Não foi assim há tanto tempo que Luís Filipe Vieira e Pinto da Costa eram muito amigos e visita de casa um do outro. No seu livro autobiográfico, Pinto da Costa revelou que considerava Vieira “um aliado” nos tempos em que este era presidente do Alverca, no final do século passado.
As suas famílias eram íntimas e havia uma grande amizade entre as respetivas mulheres (Sandra Vieira e Filomena Pinto da Costa) e as filhas de ambos, Sara Vieira e Joana Pinto da Costa. A amizade era tão grande que, de acordo com o “Correio da Manhã”, chegaram a passar férias na casa de férias do presidente portista, em Vila Nova de Cerveira.
Negócios no futebol
Não era apenas uma forte amizade que unia Pinto da Costa e Luís Filipe Vieira. Profissionalmente, também tinham uma boa relação, como se prova pelos vários negócios que Alverca e FC Porto fizeram na altura. Depois de uma curta passagem pelo Alverca, os ex-benfiquistas Deco, Maniche e Ovchinnikov chegaram ao FC Porto.
E se o guarda-redes russo não teve grande sucesso nos azuis e brancos – ainda assim foi titular indiscutível em 2000/01, tendo realizado 48 jogos – já Maniche e Deco foram figuras de proa e dois dos jogadores mais importantes na conquista da Taça UEFA e da Liga dos Campeões por parte do FC Porto, em 2002/03 e 2003/04.
Sócio do FC Porto durante 24 anos
Em 2001, Luís Filipe Vieira deixou a presidência do Alverca e tornou-se no homem forte do futebol do Benfica, na altura presidido por Manuel Vilarinho. Curiosamente, na altura, para além de sócio do Benfica, Luís Filipe Vieira era igualmente afiliado no Sporting e do FC Porto.
No caso do clube de Alvalade, justificou-o pelos problemas nas costas que o levaram a praticar natação nas piscinas do clube, enquanto no caso dos azuis e brancos, foi por influência de José Carvalho, seu antigo sócio numa empresa de pneus. “Em 1984 convidei-o para me acompanhar a Basileia, para assistir à final da Taça das Taças com a Juventus. Ele aceitou e o nosso amigo Jorge Nuno Pinto de Sousa inscreveu-nos como sócios do F. C. Porto, no mesmo dia”, revelou José Carvalho ao “Jornal de Notícias”
Pediu para deixarem de pagar as quotas
Luís Filipe Vieira foi sócio portista entre 1984 e 2008, ano em que pediu a José Carvalho, que sempre lhe pagou as quotas, para que o deixasse de fazer. “Ele estava muito triste e da maneira que falava, pensei até que lhe tinha falecido algum familiar. Pediu-me para deixar de pagar e eu fiz-lhe a vontade”, contou José Carvalho na mesma entrevista ao “Jornal de Notícias”.
O motivo para este pedido de Vieira foi o facto de Bruno Costa Carvalho, na altura candidato a presidente do Benfica, ter feito um enorme cartaz com 1,70 metros de altura, em que mostrava os futebolistas do FC Porto a celebrarem o quarto título de campeão consecutivo, com a seguinte inscrição: “Até quando os vamos deixar ganhar? Parabéns ao sócio nº 17.599 do F. C. Porto, Luís Filipe Vieira”.
Azedar da relação começou com José Veiga
Em 2003, Vieira foi eleito presidente do Benfica e não demorou muito a convidar José Veiga, grande amigo de Pinto da Costa, para diretor do futebol das águias. E terá sido a partir desse momento que a relação entre Vieira e Pinto da Costa começou a azedar.
As trocas públicas de palavras menos agradáveis entre os dois tornaram-se cada vez mais frequentes, não raras vezes com insultos pessoais pelo meio. No início desta guerra, Pinto da Costa estava claramente em vantagem: para além do FC Porto ser um clube que ganhava muito mais vezes, tinha uma “arma” poderosa, que manejava com frequência: o facto de Luís Filipe Vieira ser sócio do FC Porto.
“Ele ia ter comigo ao Porto para festejar as vitórias do Alverca sobre o Benfica”, disse várias vezes, com Vieira a ripostar: “Ofende-me dizerem que sou portista. Não tenho nada a ver com esse clube e, por mim, podem fazer o que quiserem ao cartão ou à ficha de inscrição. Foi o Jorge Nuno Pinto de Sousa que me fez sócio, mas não sei, nem estou interessado em saber, quem é que paga as quotas mensalmente”.
As frases mais polémicas
Nos últimos anos, as trocas de palavras entre os dois presidentes tornaram-se menos frequentes, mas não a guerra entre FC Porto e Benfica, só que tendo como protagonistas elementos dos departamentos de comunicação. Aqui fica um resumo das frases mais polémicas trocadas entre ambos.
Pinto da Costa, 27/07/18
“O Sporting passou por uma situação difícil, jogadores rescindiram, felizmente alguns já reconsideraram, daí resultou uma fragilidade e o presidente do rival disse que ia perder a cabeça e buscar jogadores ao rival. Ontem nos EUA talvez por inspiração de Trump veio fazer um apelo à amizade e carinho. É contra estes senhores que vou continuar a lutar com a mesma força, entusiasmo e determinação”.
Luís Filipe Vieira, 23/07/15
“Pinto da Costa é livre de dizer o que quiser não creio que ele seja a melhor pessoa para falar de arbitragens em Portugal. Pode haver outras pessoas no FC Porto que o possam fazer, mas seguramente que ele não é uma delas. Ganhámos o campeonato com mérito, fomos líderes desde a 5.ª jornada. Às vezes, devemos olhar para dentro de nossa casa antes de atirar pedras. Sei que, por vezes, é mais fácil sacudirmos as nossas responsabilidades, mas é uma afirmação que não faz qualquer sentido”.
