Os milhões que os grandes têm no banco

Os milhões que os grandes têm no banco

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Os milhões que os grandes têm no banco

A maior parte dos futebolistas mais caros de FC Porto, Benfica e Sporting não têm dado grande retorno desportivo e ao longo da sua passagem por estes clubes têm passado mais tempo no banco ou na bancada.

Artigo de André Cruz Martins

15-03-2018

Como é sabido, os três grandes do futebol português têm gasto muitos milhões de euros no reforço dos seus plantéis nos últimos anos. Costuma dizer-se que o caro acaba por sair barato, quando os jogadores justificam em campo o alto valor investido nos seus passes.

No entanto, ao contrário do que seria suposto, a maior parte dos futebolistas mais caros de FC Porto, Benfica e Sporting não têm dado grande retorno desportivo e ao longo da sua passagem por estes clubes têm passado mais tempo no banco ou na bancada. Os maiores exemplos são Jiménez, Zivkovic e Rafa, no Benfica – é verdade que os dois últimos melhoraram substancialmente nas últimas semanas, mas vamos aguardar mais algum tempo para perceber se é para valer ou apenas “fogo de vista” – Wendel e Doumbia no Sporting e Óliver Torres no FC Porto.

Raúl Jiménez

Raúl Jiménez foi “apenas” a contratação mais cara da história do futebol português (22 milhões de euros) mas que em quase três épocas completas na Luz nunca se assumiu como titular indiscutível: soma 29 partidas no onze inicial de Rui Vitória e 82 como suplente utilizado, com 28 golos marcados. Um rendimento muito abaixo das expetativas para alguém que custou tanto dinheiro.
Para encontrarmos a última ocasião em que Raúl Jiménez foi titular temos de recuar até 31 de outubro do ano passado, na derrota caseira com o Manchester United (0-1). E a verdade é que, esta época, o seu rendimento ainda decresceu face às temporadas anteriores, só tendo sido titular em cinco jogos. Curiosamente foi escalado para o onze inicial em três jogos da Liga dos Campeões, o que poderá ter uma de duas explicações: dar-lhe “palco”, na tentativa de que se cumpra a “profecia” de Luís Filipe Vieira de que Raúl Jiménez “vai ser a transferência mais cara de sempre em Portugal”; a constatação, por parte de Rui Vitória, do rendimento desolador do habitual titular Jonas em jogos da competição europeia, na qual soma apenas dois golos em 16 jogos de águia ao peito.

Rafa

Rafa não custou tanto dinheiro como Raúl Jiménez, mas os 16,4 milhões de euros pagos pelo Benfica ao Sp. Braga no verão de 2016 tornaram-no, a larga distância, na transferência mais cara de sempre entre clubes portugueses. É verdade que o extremo de 24 anos tem ganho protagonismo nos últimos tempos e foi titular nos últimos cinco encontros, aproveitado a lesão de Salvio, mas será preciso esperar mais algumas semanas para confirmar se o mau tempo já lá vai.
Para se ter uma noção da travessia no deserto de Rafa, basta referir que o golo marcado diante do Paços de Ferreira, a 24 de fevereiro, significou a quebra de um longo jejum de exatamente um ano sem faturar. De resto, a falta de golo é uma das críticas habituais a Rafa e na sua época de estreia no Benfica já tinha desiludido os adeptos, com apenas dois apontados. Contas feitas, em duas temporadas na Luz, tem apenas três golos, 29 jogos como titular e 21 como suplente utilizado, não tendo saído do banco em muitas ocasiões, para além de ter chegado a ficar de fora dos convocados.
O seu fraco rendimento levou a que a saída no mercado de janeiro tenha sido uma forte hipótese, isto de acordo com vários órgãos de comunicação social. No entanto, acabou por permanecer e parece começar a justificar a forte aposta do Benfica. Tem ganho preponderância na equipa e melhorou bastante na definição dos lances. Será para continuar?

Zivkovic

Alegadamente, o extremo sérvio chegou ao Benfica a custo zero, no verão de 2016. Mas afinal de contas, os relatórios e contas da SAD mostraram que o verdadeiro custo do seu passe foi 6 milhões de euros. Há ainda um facto curioso a destacar: na rubrica de fornecedores de investimento é mencionada uma empresa, Zile Football Management, a quem o Benfica deve 4,25 milhões de euros, valor que fará parte do montante global de seis milhões. A Zile Football Management foi criada apenas a 27 de junho de 2016, poucos dias antes de Zivkovic ser anunciado como futebolista dos encarnados e Jovica Zivkovic, o pai do futebolista, surge como diretor dessa empresa.
Tido como um dos maiores talentos sérvios da atualidade, o pequeno extremo teve uma primeira temporada apagada na Luz, tendo alinhado a 17 jogos como titular e sete como suplente. Tudo piorou na época atual, em que chegou a ficar várias vezes de fora dos convocados.
Tudo mudou nas últimas semanas, depois da grave lesão sofrida por Krovinovic. A primeira opção para substituir o antigo jogador do Rio Ave foi João Carvalho, mas a sua resposta nesse jogo com o Belenenses não terá sido do agrado de Rui Vitória, que o substituiu por Zivkovic no jogo seguinte.
E a verdade é que a jogar numa posição mais central no meio campo, Zivkovic melhorou a olhos vistos e já vai em seis partidas consecutivas como titular, quase sempre com rendimento bastante interessante e com dois golos marcados. A ver vamos se conseguirá manter a bitola e equilibrar os seus números: em praticamente duas temporadas de águia ao peito, só foi titular por 31 vezes, tendo marcado apenas quatro golos.

