Nuno Casimiro: “Investir está ao alcance de todos, mas requer trabalho de casa”

Nuno Casimiro: “Investir está ao alcance de todos, mas requer trabalho de casa”

Entrevistas

Nuno Casimiro: “Investir está ao alcance de todos, mas requer trabalho de casa”

É uma boa altura para investir? Quais são as melhores opções? Devo ter medo da crise? Estas e outras perguntas do mundo dos investimentos respondidas por Nuno Casimiro, autor do blog investidor.pt.

Artigo de Hugo Mesquita

07-12-2019

Vivemos uma época em que a literacia financeira parece ser cada vez mais comum. Isto compreende-se uma vez que o acesso à informação está mais facilitado. Deparamo-nos também com uma sociedade, em geral, um pouco mais otimista. Isto depois de uma grande crise financeira à escala global. Os rendimentos vão sendo repostos e, com naturalidade, existe quem queira investir parte dos seus ganhos. Esta até é uma forma de se precaverem no futuro contra episódios semelhantes aos ocorridos em 2008.

As oportunidades de negócio (investimentos) e veículos de negociação são cada vez em maior número. E existe também uma maior oferta de blogs e páginas especializadas neste tipo de temáticas. Seja numa ótica de finanças pessoais ou de investimentos. Importa, portanto, conhecer um pouco melhor este mundo.

Para isso, falámos com Nuno Casimiro, autor do blog investidor.pt. Nascido em Castelo Branco, com 42 anos, pode se dizer que Nuno é um investidor profissional. Tudo começou no dia seguinte ao fatídico 11 de setembro de 2001. Por conta do atentado às Torres Gémeas, em Nova Iorque, as bolsas estavam em baixo, com ações em mínimos históricos. E Nuno viu aqui uma oportunidade. Entre altos e baixos, Nuno, com formação em Gestão de Empresas, foi conseguindo viver com os seus diferentes investimentos. Quis partilhar com o mundo o seu percurso na área e é aí que surge o investidor.pt.

De onde surgiu este “bichinho” pelas finanças?
Desde cedo que controlo o meu dinheiro. Comecei a trabalhar aos 15 anos para ter o meu próprio dinheiro. Aos 20 anos comprei o meu primeiro carro novo. Com o meu próprio dinheiro e sem ajudas. A primeira aplicação de poupança foi um produto de capital garantido com maturidade de 3 anos. Foi quando percebi que o mundo financeiro requer muita atenção.

Qual foi o seu primeiro investimento?
Comecei a investir verdadeiramente em 2001, após ler toda a imprensa económica da época. Fiz o primeiro investimento na bolsa de valores de Lisboa, a 12 de setembro de 2001. Foi uma aprendizagem importante. Ganhei mais de 100% no primeiro mês, mas perdi todas as mais-valias até ao final do mesmo ano.

Da experiência que tem no seu blog, acredita que o português, em geral, é poupado? E é um bom investidor?
O meu blog investidor.pt foca-se cada vez mais em negócios e investimentos. O tema das finanças pessoais não atrai muitas pessoas. Na vertente de negócios e investimentos é diferente. Existem grandes investidores e empresários em Portugal. Existe muita gente com visão para os negócios e os investimentos.

Por outro lado, a maioria dos portugueses é conservador e não vai além de produtos financeiros de capital garantido. Depósitos a prazo e Certificados de Aforro são os grandes veículos da poupança em Portugal. Mais recentemente, os Certificados do Tesouro. Os PPRs também fazem parte das carteiras conservadoras. No que diz respeito a investimentos com mais risco, o imobiliário é o preferido dos portugueses. Desde sempre.

“Ganhei mais de 100% no primeiro mês, mas perdi todas as mais-valias até ao final do mesmo ano”

Investir está ao alcance de todos?
Sim, todos podemos investir. Todos podemos investir de forma mais informada, mas isso requer o trabalho de casa. Estudar as oportunidades e conhecer os riscos que se enfrentam. Uma das formas mais comuns de investimento é a aquisição de casa própria, que é muitas das vezes o maior investimento financeiro que se faz na vida.

Qual é para si o investimento mais indicado para quem não domina tanto a área?
O imobiliário é na minha opinião o mais adequado, pois pode originar boas mais-valias ou rendimentos. É um negócio ao alcance de todos. É também o investimento que se pode fazer utilizando alavancagem financeira (crédito).

