Jorginho, o menino-bonito de Sarri, bateu recorde indesejado na liga inglesa

Jorginho, o menino-bonito de Sarri, bateu recorde indesejado na liga inglesa

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Jorginho, o menino-bonito de Sarri, bateu recorde indesejado na liga inglesa

O médio ítalo-brasileiro chegou esta época ao Chelsea, vindo do Nápoles, e custou 56 milhões de euros aos “blues”.

Artigo de André Cruz Martins

02-03-2019

Foi a contratação mais importante do Chelsea para esta temporada e um pedido especial de Maurizio Sarri. Pretendido também pelo Manchester City de Guardiola, Jorginho deu nega ao espanhol para continuar a trabalhar com o treinador italiano, que já conhecia dos tempos do Nápoles. O médio pegou de estaca no onze inicial dos “blues” e agora bateu um daqueles recordes que ninguém quer ser o detentor.

Na vitória do Chelsea frente ao Tottenham (2-0), o médio internacional italiano completou 2.332 passes nos jogos dos londrinos, desde que ingressou na liga inglesa, tornando-se assim o jogador com maior número de passes completos na prova sem ter realizado nenhuma assistência para golo. Jorginho, que custou 56 milhões, bateu o recorde de Leon Britton, do Swansea, com 2232 passes, e de Barry Ferguson, em 2009/10, pelo Birmingham, com 2.168 passes.

A nega ao Manchester City

Pep Guardiola, o técnico dos “citizens”, não teve problemas em reconhecer que estava bastante interessado no futebolista brasileiro, mas reagiu com “fair play” à derrota. “Fiquei desiludido, pois tentámos tê-lo connosco, mas a verdade é que o meu conselho para todos os jogadores é que eles devem ir para onde querem. Teria sido um erro para o Jorginho e para nós se ele tivesse decidido vir para cá em vez de acompanhar o Maurizio para Londres”, frisou.

Cão assume papel de guarda-redes e evita golo. Veja o vídeo:

Jorginho reconheceu que a chegada de Sarri ao Chelsea pesou na sua decisão.“Ele não me ligou pessoalmente, pois não é muito de ligar aos jogadores. Mas claro que, através de intermediários, eu sabia da vontade dele em contar comigo e do papel que queria que eu desempenhasse na equipa”, realçou.

Preferiu Itália ao Brasil

Há jogadores que não têm grandes possibilidades de escolha ao longo da carreira mas felizmente para Jorginho passa-se o contrário no seu caso. Como já vimos, pôde optar entre o Manchester City e o Chelsea e escolheu os londrinos; o mesmo se passou a nível de seleções: havia interesse do Brasil, o país onde nasceu e de Itália, a pátria que o recebeu de braços abertos quando aos 15 anos decidiu tentar a sorte na formação do Hellas Verona. E escolheu a “squadra azzurra”.

“A seleção brasileira sempre vi como uma coisa muito distante, pelo facto de nunca ter atuado no país profissionalmente. Como a Itália me abriu as portas, não podia ser eu a fechá-las”, reconheceu. Ainda assim, confessa que chegou a vacilar. “O Edu Gaspar [ diretor de seleções da Confederação Brasileira de Futebol] ligou-me a contar que o Tite [selecionador brasileiro] estava a observar-me. Foi quando minha cabeça foi a um milhão. Eu deitava e colocava a cabeça no travesseiro, conversava com a minha esposa e perguntava-lhe: ‘meu Deus, o que eu vou fazer’?”.

Falhou o Mundial na estreia oficial

Refira-se que o médio já tinha representado a equipa principal italiana, mas apenas em encontros particulares, o que o deixava elegível para o Brasil. Algumas semanas depois da conversa com o responsável da CBF, Jorginho recebeu a notícia de que estava convocado para a seleção italiana tendo em vista os jogos com a Suécia do “play-off” de apuramento para o Campeonato do Mundo da Rússia. “Tinha de aceitar. Liguei para o Edu [Gaspar] e falei o que aconteceu. Disse-lhe ‘Edu, muito obrigado, mas vou seguir o meu caminho”, revelou.