“Vergonha é agredir jornalistas por terem opinião”
Luís Filipe Vieira, 17/08/12
“Vergonha é ser condenado por corrupção desportiva, foi saber-se que houve quem corrompesse árbitros com prostitutas e outros esquemas. Deveriam recordar a imagem de árbitros como José Pratas, e outros, a fugirem de jogadores e adeptos. Vergonha é agredir jornalistas por terem opinião, intimidar pessoas do próprio clube, apenas porque pensam de forma diferente, ou ameaçar ou agredir jogadores apenas porque estes não querem renovar ou ser emprestados”.
Pinto da Costa, 17/08/12
“Vergonha teria se tivesse sido condenado por roubo, fosse no tribunal da Boa Hora ou noutro qualquer. De resto não entro nessa conversa porque não estou em campanha eleitoral. E quando estou não preciso de entrar em guerras com ninguém para ter os sócios do meu lado. Não preciso de ofender ninguém como estratégia para tentar armar em vítima quando os meus jogadores cometem atos irrefletidos”.
“Vergonha teria se tivesse sido condenado por roubo”
Luís Filipe Vieira, 24/05/12
“A história do FC Porto foi marcada por fruta, corrupção e compadrio. O seu sucesso é e foi construído com base na maior mentira do desporto português. O sistema ainda não acabou, continua baseado na intimidação, na violência e nos favores.
Na vida, como nos livros, um ladrão não deixa de ser ladrão por declamar poesia, ou por ir ao Papa. Um fugitivo da justiça não o deixa de ser apenas porque alguns juízes decidiram assobiar para o lado. As nossas razões podem não chegar à UEFA, como não chegaram as escutas da fruta, como não chegaram para a justiça portuguesa as escutas do café com leite, mas nós não vamos parar enquanto não limparmos o desporto português”.
Pinto da Costa, 11/05/12
“Este campeonato teve um sabor especial. Parece que já existiam por aí faixas de campeão guardadas e que existiam umas t-shirts estampadas que, agora, pouco mais servirão do que para limpeza. Podem colocar todos os papagaios a falar, pois, se disserem mais do que olá, só sai asneira”.
“Um ladrão não deixa de ser ladrão por declamar poesia, ou por ir ao Papa”
Luís Filipe Vieira, 26/02/10
“Há gente que perdeu o pouco que lhe restava de vergonha. Não há vítimas, nem cortinas de fumo, nem conferências de imprensa coletivas ou manifestações encomendadas que possam branquear certos comportamentos. Alguns ainda não se habituaram à mudança: num tempo atrás, dominado pela escuridão, não vi os ofendidos de hoje levantarem a sua voz de indignação”.
Luís Filipe Vieira, 05/04/09
“A justiça portuguesa declarou que alguns podem continuar a agir fora da lei com total impunidade. Ficámos a saber que os presidentes dos clubes de futebol podem receber árbitros em casa na véspera dos jogos, porque, para a justiça portuguesa, trata-se de um ato normal que não merece condenação, nem recriminação pública”.
“Podem colocar todos os papagaios a falar, pois, se disserem mais do que olá, só sai asneira”
Luís Filipe Vieira, 16/03/09
“Poderá alguém celebrar um sucesso construído em práticas ilícitas? Já sabemos que sim, mas esse não é o nosso destino. O nosso destino é acabar com a impunidade e aqueles que pensaram, e continuam a pensar, que as ações mais baixas não acarretariam consequências têm de saber que o futebol português vive bem sem o compadrio, a mentira e a corrupção. Têm de sentir que a justiça atua e castiga, têm, por fim, de saber que a justiça divina vem depois, mas, antes, que têm de responder pela justiça dos homens”.
Luís Filipe Vieira, 05/06/08
“O que me surpreende é o descaramento de algumas pessoas mais preocupadas em desfocar a realidade conhecida de todos. A CD da Liga limitou-se a verificar e a denunciar a realidade que o futebol português viveu na época de 2003/04. Se a investigação tivesse abrangido anos anteriores, a dimensão dos apitos seria bastante maior”.
“Poderá alguém celebrar um sucesso construído em práticas ilícitas? Já sabemos que sim, mas esse não é o nosso destino”
Pinto da Costa, 12/04/08
“Podem constituir-me arguido todos os dias, podem dizer que fiquei com o dinheiro da Dona Branca, podem dizer que ando com pó branco nos pneus do meu automóvel, podem dizer o que quiserem e dar credibilidade a quem quiserem, por mais desonesto que seja. Acredito na justiça divina e prometo lutar eternamente para que o FC Porto seja o maior. Até podem comprar testemunhas por aí nas feiras, que eu hei-de continuar a orgulhar-me de ser do FC Porto e de Portugal. Quantas mais vitórias tivermos, mais os invejosos, mais os desonestos tentarão montar cabalas e tentarão destruir-nos, não conseguirão”.
Pinto da Costa, 10/08/07
“Quem falou sempre no Apito Dourado foi o senhor Luís Filipe Vieira, que tem necessidade de justificar os insucessos. Vieira entrou com fanfarronices, a dizer que iam ganhar tudo e acabaram por não ganhar nada”.
“Quantas mais vitórias tivermos, mais os invejosos, mais os desonestos tentarão montar cabalas e tentarão destruir-nos”
Luís Filipe Vieira, 22/12/06
“Há corrupção no futebol português. É gravíssimo o que se passou e o que se continua a passar. Pinto da Costa está na crista da onda, pois tem uma boa equipa e um bom treinador, mas está nos últimos anos do seu mandato e, assim como os cisnes, também canta antes de desaparecer deste mundo”.
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