Sol Bamba, a fera no campo que é mansinho em casa

Sol Bamba, defesa central do Cardiff City, tem sido uma das grandes revelações desta época no campeonato inglês. O extraordinário é que estamos a falar de um jogador de 33 anos, desconhecido para muitos e que se encontra na temporada de estreia no escalão principal.

Bamba faz parte dos melhores onze jogadores da competição, de acordo com o site de estatísticas “Whoscored”, sendo o único “desconhecido” numa seleção da qual fazem parte craques como Sterling, Agüero, Hazard e Fernandinho. Apresenta uma média por jogo de 2.5 desarmes, 2.7 interceptações e apenas 1.2 faltas.

Fez toda a formação no PSG

Nascido em França, Sol Bamba também tem nacionalidade costa-marfinense e escolheu representar a seleção africana, pela qual tem 44 internacionalizações e dois golos. Ou melhor, nem deve ter tido oportunidade de escolha, pois nunca terá havido efetivo interesse da federação francesa em o chamar, pois nunca teve grande destaque na carreira, com exceção do atual momento.

O seu primeiro clube foi o Paris Saint-Germain. Chegou aos 11 anos, depois de um olheiro do clube ter reparado nele quando jogava futebol nas ruas de Paris. Curiosamente, revelou anos mais tarde que não aceitou a proposta do Paris Saint-Germain à primeira. “A minha mãe opôs-se, pois queria que eu estudasse para vir a ser médico. Mas lá acabei por convencer a minha mãe”, contou.

Um minuto na equipa principal

Como a sua família não tinha dinheiro para pagar as deslocações até ao centro de treinos do Paris Saint-Germain, passou a viver na Academia. Nesses tempos, jogava como médio e só aos 15 anos é que recuou para defesa central. Curiosamente, tal só aconteceu porque teve de entrar em vez de um companheiro de equipa que se atrasou para o jogo devido ao trânsito.

Depois de cumprir toda a formação no Paris Saint-Germain, acabou por alinhar apenas num jogo ao serviço da equipa principal, na época de 2004/05, com o Nice, e apenas durante um minuto, como suplente utilizado.

Sol Bamba andou por Escócia, Turquia e Itália

Aos 21 anos, já sem qualquer ligação ao clube francês, mudou-se para os escoceses do Dunfermline Athletic, mas as coisas não lhe correram bem e o clube desceu para o segundo escalão. Ainda assim, manteve-se na divisão principal da Escócia, ao serviço do Hibernian, até que em janeiro de 2011 transferiu-se para o Leicester, que na altura estava na II Liga inglesa.

Jogou bastante durante a temporada e meia em que representou os ingleses e em 2012/13 e 2013/14 esteve na Turquia, ao serviço do Trabzonspor, sem grande destaque. No verão de 2014 experimentou a Série A italiana, ao serviço do Palermo, mas só fez um jogo e foi dispensado em janeiro de 2015 e cedido ao Leeds United, do segundo escalão inglês. Melhorou bastante de rendimento em Elland Road, mas foi no Cardiff City que encontrou a sua praia.

Só superado por Ibrahimovic

Está nos galeses desde janeiro de 2016 e logo se assumiu como um jogador importante. De resto, na última época foi uma das pedras-chave na brilhante carreira do clube, que conseguiu a promoção ao primeiro escalão e fez parte do onze ideal do “Championship”. Manteve a titularidade indiscutível esta época e já marcou quatro golos no campeonato. E tornou-se no segundo jogador mais velho a marcar seu primeiro golo na I Liga inglesa, só superado por Zlatan Ibrahimovic.

O seu golo mais importante foi o que deu a vitória diante do Brighton, obtido já em período de compensações. O central tirou a camisola nos festejos e até celebrou com a mesma nas mãos. Incrivelmente, escapou ao cartão amarelo. “O árbitro perguntou-me se eu tinha tirado a camisola nos festejos e respondi que não”, atirou em entrevista rápida ao seguir ao jogo.

“É melhor do que Van Dijk”

Neil Warnock, treinador do Cardiff City, já destacou a importância de Sol Bamba na sua equipa. E até já disse que o considera melhor defesa do que Virgil van Dijk. O central do Liverpool que custou 79 milhões de euros aos “reds”. Bamba não concordou. “Jamais diria isso”, atirou, bem-disposto.

O central também se desfaz em elogios ao seu técnico e fez uma curiosa revelação. “O mister está sempre a pedir-me para que eu não tente imitar o Beckenbauer e que me limite a afastar a bola. É por isso que gosto do nosso treinador. E sempre honesto”. O homem que treina o Cardiff e que na temporada passada conseguiu a oitava subida de divisão na carreira.

O dia em que empurrou o treinador

No entanto, a relação entre Warnock e Bamba já viveu tempos mais complicados. O central discutiu de forma acalorada com o treinador e até o chegou a empurrar, depois de ter sido expulso, num jogo com o Ipswich, em dezembro de 2016. “Tive uma atitude muito má e apercebi-me disso mal cheguei a casa depois do jogo. Fiquei envergonhado porque digo aos meus filhos para se portarem bem e depois acabei por ter um comportamento reprovável. Aquele gesto é uma das coisas de que mais me arrependo”, reconheceu.

A resposta irónica da esposa

Fora do campo, a vida também corre bem a Bamba, ao lado da sua mulher, Chloë Elizabeth. Mas o futebolista tem de se “pôr a pau”. Ela costuma ser bastante ativa nas redes sociais e recentemente não deixou passar em claro um comentário do marido. Depois de um adepto do Cardiff City se ter queixado no Twitter pelo central lhe ter partido os óculos durante os festejos de um golo, o veterano defesa respondeu-lhe. “Meu, abraçaste-me com mais força do que alguma vez a minha mulher o fez”.

Poucos minutos depois surgiu a resposta de Chloe, na caixa de comentários: “WTAF? Não esperas pela demora”, com Bamba a ripostar logo de seguida: “Desculpa, babe”. Ficou por saber se Chloë estava a brincar ou a falar a sério.

Ativo na luta contra o racismo

Sol Bamba tem-se destacado como um dos jogadores mais ativos do futebol europeu na luta contra o racismo. Recentemente, protestou contra os insultos racistas sofridos por Sterling, jogador do Manchester City, por parte de alguns adeptos do Chelsea. “Garanto que se eu estivesse nas bancadas e tivesse ouvido aquilo, iria reagir. Não conseguiria estar sentado a assistir a um jogo de futebol e ver alguém ser abusado daquela maneira e não dizer nada. Este tipo de comportamentos é reflexo da sociedade em que estamos inseridos. Os adeptos do futebol têm de denunciar este tipo de comportamentos”. Sol Bamba defendeu isto durante um programa de televisão inglês dedicado ao racismo. Na sua opinião, “tinha havido uma melhoria nesta matéria, mas nos últimos anos voltámos a regredir e têm-se sucedido incidentes deste género em jogos de futebol”.

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