João Tomás: “Vale e Azevedo tinha virtudes e defeitos. Ninguém é perfeito”

João Tomás: “Vale e Azevedo tinha virtudes e defeitos. Ninguém é perfeito”

Entrevistas

João Tomás: “Vale e Azevedo tinha virtudes e defeitos. Ninguém é perfeito”

Revelou-se em Coimbra, foi um dos bons pontas de lança portugueses das últimas décadas. João Tomás chegou a representar o Benfica, onde formou excelente dupla com Van Hooijdonk.

Artigo de André Cruz Martins

09-06-2018

Revelou-se na I Liga ao serviço da Académica e ganhou a alcunha de “Jardel de Coimbra”, devido ao excelente jogo de cabeça e faro pelo golo, a fazer lembrar o magnífico ponta de lança que na altura representava o FC Porto. João Tomás mudou-se para o Benfica na segunda metade da temporada de 1999/2000 e por lá se manteve na época de 2000/01. Apesar de ter formado uma excelente dupla de pontas de lança com Van Hooijdonk (nessa temporada, marcou 17 golos e o holandês 24), esteve claramente na altura errada num clube que atravessava a pior crise da sua história e que terminou esse campeonato num humilhante sexto lugar.

Seguiu-se uma época e meia nos espanhóis do Bétis e o regresso a Portugal, onde teve um pouco habitual mau registo goleador, marcando apenas quatro golos em 21 jogos pelo V. Guimarães. Recuperou a aura no Sp. Braga, onde em duas temporadas fez 33 golos, ao que se seguiu uma curta mas marcante passagem pelo Catar. Voltou a passar pelo Sp. Braga, esteve em excelente plano na época que realizou no Boavista, mas foi no Rio Ave que foi mais feliz: entre os 35 e os 37 anos marcou 44 golos em três temporadas.

Terminou a carreira em 2013, com 38 anos, no Recreativo de Libolo. Ao todo, apontou 191 golos seus 17 anos como profissional. Depois de abandonar os relvados, foi treinador de avançados nos escalões jovens do Sp. Braga e hoje em dia, é diretor desportivo do Famalicão.

Começou a destacar-se no futebol sénior em 1996/97, com 21 anos, ao serviço da Académica, na II Liga. Que recordações tem desses tempos?
Muitas e boas recordações, nomeadamente com a subida de divisão logo nessa primeira época. Mas também más recordações, pois na terceira época na I Liga descemos. Curiosamente, foi nessa temporada que me transferi para o Benfica, no mercado de inverno. A Académica foi muito importante na minha carreira, pois foi o primeiro clube que representei enquanto profissional e fiz muitos amigos lá.

Na altura, ganhou a alcunha de “Jardel de Coimbra”. Gostava de ser tratado dessa forma?
No início sim, mas depois comecei a não achar grande piada, pois atingi um certo estatutoe  queria ser conhecido pelo meu nome.

Depois de três anos e meio deu um salto para o Benfica, onde formou uma célebre dupla com Van Hooijdonk.
Sim, formámos uma boa dupla, pois as nossas características complementavam-se. Ficámos bons amigos e hoje em dia ainda falamos com frequência.

“Só tenho de agradecer a Vale e Azevedo por me ter ido buscar”

Gostou de estar no Benfica, apesar da grave crise que o clube atravessava?
Claro que sim, tive um enorme orgulho em passar pelo Benfica, pois foi o clube grande que consegui representar. Não foi de facto a melhor fase do clube, mas fico feliz pelo facto do Benfica ter mudado e passado a beneficiar uma estrutura cada vez mais forte, o que possibilitou o regresso às grandes conquistas.

No seu tempo, o Benfica era presidido pelo polémico João Vale e Azevedo. Como era a sua relação com ele?
Só tenho de lhe agradecer por me ter contratado à Académica. Foi um presidente com virtudes e defeitos e todos nós somos assim, ninguém é perfeito, pois não?

