Num País em que o futebol é o desporto rei, muitos podem não reconhecer os nomes dos irmãos Nuno e Rui Pavanito. Mas tudo muda quando estes nomes são mencionados num ambiente dedicado ao boxe. Aí, existe um misto de admiração e respeito pelo Rui “El Bombardero” Pavanito, que tinha em Nuno, o irmão mais novo, o treinador. Rui Pavanito conseguiu ser campeão de boxe aos 39, 40 e 41 anos, conquistando títulos internacionais que mais ninguém trouxe para Portugal. Agora, são treinadores no Pavanitos Sport Team e foi por lá que os irmãos receberam o paraeles para uma conversa que não pode perder.
Como surge a vossa ligação ao boxe?
Rui Pavanito – Já foi há muito tempo e foi tudo por curiosidade. Sempre quis experimentar boxe e o meu pai inscreveu-me, e aos meus irmãos, no Full Contact. O meu pai depois quis saber que opinião tinham sobre nós e o treinador disse que todos, e estávamos lá três, eram bons, mas que havia um que tinha mais jeito para o boxe. E era eu.
Nuno Pavanito – Quando tínhamos 14, 15 anos começamos no boxe os dois. O Rui depois para por causa das motas. Eu ainda competi pela Siderurgia Nacional. Continuei até que tive um acidente e parti a rótula do joelho.
RP – Depois, foi namorar, casar. Casei aos 21 anos pois a minha antiga esposa estava grávida e a partir daí refugiei-me no boxe. Tomei essa decisão. O meu irmão começou a acompanhar-me como treinador.
NP – Ainda trabalhámos à noite durante muitos anos, mas o meu irmão manteve-se sempre ligado ao boxe. Eu já não praticava, mas o meu irmão assim. Como ele sempre foi bom acabou por voltar a competir, sempre a nível amador. Foi campeão nacional de amadores e teve uma paragem forçada. Quando volta é já a nível profissional.
RP – Comecei a treinar a sério para ser campeão quando já tinha 32 anos e tinha passado por muito. Refugiei-me no boxe para ser campeão.
“Venceu e convenceu aos 39, 40 e 41. Hoje, quem achar que é impossível já tem um exemplo”
São duas histórias curiosas. Por um lado, começar a competir a nível profissional numa idade pouco comum. E também ser o irmão mais novo a treinar o mais velho.
RP – Exatamente. O meu irmão sempre me acompanhou nesta caminhada. Aos 39 anos fui campeão pela primeira vez. Com 40 voltei a ser e repeti o mesmo aos 41.
Há algum segredo para ser campeão com uma idade em que muitos já se retiraram do boxe?
NP – Estão retirados e ninguém acredita. Lidámos com esse processo, que foi difícil para o meu irmão. Não tinha apoios e não tinha quem acreditasse que seria possível ser campeão aos 39 anos. Sou sincero, também não acreditava, mas estava sempre ao seu lado. Porque não havia nenhum exemplo em que pudéssemos pegar. Achámos que seria difícil, mas ele provou que é possível. Venceu e convenceu aos 39, 40 e 41. Hoje, quem achar que é impossível já tem um exemplo.
RP – É um mérito para mim. A caminhada é difícil, mas sabe bem. O sucesso recompensa todos os sacrifícios por que passei.
“O público admirava-me e dava-me os parabéns”
Como eras encarado quando começaste a competir profissionalmente aos 39 anos? Havia respeito ou eras desvalorizado?
RP – É sempre normal analisar o adversário pela idade. E competia com atletas com 25 anos. Em 2017, já tinha 40 anos e fiz nove combates num ano. Quase todos com atletas com metade da minha idade. Fiz esses combates todos porque toda a gente aceitava jogar comigo. Mas como sempre fui muito focado e disciplinado, conseguia estar ao nível deles. Depois ficavam surpreendidos. O público admirava-me e dava-me os parabéns. Aproveitei ao máximo e conseguimos usufruir ao máximo do boxe. A jogar com os número um de todos os países onde fui. Hoje, sou o que sou por causa disso. Temos de arriscar e acreditar que conseguimos. Só é impossível até ser feito.
Desenganem-se aqueles que pensam que te limitaste a competir com essa idade. Conseguiste conquistar troféus importantes para o boxe português.
RP – Tive uma oportunidade de ir disputar um título em Espanha. Existe a ideia de que ir lá fora é para perder. Eu sempre acreditei que ia chegar a minha vez. Já tinha 40 anos, tinha muita experiência. Aproveitei isso porque sabia que era uma oportunidade única. Ganhei o combate a 15 segundos do fim. Fiquei ainda com mais motivação. Tive a oportunidade de defender esse título em Portugal com um atleta que nunca tinha perdido e ganhei. Estamos a falar de um título que ainda hoje ninguém ganhou para Portugal. Espero ficar com ele a vida toda. É um mérito que ninguém me tira.
“Todos precisam de apoios para serem campeões. Ele teve de ser campeão para ter apoios”
Deveria haver um pouco mais de reconhecimento em Portugal para modalidades como o boxe e para feitos como os que alcançaste?
RP – Na minha carreira cheguei a um ponto em que não percebia por que isso não acontecia. Mas não posso ficar agarrado a isso ou não fazia nada. É fazer até ter, até conseguir. Conquistei tudo até ter as coisas. Se tivermos disciplina e dedicação, vamos ter as coisas. Em vez de andar a pedir patrocínios, treinei e trabalhei até atrair isso tudo. Comecei sem nada. E dá mais valor conquistar as coisas.
NP – Todos precisam de apoios para serem campeões. Ele teve de ser campeão para ter apoios.
RP – Só tive o meu primeiro patrocínio quando fui campeão nacional pela primeira vez.
Olhando para a vossa história, que mensagem gostavam de passar a uma criança que está em casa e que acredita que nunca irá triunfar em nenhuma modalidade?
RP – Hoje em dia têm tudo. Têm boas escolas, bons treinadores, bons ginásio, boas condições. A vontade é que é o principal. Podem ter tudo, mas se não tiverem vontade não chegam lá. Venham ao sítio certo. Temos exemplos de alunos que sofriam de bullying e que chegaram a campeões nacionais. Não é um, são três. Já fizemos sete campeões nacionais aqui. Se não têm confiança para nada, se têm medo de tudo, venham treinar boxe. Vão ver que as coisas mudam. Isto serve para tudo. O boxe é para todos.
“Temos exemplo de alunos que sofriam de bullying e que chegaram a campeões nacionais”
São da opinião de que o boxe nem sempre teve uma imagem positiva?
RP – Foi um trabalho que também tivemos para mudar essa imagem. Hoje temos o ginásio cheio porque toda a gente gosta disto. Venham cá, experimentem. Se gostarem continuam. E ainda não houve um que não gostasse.
Se quiser experimentar um treino com os irmãos Nuno e Rui Pavanito, pode encontrar a dupla no Pavanitos Sport Team.
Fotos: Zito Colaço Imagem e edição: Fábio Lopes