Thomas Meunier, o antigo carteiro que “secou” Neymar

Thomas Meunier, o antigo carteiro que “secou” Neymar

Desporto

Thomas Meunier, o antigo carteiro que “secou” Neymar

Saltou diretamente da terceira divisão belga para a titularidade do Club Brugge, foi carteiro e trabalhou numa fábrica de peças de carros.

Artigo de André Cruz Martins

07-07-2018

Thomas Meunier tem sido um dos jogadores em destaque na grande carreira da Bélgica neste Campeonato do Mundo, seleção que eliminou o Brasil nos quartos de final, ao vencer por 2-1 a formação sul-americana. O defesa direito belga apanhou pela frente Neymar, seu colega de equipa no PSG, e secou o craque brasileiro.

O jogador do PSG tem sido um autêntico extremo, beneficiando do esquema de três centrais apresentado pelo selecionador Roberto Martínez e no “louco” encontro com o Japão foi ele a fazer a assistência no golo que deu o 3-2 final à sua equipa, no último segundo, apontado por Chadli.

Titular indiscutível na equipa belga, este Mundial tem-no confirmado como um dos melhores defesas direitos do futebol mundial, como já tinha ficado demonstrado na brilhante época que realizou ao serviço do PSG (34 jogos/cinco golos).

Duelo especial com Neymar

Este sábado teve pela frente Neymar, seu colega de equipa no clube francês. “A verdade é que não posso dizer que o conheço, pois ele é super imprevisível, do melhor que já vi. Se eu tivesse 10 anos, teria um poster dele na parede do meu quarto”, atirou depois do jogo com o Japão, acrescentando: “Não sei bem como marcá-lo, pois ele muda a sua forma de jogar a todo o momento. No entanto, mal posso esperar por enfrentá-lo e vai ser maravilhoso jogar com o Brasil”. E apesar destes elogios, Meunier não se saiu nada mal e não deixou o brasileiro desequilibrar. No entanto, o defesa levou um amarelo, o que o impede de jogar frente à França, no jogo das meias finais.

Sobre as quedas de Neymar, Meunier reconhece que a acusação de que o seu colega de equipa se atira muitas vezes para o chão tem um fundo de verdade. “Bem, isso não é novidade. Mas a verdade é que é a sua forma de jogar e temos de respeitar. Muitas vezes consegue ganhar faltas em zonas perigosas”, sublinha.

Thomas Meunier não é o típico futebolista, o que é desde logo visível pela foto de fundo que ilustra o seu telemóvel, “A persistência da Memória”, pintura de Salvador Dalí e cujo quadro está exposto no MoMA, em Nova Iorque. Em entrevista ao “The Guardian”, revelou um pouco desta sua paixão pela pintura. “Este quadro que tenho no meu telefone é o meu favorito. É uma pintura surrealista que ilustra a noção de tempo. Adoro Dalí”, destacou.

Gosta de arte, foi carteiro e trabalhou numa fábrica

Antes de se tornar futebolista, Meunier queria mesmo era ser desenhador de cartoons, depois da sua avó, que era professora, lhe ter incutido a paixão pelo desenho. Nunca chegou a sê-lo, mas teve de conciliar a carreira de futebolista com outros trabalhos, como carteiro e depois num armazém de peças de automóveis. Isto porque os 400 euros que ganhava no Excelsior Virton, da terceira divisão belga, não chegavam para ter uma vida minimamente decente. Ao todo, conseguia juntar em média 1200 euros e só aos 20 anos, quando se transferiu sensacionalmente para o Club Brugge, é que passou a ser futebolista profissional.

Num artigo que publicou a poucos dias do início do Mundial no site “The Players Tribute”, Meunier recordou o seu trajeto como carteiro. “Acreditem ou não, em 2010, três anos antes de me estrear na seleção da Bélgica, era carteiro. Tudo começou quando tinha 18 anos e estava a lutar por ser alguém no mundo do futebol. Tinha de me levantar todos os dias às cinco da manhã, para começar a minha labuta antes do sol nascer”.

E continuou: “Pode ser muito engraçado ser-se carteiro em Nova Iorque ou Londres, mas experimentem sê-lo na minha aldeia na Bélgica, em que as casas estão muito separadas e tens inúmeras vezes de fazer uns 50 metros a pé de cada vez que estacionas o carro, com muitas subidas pelo caminho. E isto muitas vezes debaixo de chuva intensa. Ficava tão cansado que depois dormia toda a tarde. Só aguentei este ritmo durante dois meses e depois arranjei um trabalho numa empresa de peças de automóveis”, recordou.

A inacreditável trajetória de Meunier até à elite

No mesmo artigo, confessou que por vezes ainda pensa que está a viver um sonho. “A minha vida parece um bonito filme de Hollywood. Foi um trajeto tão estranho que por vezes me pergunto se o que consegui é mesmo real. E tudo começou com o meu pai, que me incutiu o gosto pelo futebol. Bem, a verdade é que ele era um pouco intenso, pois projetou em mim o sonho que nunca conseguiu cumprir, pois não passou de um jogador amador”, acrescentou.

Aos 13 anos, passou a jogar na formação do Standard Liège e por lá ficou durante dois anos, altura em que teve uma surpresa. “Chamaram-me a mim e à minha mãe para uma reunião e disseram-nos que estava dispensado. Mas até fiquei contente, porque o futebol era já uma espécie de trabalho para mim e assim ia poder aproveitar a vida e ir ao cinema. Desisti de tentar ser jogador profissional, mas o pior foi mesmo para o meu pai, pois as nossas conversas eram todos sobre futebol”, sublinhou.

Começou como avançado

E mesmo a sua mãe não reagiu bem. “Disse-me que não podia ser e que o futebol era a minha vida. Inscreveu-me num clube muito pequeno, o Excelsior Virton. Fiz um jogo-teste em que ganhámos 15-3 e marquei uns dez golos. Claro que fiquei”, conta.

Jogava a avançado e foi progredindo até ao escalão sénior. “Marcava imensos golos, de todas as formas e feitios. Havia pessoas que os filmavam e colocavam-nos no YouTube. De repente, todos falavam deste avançado incrível que marcava muitos golos na terceira divisão”, revela.

Em 2011 chegou ao Club Brugge por 100 mil euros e por incrível que pareça, não teve problemas em assumir-se de imediato como titular. Nas duas primeiras épocas foi avançado e depois passou a alinhar como defesa direito. No verão de 2016 transferiu-se para o PSG e logo passou a ser indiscutível.

No entanto, apesar do sucesso dentro de campo, nem tudo correu sobre rodas e foi alvo de muitas críticas por parte de adeptos do seu clube, depois de ter colocado um “like” no Facebook de uma foto de uma claque do Marselha, grande rival do PSG. “Procuro emoções e sensações quando vejo uma obra de arte. Não entendi esta reação de ódio, mas infelizmente é isto que nós vemos e sentimos nas bancadas dos estádios”, lamentou.

Entretanto, quando deixar o futebol, Meunier promete voltar a dedicar-se a outras atividades: para já, tem uma empresa de catering em Sainte-Ode, a sua cidade-natal e já revelou que quando terminar a carreira pretende tornar-se padeiro.

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André Cruz Martins

07-07-2018



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