Tudo parecia perdido para o Shakhtar Donetsk nesta edição da Liga dos Campeões. À entrada para a quinta e penúltima jornada da fase de grupos, a equipa de Paulo Fonseca tinha apenas dois pontos e ocupava o último lugar do Grupo F. No entanto, a conjugação de resultados dessa ronda fez acender uma grande luz de esperança para os ucranianos.
O Shakhtar ganhou em casa do 1899 Hoffenheim, com o 3-2 final a ser marcado por Taison aos 90’2; por outro lado, em caso de vitória do Olympique Lyon diante do Manchester City, os franceses teriam garantido um lugar nos oitavos de final, mas verificou-se um empate a duas bolas.
As contas são fáceis de fazer: para assegurar o segundo lugar e juntar-se ao Manchester City nos oitavos de final, bastará ao Shakhtar vencer em casa o Olympique Lyon. Qualquer outro resultado significará a qualificação dos franceses.
Ismaily em grande forma
Uma das grandes armas à disposição de Paulo Fonseca para este decisivo compromisso será Ismaily, defesa esquerdo brasileiro que passou por Estoril, Olhanense e Sp. Braga. Lateral com grande vocação ofensiva, destaca-se pelas assistências, somando já 27 em jogos oficiais desde que em 2013 chegou ao Shakhtar.
O futebolista de 28 anos esteve em grande no último triunfo frente ao 1899 Hoffenheim, ao apontar um dos golos. A grande exibição que protagonizou levou à sua eleição para a equipa da semana da Liga dos Campeões, por parte da UEFA.
De resto, o clube alemão é um bom freguês para Ismaily, pois o outro golo que marcou esta temporada foi precisamente no empate a duas bolas verificado entre as duas equipas na partida disputada na Ucrânia.
Do Mato Grosso até à Ucrânia, com passagem por Portugal
Ismaily é o típico exemplo de um futebolista que subiu a pulso na carreira. Nascido na cidade de Angélica, no Mato Grosso do Sul, fez a formação no Ivinhema, jovem clube dessa região. Aos 18 anos, foi contratado pelo Desportivo Brasil e um ano depois chegou a Portugal para representar o Estoril Praia, num negócio intermediado pela Traffic.
Foi titular indiscutível nos “canarinhos” e no final da época transferiu-se para o Olhanense, onde esteve uma época e meia, em alto nível. Mudou-se depois para o Sp. Braga e bastou-lhe meia temporada, com boas prestações na Liga dos Campeões pelo meio, para despertar o interesse do Shakhtar Donetsk, para onde se transferiu por 4 milhões de euros.
Na Ucrânia, foi pouco utilizado em 2012/13 e 2013/14, mas depois assumiu-se como indiscutível e ao todo soma 155 jogos pelo emblema de Donetsk, com 14 golos marcados.
“O Tite convocou um tal de Ismaily, do Shakthar Donetsk”
O sonho da chamada à seleção brasileira viu a luz do dia em março de 2018, com o selecionador Tite a convocá-lo como substituto de Alex Sandro, que se tinha lesionado e que já tinha rendido Filipe Luís, que também se magoara. Desconhecido para grande parte dos brasileiros, a sua convocação para os particulares com a Alemanha e com a Rússia foi acolhida por muitos com surpresa e, até, escárnio.
Neto, conhecido comentador televisivo do programa “Donos da Bola”, gozou com a situação no Instagram. “O Tite convocou um tal de Ismaily, do Shakthar Donetsk? Depois eu falo que tem coisa errada e gente me critica. Piada!”, escreveu.
O próprio futebolista não escondeu a surpresa. “Não estava nada à espera, achava difícil ser chamado devido à grande concorrência, foi um momento único para mim”, reconheceu.
Curiosamente, esta convocatória aconteceu poucos meses depois do defesa esquerdo ter revelado disponibilidade para representar o país onde vive desde 2013. “Ofereceram-me a possibilidade de jogar pela seleção ucraniana e não vejo nenhum problema nisso. Sou apaixonado pela Ucrânia e estou pronto para defender suas cores”, referiu.
Curiosamente, Ismaily ainda poderá ser internacional ucraniano, pois nunca se estreou oficialmente pelo Brasil e não tem sido chamado por Tite nas últimas partidas.
O dia inesquecível em São Paulo
Ismaily sempre foi um fervoroso adepto do São Paulo FC e aos 15 anos tentou a sua sorte numa captação para a equipa de Iniciados do tricolor carioca. Apesar de ser sido reprovado, realizou o sonho de conhecer o estádio do clube do coração e passear pela capital paulista, como revelou a sua mãe, Pacélia Gonçalves em entrevista recente à “ESPN.com.br”. “Ele é são-paulino e ficou um pouco chateado por não ter passado nos testes, mas só por ter conhecido o Morumbi já voltou radiante para casa. Ele até trouxe umas pedrinhas do estádio e guarda-as até hoje. Ficou um ‘tempão’ a dizer que estava muito feliz por ter ido lá”, revelou.
A adolescência com dificuldades
Ismaily, que deve o seu nome à entoação em Português do Brasil da personagem principal do filme “Smiley”, a película favorita do seu pai, não teve uma infância e uma adolescência fáceis, pois os pais tinham poucas posses. Para ajudar em casa e mesmo numa fase em que já podia ser profissional, trabalhou na prefeitura da cidade de Angélica e no mercado local.
Aos 18 anos passou a ser profissional no Ivinhema-MS e foi logo campeão estadual. No entanto, o caminho para os treinos era tudo menos fácil, como revelou a sua mãe. “Ele ia treinar com muita dificuldades e dividia a gasolina da moto com um colega. Havia dias em que o meu filho ia de boleia, mas noutros dias não conseguia chegar ao treino, pois ninguém lhe dava boleia”, confessou a dona Pacélia Gonçalves.
Em dez anos tudo mudou e, hoje em dia, ganha um salário milionário no Shakhtar, é um dos jogadores mais importantes da equipa de Paulo Fonseca e um dos preferidos dos adeptos. O Olympique Lyon que se cuide.