O primeiro piloto português a competir de forma regular na classe rainha do motociclismo não esconde a ambição de conquistar o título mundial. Miguel Oliveira diz estar preparado para se tornar um ídolo dos portugueses.
Ficou satisfeito com a sua prestação na primeira corrida da temporada?
Sim, fiquei satisfeito. Obviamente que o resultado poderia ter sido melhor mas considerando que o pneu cedeu a oito voltas do final, tenho de estar contente por aquilo que fiz até aos momentos finais.
O resultado alcançado e o potencial que viu nos seus adversários altera, de alguma maneira, os seus objetivos para esta temporada?
Acredito que nesta fase é possível pensar em estar nos pontos em todas as corridas. É um objetivo ambicioso mas que sei que o posso alcançar. Temos uma grelha muito competitiva este ano, com mais motas oficiais, onde as diferenças parecem ser muito menores entre as motos. No Qatar vimos uma corrida bastante renhida onde o top 15 ficou separado por 15 segundos.
“Nesta fase é possível pensar em estar nos pontos em todas as corridas”
Ser o melhor rookie [estreante na competição] do pelotão é um dos seus grandes objetivos?
Não estou concentrado nisso. Ser o melhor rookie é um prémio bom mas indicador de pouco. As motos entre os rookies são bastante diversas e isso dificulta a atribuição do mérito que esse prémio tem.
Comparativamente com épocas anteriores, este ano teve de mudar alguma coisa na sua preparação a nível técnico e físico?
Mais força nos membros superiores. A moto é mais pesada e requer mais força na hora de a manobrar entre curvas.
Como é que é o seu dia-a-dia como piloto de MotoGP?
Mais atarefado com mais solicitações dos media.
Tem algum piloto amigo no pelotão de MotoGP? Quem?
Não.
E há algum com que não simpatize verdadeiramente?
Respeito todos por igual.
“A moto é mais pesada e requer mais força na hora de a manobrar entre curvas”
Já apanhou algum piloto verdadeiramente maldoso em corrida?
Alguns sim, têm intenções menos apropriadas. Mas são tudo emoções que são fruto de lutas dentro de pista por uma posição e nada de ataque pessoal, por isso há que entender e jogar duro, sendo o mais limpo possível. Por vezes esta linha é difícil de definir.
Se tivesse o poder de escolher uma moto do atual pelotão para pilotar, qual seria?
A melhor moto para mim é a KTM, não tenho meio de comparação com outra moto. Vejo potencial de evoluir e isso para mim é o mais importante, saber que posso ir mais além com aquilo que tenho.
O título mundial é um objetivo a curto, médio prazo?
Sim estou no MotoGP para ser campeão do mundo, pois para mim não faria sentido ter feito tanto sacrifício para alcançar este nível exigência para depois ser apenas um piloto de meio da tabela. Tenho capacidade para vencer e a minha oportunidade vai chegar.
“Estou no MotoGP para ser campeão do mundo”
Está a competir com grandes monstros do motociclismo mundial. O que se sente quando tem um Valentino Rossi ou um Marc Márquez colados à sua moto?
Não me faz sentir menos do que eles já são.
Em 2018, começou muitas corridas em posições complicadas na grelha. Terá alguma
nova estratégia este ano em termos de qualificação?
As categorias são muito diferentes. Na moto2 tínhamos 45 minutos para ter uma volta rápida e no MotoGP temos apenas 15. Muda muito o mindset.
Prefere correr em piso seco ou molhado?
Seco.
O desenho do seu capacete tem algum significado especial?
Tem o M na frontal de Miguel.
E porquê o número 88?
É o dobro do 44, continua a ser par e repete-se a ele mesmo. Achei que fazia sentido para mim e para os fãs.
“Na moto2 tínhamos 45 minutos para ter uma volta rápida e no MotoGP temos apenas 15. Muda muito o mindset”
Considera-se um piloto bem pago?
Existe alguma discrepância nos salários de um rookie para um salário de um piloto numa equipa de ponta mas tudo vem a seu tempo.
Está preparado para se tornar no novo ídolo de Portugal?
Sim, preparado para mostrar que somos capazes, Portugal tem talento mas o povo acredita pouco. Existe um mentalidade generalizada de que os portugueses são “os coitados”, cheios de lamurias e justificações. Esta na hora de mostrar que nós somos tão bons como os outros e que podemos fazer melhor do que aquilo que pensamos. Para mim, ser ídolo é olhar para alguém que seja referência na sua área e dizer: ‘se ele consegue, eu também consigo!’.
Está a tirar o curso de Medicina Dentária. Se algum piloto do pelotão estiver com uma dor de dentes é capaz de o socorrer?
Sim sou capaz. Mas não sei se vou querer!
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Texto: Vítor Crisóstomo; Fotos: Divulgação