Com grande parte da formação feita no Sporting, Matheus Pereira acabou por não revelar grande rendimento na equipa principal dos leões, que representou apenas em 27 jogos. Foram somente 1.141 minutos nos quais marcou 6 golos e fez 4 assistências. Seguiram-se empréstimos ao Chaves e aos alemães do Nuremberga até que se mudou, em definitivo, para os ingleses do West Bromwich num negócio de apenas 8,25 milhões de euros. Agora, e depois de passagens pelo Al-Hilal e Al-Wahda, brilha com a camisola dos brasileiros do Cruzeiro. Ao ponto de ser apontado como o maior craque do Brasileirão e ser desejado na seleção brasileira.
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Até ao momento, o camisola 10 do Cabuloso conta com 8 golos e 10 assistência em 31 jogos. As exibições são de encher o olho e, no mundo virtual, os adeptos pedem que Matheus Pereira, de 28 anos, seja chamado à seleção brasileira que foi uma desilusão na Copa América. “Faz falta na seleção” é apenas um dos muitos comentários que se encontram nas redes sociais. Mas se hoje brilha no Cruzeiro, Matheus já viveu um passado marcado pelo consumo de drogas e abuso de bebidas alcoólicas. Ao ponto de ter pensado acabar com a própria vida.
“Quero morrer, não tenho mais solução”
Foi em conversa com o The Palyers Tribune Brasil que Matheus Pereira abriu o livro sobre os momentos mais sombrios da vida. E da dificuldade que foi a experiência no Al-Hilal, clube ao qual chegou em 2021 depois de brilhar em Inglaterra. “Foi uma experiência muito difícil, costumo dizer que não gostaria de passar por ela novamente. Não vou dizer que foi a pior experiência que tive, mas comecei a entrar em decline psicológico. As coisas foram piorando quando o rendimento profissional também começou a cair muito. Comecei a perder muito peso. Cheguei lá a pesar 81 quilos e cheguei a pesar 67”, começa por dizer.
“Nunca tinha falado com a minha mulher sobre como me sentia, e a melhor coisa que fiz foi abrir o meu coração com ela. Fez todos os possíveis para me agarrar aquele momento, foi muito guerreira, mas eu não via uma luz no fundo do túnel. Comecei a cair em algumas coisas que já tinha caído antes, voltei a beber e as coisas foram piorando. Não tinha vontade de fazer nada, só queria ficar em casa. Pensava ‘quero morrer, não tenho mais solução’. Depois lembrei-me que já tinha caído uma vez, duas… Juntei tudo e pensei ‘não quero saber de mais nada nem de ninguém. Vou acabar com isto’. Era como se quisesse morrer todos os dias”, desabafa.
“Passava noites em claro a beber vinho, cerveja”
“[Passado algum tempo] Fui viver num hotel, vivia no 19.º andar. Aparentemente, temos uma vista espetacular, o hotel era dos melhores. Mas voltou-me tudo, mas tudo mais forte. Queria matar-me, não queria jogar. Passava noites em claro a beber vinho, cerveja, chegava a beber duas ou três garrafas sozinho. Um dia parei no 19.º andar, abri a janela e pensei ‘vou saltar daqui’. A minha mulher, desesperada, só dizia ‘não, não’. Comecei a fazer quatro sessões de terapia por semana. Cheguei a ficar internado no hospital. Hoje em dia, vês a pessoa a sorrir e achas que está tudo bem. Na minha mente era morte, morte e morte”, revela.
Droga antes de um Sporting – Benfica
É na mesma entrevista que Matheus Pereira recorda um momento vivido na véspera de um Sporting – Benfica. “[Quando cheguei a Portugal] Comecei a treinar num clube na Costa da Caparica, Trafaria, e ainda não podia competir. Um olheiro do Sporting chamou-me para fazer uns testes e no segundo passei. Fui morar no centro de treinos [Alcochete] e comecei a conviver com as pessoas que também viviam lá. Nessa altura, conheci um mundo sombrio quando me envolvi com bebidas, muitas mulheres, as companhias não eram as melhores… Uma vez íamos jogar contra o Benfica no sábado e eu lembro-me que na sexta-feira me juntei com uns colegas e comecei a enrolar droga, a fazer isso tudo. No dia seguinte jogava. Peguei na droga, olhei para ela e pensei ‘hoje não vou fumar, amanhã tenho jogo e não quero’”, recorda.
“Fui para o jogo no dia seguinte, ganhámos e joguei bem. O médico chega perto de mim depois do jogo e diz-me ‘tens de ir ao controlo antidoping’. Acredito muito que, na noite anterior, Espírito Santo disse-me que eu não precisava daquilo. A partir daquele dia, larguei as drogas”, termina.
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