fácil conciliar tudo na perfeição?
Sim. Somos guiados pela mesma paixão pela magia, temos o mesmo foco, e isso torna tudo mais fácil. Viajamos juntos, trabalhamos juntos, criamos juntos e torna-se tudo mais fácil para ambos. E no palco temos muita cumplicidade e gostamos muito de partilhar o palco.
Gostava que o seu filho seguisse a carreira dos pais?
Claro que sim. Embora pense que ele tem que escolher e não o quero influenciar. Talvez quando ele for maior escolha o que quer ser, mas mesmo que não fosse profissionalmente gostava que ele seguisse com o legado. E sempre o iríamos apoiar e ajudar com tudo o que sabemos.
A carreira leva a que percorra o mundo em trabalho. Do que sente mais saudades de Portugal quando está fora?
Do que sinto mais saudades é sem dúvida da comida. Não há nada igual à nossa comida e ao nosso café. É incrível a diferença.
Tem atuações agendadas para Portugal nos próximos tempos?
Vamos estar com o nosso show de grande formato no Casino de Espinho nos dias 10 e 11 de Janeiro e convido os portugueses a virem me conhecer melhor e assistir um pouco mais da minha magia em direto.
Como imagina o futuro para os próximos cinco anos?
Espero que a magia na minha vida continue a brilhar como tem feito até agora.
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Fotos: Reprodução Instagram