O sucesso inglês nos penáltis frente à Colômbia começou há muitos meses

O sucesso inglês nos penáltis frente à Colômbia começou há muitos meses

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O sucesso inglês nos penáltis frente à Colômbia começou há muitos meses

Seis eliminações e apenas uma qualificação em Europeus e Mundiais desde o Itália’90 levaram a Federação inglesa a promover estudos e testes para acabar com a maldição. Contra a Colômbia funcionou.

Artigo de André Cruz Martins

04-07-2018

Com a vitória frente à Colômbia, depois da marcação de grandes penalidades, a Inglaterra colocou fim a uma série negra de desilusões: desde o Itália 90’, entre Mundiais e Europeus, a Inglaterra foi eliminada seis vezes através do desempate por grandes penalidades, tendo conseguido uma única qualificação dessa forma.

O medo de voltar a falhar na marca dos onze metros era tão grande que o selecionador Gareth Southgate começou a treinar grandes penalidades logo no início do estágio de preparação para o Mundial. “Jogámos muito bem durante 90 minutos, mostrámos a nossa vontade em voltar ao jogo depois da deceção do empate, e mantivemo-nos calmos. Os penáltis são difíceis, discutimos muito tempo sobre a maneira como enfrentar uma sessão como esta. Os jogadores mantiveram-se calmos, foi um momento especial para nós. Estudámos a técnica, como deveriam comportar-se como equipa, o papel do guarda-redes. É um momento especial, mas tenho já que me projetar para a Suécia”, disse o selecionador inglês.

“Certamente que as grandes penalidades não são uma questão de sorte, mas sim de os nossos jogadores conseguirem ter sucesso, ultrapassando a pressão. Temos estudado esta situação e há várias questões que podemos controlar no processo da marcação deste tipo de lances”, frisou Gareth Soutghate antes do Mundial.

De acordo com o jornal “The Telegraph”, um estudo da federação inglesa apontou que as seleções A, a de sub-21 e feminina venceram apenas duas das últimas 14 disputas por penáltis. Uma das explicações é o facto dos jogadores baterem muito rapidamente e terem de aprender a fazê-lo mais lentamente.

Os futebolistas ingleses convocados para o Campeonato do Mundo submeteram-se a testes psicométricos para avaliar o comportamento na hora da marcação dos penáltis. Entretanto, vários analistas estudaram também os marcadores e guarda-redes de outras seleções que se classificaram para a competição.

“Há jogadores que treinam penáltis regularmente e têm as próprias rotinas, sendo capazes de mudar de decisão dependendo do guarda-redes e outros que talvez não treinam tanto e que precisam de praticar uma ou duas vezes e são capazes de executar no momento. Foi o que tentámos fazer, deduzir em que grupo cada atleta se encaixa e se há a necessidade de um trabalho individual”, afirmou Southgate.

Logo no início do estágio do Campeonato do Mundo, o guarda-redes Jordan Pickford referiu-se a esta situação, encarando-a com normalidade: “Não estamos a pensar já muito à frente no Mundial, mas estamos a trabalhar para depois respondermos à altura”, acrescentando no entanto que “muitas vezes, os penáltis são uma questão de sorte”. Questionado sobre se está preparado para ele próprio marcar uma grande penalidade respondeu da seguinte forme: “Não tenho qualquer problema com isso, apesar de nunca ter marcado num desempate. Mas a verdade é que estou sempre a treinar a marcação”.

Quem também se pronunciou sobre a praga das grandes penalidades foi o médio Dele Ali. “Estamo-nos a preparar para esse tipo de situação e todos estão a praticar e não apenas os que costumam marcar os penáltis. A verdade é que não estamos a olhar para o que aconteceu no passado, somos uma nova equipa e queremos passar a ter uma mentalidade vencedora e mudar o histórico do país”, afirmou.

Português Ricardo foi carrasco em dose dupla

Se há nome que ainda hoje deve provocar suores frios em alguns ingleses é do guarda-redes português Ricardo, herói da qualificação de Portugal com Inglaterra nos quartos de final do Euro 2004, ao defender, sem luvas, o pontapé na marca dos onze metros de Darius Vassell (David Beckham atirou outro para as nuvens) e ao apontar ele próprio o penálti decisivo, que colocou a seleção lusa nas meias finais.

O mesmo Ricardo voltou a ser desmancha-prazeres para os ingleses, de novo no desempate por grandes penalidades nos quartos de final, mas desta vez no Mundial 2006. Não marcou, mas defendeu qualquer coisa como três grandes penalidades, nomeadamente as dos pesos-pesados Lampard e Gerrard.

Estão assim encontradas duas das seis trágicas eliminações inglesas de fases finais dos últimos 28 anos. Vamos recordar as outras quatro.

Tudo começou com a Alemanha em 1990

A primeira derrota através da marca dos onze metros aconteceu nas meias-finais do Mundial 1990, contra a RFA. Seis anos, no Euro 96, os ingleses começaram por levar a melhor no desempate por penaltis na partida dos quartos de final, com a Espanha. Esta foi mesmo a única ocasião em que foram felizes desta forma, mas não puderam festejar muito, pois poucos dias depois perderam nas meias-finais por grandes penalidades, desta vez com a Alemanha. Coincidência das coincidências, o único jogador a falhar foi Gareth Southgate, atual selecionador inglês.

No Mundial de 1998, foi a Argentina a levar a melhor nos oitavos de final. Seguiram-se as tais duas derrotas com Portugal e no Euro 2012, foi a vez da Itália. Contas feitas, a Itália é a única seleção que em fases finais iguala o número de derrotas de Inglaterra (seis), mas a seleção transalpina tem mais vitórias (quatro). E se nos focarmos apenas em Mundiais, ninguém foi eliminado tantas vezes (três) como os ingleses. Os números são aterradores na principal prova de seleções: em 14 tentativas na marca dos onze metros, falharam sete.

 

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Artigo de
André Cruz Martins

04-07-2018



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