Têm surgido várias empresas digitais que oferecem oportunidades de investimento à distância do nosso smartphone. Qual é a sua opinião sobre empresas como a Degiro, Housers ou Raize?
Sou curioso, mas também sou conservador em algumas situações. Não faz sentido para mim investir através de empresas que não possuem qualquer ativo em Portugal. Para o investimento na bolsa utilizo o Banco Big. No imobiliário, invisto diretamente. Experimentei a Raize, gostei numa primeira fase, com os leilões. Atualmente, como a procura é elevada, deixou de fazer sentido utilizar a plataforma. Existe uma panóplia grande de possibilidades de investimento. Infelizmente, não consigo investir em todos os veículos. Numa ótica de diversificação, ainda estou na fase de criação de riqueza. O foco é muito importante.

Em Portugal, investir na bolsa faz sentido? As nossas empresas são chamativas o suficiente para merecerem o nosso dinheiro? E investir no estrangeiro?
Existem oportunidades na bolsa portuguesa. Evidentemente que existe um tempo certo para comprar e para vender. Basta estar atento. No que diz respeito a investimentos no estrangeiro, depende da capacidade financeira de cada um. Para pequenos montantes não é aconselhável. Requer ainda mais estudo, só para dar um exemplo, a questão da dupla tributação de rendimentos.

“O sistema fiscal português é um caos”

O nosso sistema fiscal é demasiado burocrático e penaliza aqueles que têm verdadeira intenção de investir. Concorda?
O sistema fiscal português é um caos. Não existe estabilidade fiscal. A estabilidade é muito importante na hora de planear investimentos. Não é por acaso que as empresas cotadas na bolsa portuguesa têm a sua sede fiscal noutros países. Impostos altos traduzem-se por vezes em receitas fiscais reduzidas. Podemos aprender muito com a Irlanda. A burocracia em Portugal tem vindo a ser reduzida nos últimos anos, mas ainda existe.

Para quem tem uma pequena poupança de, digamos, 10 mil euros. Que conselho daria a essa pessoa?
Eu não faço aconselhamento financeiro, mas posso dar ideias. A criação de um pequeno negócio próprio. A maior fonte de rendimentos está nos negócios. Com 10 mil euros também já se pode investir na bolsa com diluição dos custos.

“É uma boa altura para vender casa”

Tendo em conta os preços altos das casas em Portugal, neste momento, comprar casa é um mau investimento?
Comprar casa é um bom investimento. No entanto depende do momento. Nesta fase é difícil encontrar bons negócios. É uma boa altura para vender. No mundo dos negócios e investimentos há um mandamento muito importante: Comprar em baixa e vender em alta.

Quando está com amigos, ou família, eles pedem lhe dicas para investirem na bolsa?
Costumo falar sobre negócios e investimentos. Já dei muitas dicas para investir na bolsa. Geralmente discutem-se pontos de vista sobre a evolução das acções.

“Empresas ligadas ao meio ambiente podem ser interessantes”

Fala-se muito que vem aí mais uma crise. Como é que a bolsa irá lidar com isso? Vai haver muita gente a perder dinheiro?
A bolsa portuguesa perdeu a sua vitalidade após os eventos passados, relacionados com a banca. Houve muitas pessoas que perderam dinheiro e saíram simplesmente da bolsa. Logo o impacto de uma crise, no meu ponto de vista, não é relevante para a maioria das pessoas.

Que alternativas aconselha? Ouro e outros bens do género?
Não aconselhando, posso dizer que ter disponibilidades é talvez o mais acertado. A crise traz oportunidades. Tendo capacidade financeira, podem-se realizar bons investimentos. Tudo depende do tipo de investidor e da capacidade de cada um.

Como tem visto a presidência de Donald Trump e o impacto que isso tem tido nos mercados?
Não tenho opinião sobre a presidência de Donald Trump, mas ao que parece as bolsas norte-americanas estão em alta. Logo algo está a ser feito com impacto positivo nas bolsas e na confiança das pessoas.

Para quem está a começar, que empresas é que se deve ter debaixo de olho? Isto numa lógica de serem bons negócios para o futuro.
Empresas concretas não posso comentar, até para não me enganar. No que diz respeito a tendências, parece-me que a ecologia é cada vez mais importante. Assim, empresas ligadas ao meu ambiente podem ser interessantes. Por exemplo, relacionadas com as energias limpas. Empresas ligadas à agricultura sustentável também merecem atenção.

Falando novamente em pequenos investidores, é mais importante investir por valor ou por dividendo?
Parece-me uma boa ideia investir na expetativa de receber dividendos. No entanto, é preciso ter atenção e estudar bem as empresas. Uma das maiores lições que tive na bolsa foi precisamente com uma empresa que pagava dividendos. Na altura os meus conhecimentos financeiros eram parcos. Não estudei a empresa convenientemente. Se uma empresa financia o pagamento de dividendos, muito provavelmente, é sinal que algo está errado. Fica o alerta.

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Artigo de
Hugo Mesquita

07-12-2019



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