Curiosamente, a estreia oficial na seleção A italiana não foi a melhor, pois a “squadra azzurra” falhou pela primeira vez em 60 anos a presença no Mundial E a travessia no deserto continua, pois a Itália não conseguiu a qualificação para a “final four” da Liga das Nações, num grupo em que Portugal foi mais forte.

Treinado pela mãe e dificuldades na infância

Jorginho nasceu e foi criado em Imbituba, no litoral Sul de Santa Catarina e cedo mostrou jeito para o futebol. Curiosamente, foi a mãe, Maria Tereza Freitas, quem lhe incutiu o gosto pela modalidade. “ A minha mãe jogava à bola e aprendi muito com ela. Aliás, ainda hoje ela joga e entende bastante. Levava-me para a praia com a bola e passávamos a tarde toda a jogar e a fazer trabalho técnico na areia”, conta.

Entretanto, o pequeno Jorginho passou por alguns problemas: quando tinha 6 anos, os pais separaram-se e a mãe passou a trabalhar como doméstica, enquanto o pai mudou de cidade. O gosto pelo futebol manteve-se e aos 13 anos foi selecionado por empresários italianos para um projeto futebolístico em Guabiruba, a 180 km da sua cidade. Ficou por lá durante dois anos, juntamente com outros 50 miúdos, mas nem tudo foi fácil. “Comia a mesma coisa três vezes por dia, faltava luz muitas vezes e o banho era frio”, contou. Ainda assim, a sua família não o deixou desistir e aos 15 anos apareceu a proposta do Hellas Verona e mudou-se para Itália.

Enganado pelo empresário

No entanto, em Itália, voltou a passar por uma situação pouco agradável. “Descobri que o meu empresário recebia 30 mil euros para colocar garotos no Verona. Eu quando lá cheguei, como juvenil, ganhava apenas 20 euros por semana, o que não dava para nada. Colocava cinco euros de crédito de telefone, uma carga de seis, que já dava 11 euros, produtos de higiene, que ia para 15 e o resto usava para entrar na internet falar com a família. Tudo isto durante um ano e meio”, conta, acrescentando: “Fiquei seis meses nos juvenis e um ano nos juniores. Passei a treinar com os profissionais e foi então que conheci o Rafael Pinheiro [guarda-redes titular do Hellas Verona na altura], que é quase um irmão para mim. Contei-lhe a minha história e ele não acreditou, entrou em desespero. A partir daí ele não me deixou faltar nada, apresentou-me o empresário dele [o português João Santos]”.

Da quarta divisão até ao Chelsea

No entanto, as coisas ainda demoraram a encarreirar. Apesar do interesse do Hellas Verona em assinar contrato profissional com ele, ainda estava preso ao empresário italiano, seu tutor até que completasse 18 anos.

Valeu-lhe o facto do clube italiano o ter ajudado por fora, sem que o agente soubesse. Quando completou 18 anos, livrou-se do empresário italiano, passou a ser representado pelo português João Santos e assinou contrato profissional com o Hellas Verona.

Por essa altura, foi emprestado ao Sambonifacese, da quarta divisão italiana, onde foi titular indiscutível. Regressou ao Hellas Verona, onde esteve duas épocas e meia e foi peça-chave na subida ao escalão principal e em janeiro de 2014 mudou-se para o SS Nápoles, onde viveu quatro temporadas e meia de sucesso, até se transferir para o Chelsea, por 57 milhões de euros. E para já, tudo lhe corre sobre rodas em Londres, inclusivamente na vida pessoal: a 2 de dezembro foi pai de uma menina, segundo filho em comum com a sua mulher Natália.

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André Cruz Martins

02-03-2019



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