Tiziana Lezcano já conquistou um espaço na história do futebol feminino argentino. Afinal, é apenas uma das três jogadoras profissionais transexuais que disputam o principal escalão da modalidade naquele país sul-americano. Mas há muito mais para descobrir na atleta, de 32 anos, que defende as cores do Club Ferro Carril Oeste. Até porque não há muito tempo trabalhava como prostituta para sobreviver e teve uma arma apontada à cabeça.
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É em conversa com o Olé que Tiziana Lezcano abre o livro sobre aquilo que tem sido a sua vida. Sendo que um dos temas foi a mudança de sexo. A jogadora assume que “decidir fazer a mudança foi difícil. Tive que me preparar psicologicamente porque sair com roupa de mulher sem as alterações hormonais foi difícil”, começa por dizer. Refere também que trabalhar não era fácil. “Foi muito difícil encontrar emprego. Não me aceitaram em lado nenhum. Tive que abrir um quiosque e trabalhar em lojas de roupas. Houve uma época em que meu pai sofreu um acidente e era a renda principal da casa. Então, tive que procurar trabalho em algo que não queria: a prostituição”, desabafa.
“Um homem apontou uma arma à minha cabeça”
A jogadora recorda ainda os tempos em que vendeu o corpo para pagar contas. “Era muito difícil, eram situações a que não estava acostumada. Algumas [prostitutas] foram baleadas e deixadas espalhados. Na verdade, nunca contei isto a ninguém. Uma vez, um homem apontou uma arma à minha cabeça e disparou, mas a bala não saiu. Foram momentos muito feios na rua”, refere. “O mais difícil de toda aquela fase foi estar com homens com quem não queria estar. Sentia-me um objeto e era muito feio. Podem dar-te muito dinheiro, mas ser um objeto era como se me sentisse suja”, já tinha dito ao TN, em 2023.
O sonho de jogar no River Plate
O futebol aparece na vida de Tiziana Lezcano depois da morte da mãe. Inicialmente rejeitada por dois clubes, acabou por ter sorte no atual clube. “É uma questão de lutar, porque se tivesse deixado a decisão deles me afetar, não estaria aqui hoje”, conta. Recordando que, em 2018, perguntou a uma amiga se podia fazer testes no Ferro. Eram 40 jogadoras e Tiziana foi uma das três escolhidas. “Ser jogadora profissional da Primeira Divisão é muito difícil. Conquistei coisas que me surpreendem. Antes faltava-me algo, um complemento para a minha vida. Não me adaptei totalmente à sociedade. Agora estou feliz e sinto que faço parte de uma comunidade”, termina a jogadora que tem o sonho de jogar no River Plate.
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