No Benfica, como foi ser treinado por Jupp Heynckes, um grande nome do futebol mundial, e por José Mourinho, que estava a dar os primeiros passos como técnico principal?
O Jupp Heynckes foi o treinador que deu o aval à minha contratação e só tenho de lhe estar agradecido por isso. Quanto ao José Mourinho, foi com ele que atravessei o meu melhor período no Benfica e já dava para perceber que seria um grande treinador.

O seu melhor jogo como profissional foi aquele em que marcou dois golos ao Sporting numa vitória do Benfica por 3-0?
Claro que ainda hoje tenho esse jogo na memória e sem dúvida que foi o mais mediático. Entrei para o lugar do van Hooijdonk e fiz dois golos em cinco minutos. E o mais curioso é que no dia a seguir ficámos a saber que o José Mourinho se ia embora. Mas os meus melhores jogos foram um Académica-Braga, um Bétis-Real Sociedad e outro jogo com o Sporting, ao serviço do Rio Ave, em que marquei dois golos num empate a duas bolas.

“Fiz dois golos em cinco minutos e no dia seguinte ficámos a saber que José Mourinho se ia embora”

Tinha jeito para marcar ao Sporting.
Sim, marquei muitos golos ao Sporting ao longo da minha carreira. Também marquei ao FC Porto, mas menos.

Depois do Benfica seguiu-se uma experiência de uma época e meia no Bétis, que aparentemente não lhe correu bem, pois só marcou oito golos.
Estive bem na primeira época, tendo chegado em janeiro e conseguido marcar alguns golos [7]. Mas as correram-me mal as coisas na segunda temporada, devido a algumas lesões. Posso no entanto dizer que adorei viver em Sevilha.

Ao longo da sua carreira, também passou pelos Emirados Árabes Unidos e pelo Catar. Certamente tem algumas histórias marcantes para partilhar.
A verdade é que eu me adapto a tudo com facilidade e adorei viver nesses países. Histórias curiosas assim de repente não me lembro, mas posso dizer que tive grandes êxitos dentro de campo e também alguns dissabores, em muito menor escala.

“Era adepto do Sporting mas isso foi-se diluindo com o tempo”

Somou apenas quatro internacionalizações A por Portugal, com um golo marcado. Considera que merecia ter sido chamado mais vezes?
Penso que merecia ter ido mais vezes à seleção, mas tínhamos grandes pontas de lança e não era fácil ser chamado. Se nesta altura seria mais fácil ser chamado? Não faço ideia.

Gostaria de ter jogado ao lado de Cristiano Ronaldo na seleção?
Claro que sim, o Cristiano Ronaldo é um dos melhores jogadores do mundo. a atual seleção tem um nível elevado, mas a do meu tempo também era muito boa e chegou a atingir as meias finais e finais de grandes competições. A única diferença é que esta conseguiu ganhar o Euro 2016, mas no meu tempo isso também poderia perfeitamente ter acontecido.

Enquanto antigo profissional de futebol de referência, como analisa as suspeitas que têm recaído sobre alguns jogadores do nosso campeonato nos últimos tempos, acusados de facilitar em alguns lances?
Eu valorizo o que me interessa, leio e ouço o que me apetece. Felizmente tenho capacidade para filtrar o que não é digno de merecer atenção.

Representou muitos clubes ao longo da sua carreira. Ficou adepto de algum deles?
Posso revelar que era sportinguista quando era pequeno, mas isso foi-se diluindo com o tempo. Hoje em dia, sou do Benfica, do Rio Ave, do Sp. Braga, do Boavista, da Académica, enfim, de todos os clubes que defendi.

O que fez depois de deixar de jogar futebol em 2014?
Entre 2015 e 2017 fui o único técnico especializado no treino de pontas de lança em Portugal, ao serviço do Sp. Braga. Licenciei-me em Educação Física em 2017 e em abril desse ano fui convidado para assumir a direção desportiva do Famalicão. E cá me mantenho.

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André Cruz Martins

09-06-2018



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