Óliver Torres

Em igualdade com Imbula, foi a contratação mais cara de sempre do FC Porto, que em fevereiro de 2017 exerceu a cláusula de compra do passe do seu passe e pagou 20 milhões de euros ao Atlético de Madrid. Um valor que poderá ter parecido exagerado, mas que se poderia justificar, dado que o jovem médio espanhol era titular indiscutível nos azuis e brancos.
Óliver Torres começou esta temporada como titular na equipa de Sérgio Conceição, mas rapidamente perdeu o lugar. Depois de uma longa ausência, teve uma oportunidade no onze inicial frente ao Moreirense, a 30 de janeiro, formando dupla na zona central do meio campo com Herrera, aproveitando a ausência do lesionado Danilo. No entanto, desaproveitou a chance concedida por Sérgio Conceição, não voltou a ser titular e a maior parte das vezes nem tem saído do banco.
Os seus números na atual temporada não se coadunam com o valor do seu passe: 11 como titular e oito como suplente utilizado, não tendo sido opção em 24 encontros na temporada em curso.

Wendel

O jovem médio brasileiro de 20 anos chegou no início de janeiro ao Sporting e não foi barato, tendo custado 8,7 milhões de euros (7,5 milhões pelo passe e 1,2 pelas comissões). No entanto, ainda não somou um único minuto de leão ao peito. Logo aquando da sua chegada, Jorge Jesus avisou: “Taticamente, isto é tudo chinês para ele, tem muito para aprender. Fomos busca-lo numa perspetiva de futuro”.
No entanto, mesmo depois destas declarações, não se pensaria ser possível que uma das grandes revelações do futebol brasileiro dos últimos anos chegasse a esta altura a zero. Um facto que até motivou uma reunião entre representantes do médio e dirigentes do Sporting e que não deixou Jorge Jesus indiferente: “Não sei se a reunião com os representantes do Sporting foi com esse conteúdo, porque se foi devem estar enganados e não sabem com que clube estão a falar e muito menos com que treinador é que estão a lidar”.
Resta saber se Wendel ainda terá oportunidades na época em curso ou se teremos de esperar por 2018/19 para percebermos do que é capaz de fazer fora do seu país. Uma coisa é certa: não se poderá mostrar na Liga Europa, pois Jorge Jesus não o inscreveu.

Doumbia

O Sporting só pagou 3,5 milhões de euros pelo passe de Doumbia, mas teve de acrescentar 3 milhões de prémio de assinatura e 700 mil euros em comissões. Contas feitas, despendeu um total de 7,2 milhões e até ver, o avançado costa-marfinense não correspondeu às expetativas e atualmente até se encontra impossibilitado de jogar, depois da lesão contraída diante do FC Porto.
Quando no último verão chegou a Portugal, muitos terão certamente pensado que seria o parceiro preferencial de Bas Dost no ataque. No entanto, Jorge Jesus logo avisou que o costa-marfinense precisava de tempo para se adaptar a jogar com o holandês. E a verdade é que já parece ter desistido de os colocar lado a lado no onze inicial, pois a 21 de dezembro admitiu que “os dois não colam”.
O técnico dos leões tem-se mantido fiel ao seu pensamento e esta temporada não houve um único jogo em que tenha apostado nos dois pontas de lança de início, embora quando o cenário durante as partidas está difícil costume lançar o africano em campo para fazer parelha com o holandês.
Doumbia ainda não marcou no campeonato, em que soma 501 minutos divididos por 13 jogos, embora se possa queixar de um golo mal anulado no jogo com o Feirense, erro que até foi reconhecido pelo Conselho de Arbitragem. Viu-lhe ainda outro golo ser mal invalidado na Liga Europa, com o Astana e no total faturou por oito vezes, em 26 encontros (13 como titular e 13 como suplente utilizado), a uma média de um golo por cada 153 minutos, que baixaria para 122 minutos caso tivessem sido considerados os dois golos legais. Até pode dar ideia de serem números bastante razoáveis, mas cinco desses oito golos foram obtidos diante dos modestos Vilaverdense e União da Madeira.

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André Cruz Martins

15-03-2018



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