Farfán, o antigo arrumador de carros que agora é campeão russo

Farfán, o antigo arrumador de carros que agora é campeão russo

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Farfán, o antigo arrumador de carros que agora é campeão russo

É uma das grandes figuras do Lokomotiv Moscovo, o mais recente campeão russo. Fintou uma infância difícil, esteve suspenso da seleção peruana, mas voltou a ser herói ao ser decisivo na qualificação para o Mundial.

Artigo de André Cruz Martins

08-05-2018

O Lokomotiv Moscovo foi campeão russo no último fim de semana, feito alcançado 14 anos depois e que contou com a importantíssima colaboração do português Manuel Fernandes e, em menor escala, de Éder, que apesar de não ser habitual titular, foi o autor do golo decisivo no jogo do título.

E numa equipa que apesar de se ter sagrado campeã, não marca muitos golos (41 em 29 jogos, a uma jornada do fim), o extremo direito peruano Jefferson Farfán foi o seu melhor artilheiro no campeonato, ao apontar dez golos, alguns decisivos que valeram pontos em vitórias pela margem mínima.

Farfán cumpre a segunda temporada no clube russo, depois de ter chegado a custo zero em janeiro do ano passado, após se ter desvinculado do Al-Jazira. E a verdade é que a segunda metade da época passada não lhe correu nada bem, tendo feito apenas sete jogos, com um golo marcado.

Olhado com desconfiança pelos adeptos, em face do modesto rendimento que apresentava, o internacional peruano de 33 anos “explodiu” na época em curso e fez recordar os seus bons velhos tempos no Schalke 04 e no PSV. Nos alemães, esteve entre 2008 e 2015 e só na última temporada deixou de ser habitual titular, tendo apontado 53 golos em sete épocas, números bastante interessantes para um jogador da sua posição. Numa dessas temporadas, chegou a atingir as meias finais da Liga dos Campeões.

Aos 23 anos, teve a sua primeira experiência na Europa, nos holandeses do PSV, onde logo se assumiu como uma das principais figuras e viveu o melhor período da carreira, conseguindo marcar 67 golos em quatro épocas e alcançando o tricampeonato. E esteve em grande destaque na sensacional campanha dos holandeses na Liga dos Campeões da época de 2004/05, quando chegaram às meias finais, fase em que foram eliminados pelo AC Milan.

Farfán começou a jogar futebol na formação dos peruanos do Deportivo Municipal e aos 13 anos passou para o Alianza Lima, o melhor clube do país, no qual se estreou como profissional com apenas 17 anos. A sua influência foi crescendo e com apenas 19 anos foi considerado o melhor jogador do campeonato, tendo conseguido alcançar o título de campeão por três vezes.

Despertou a cobiça de grandes clubes do futebol europeu e acabou por se transferir para o PSV, onde iniciou uma trajetória de 13 anos na Europa, só interrompida pela já referida passagem pelos Emirados Árabes Unidos, ao serviço do Al Jazira, em 2015/16 e na primeira metade de 2016/17.

A infância difícil e a desilusão vivida com o ídolo

Proveniente de uma família com poucos recursos financeiros, desde muito novo Jefferson Farfán teve necessidade de juntar dinheiro para ajudar os pais. E por isso aos 10 anos já era arrumador de carros e também limpava algumas viaturas. Um dia, cruzou-se com o seu ídolo, Walter Sáenz, um dos melhores jogadores da história do futebol peruano, que no entanto não lhe deu qualquer moeda depois de ter cuidado do seu carro.

Curiosamente, anos mais tarde, os dois viriam a tornar-se bons amigos, embora Walter não ache piada à insistência com que Farfán conta publicamente a tal história do carro. “Ele está sempre com isso, já era tempo de parar com essa história”, confessou em 2016, ao programa de televisão “Deledeportes”.

Aventuras e desventuras na seleção peruana

Jeffersón Farfán é um dos melhores jogadores peruanos de todos os tempos e soma 79 internacionalizações pelo seu país, com 23 golos marcados. Mas os números podiam ser bem superiores, pois em novembro de 2007 foi suspenso, após um empate contra o Brasil, depois de ter estado numa festa com mulheres e álcool no próprio hotel onde a equipa estava concentrada. Ainda por cima, poucos dias depois, o Peru foi goleado pelo Equador por 5 a 0 e a culpa recaiu em Farfán, que foi multado e suspenso, juntamente com outros três jogadores e enfrentou um longo exílio na seleção, só regressando em 2010.

Outra ausência prolongada deveu-se ao rendimento modesto nos seus clubes, primeiro pelo Al Jazira e depois ao serviço do Lokomotiv de Moscovo e por isso esteve 17 meses sem ser convocado. O regresso aconteceu em agosto do ano passado, altura em que já dava mostras de ter voltado aos bons velhos tempos.

E cumpriu o velho sonho de jogar um Campeonato do Mundo, pois o Peru conseguiu a qualificação, 36 anos depois da última presença, após afastar a Nova Zelândia no “play-off”, com o primeiro golo a ser da sua autoria. Um golo que apagou todos os seus pecados perante o povo peruano, para o qual voltou a ser visto como um ídolo.

Ele que aos 18 anos se estreou a marcar pela seleção principal, numa vitória com o Paraguai. À parte o golo decisivo na qualificação para o próximo Mundial, o seu momento mais alto ao serviço do seu país ocorreu na Copa América de 2015, quando chegou às meias finais.

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Artigo de
André Cruz Martins

08-05-2018



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