Eleven Sports continua fora das principais operadoras. De quem é a culpa?

Eleven Sports continua fora das principais operadoras. De quem é a culpa?

Desporto

Eleven Sports continua fora das principais operadoras. De quem é a culpa?

As negociações entre a Eleven Sports e as principais operadoras televisivas estão longe de estar concluídas.

Artigo de Hugo Mesquita

14-11-2018

Assistir a um sempre emocionante jogo da Liga dos Campeões deixou de ser tão simples como ir apenas até ao café da esquina. A probabilidade de esse estabelecimento ter contrato com a Nowo é diminuta e, para encontrar um outro que tenha, talvez precise de percorrer umas quantas ruas, já que esta operadora tem uma quota no mercado nacional de apenas 5%. Isto, claro, partindo do princípio que pertence aos 95% que não tem Nowo em casa.

Não tendo contrato com a Nowo, resta apenas ver os jogos no site da Eleven Sports ou através da aplicação. A forma mais simples para todos seria que a Eleven Sports fosse disponibilizada em todas as operadoras, mas por um motivo ou outro isso ainda não aconteceu.

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A estação já se mostrou por diversas vezes disponível para negociar os seus direitos de transmissão com as outras operadoras – no seu site existe uma nota que pede aos visitantes que façam pressão junto das suas operadoras. Incumbiu a própria Nowo, antiga Cabovisão, de liderar as negociações, mas o processo não tem sido simples e parece estar longe de concluído.

Nowo e Sport TV cortam relações

O corte do sinal da Sport TV na Nowo demonstra que, se as partes na negociação não estão extremadas, estão então muito perto disso. Isto porque os principais acionistas da Sport TV, para além da Olivedesportos, são precisamente a NOS, Meo e Vodafone. A estação nega que este corte esteja relacionado com esta “guerra” com a Eleven Sports, acusando antes a operadora de não pagar uma “elevada dívida vencida que a Nowo tinha já nessa data (julho) perante a empresa, e que continua por liquidar”.

A operadora tem outra versão dos factos. Segundo a Nowo, a Sport TV apresentou condições “desleais, desadequadas e desajustadas face à realidade do mercado” para negociar a renovação. A operadora acusa a Sport TV de apresentar um novo contrato com “um custo 15% superior ao praticado até então”.

As acusações de parte a parte são recorrentes. As operadoras/Sport TV acusam a Nowo/Eleven Sports de intransigência nas negociações. Por outro lado, Jorge Pavão e Sousa,  diretor-geral da Eleven Sports Portugal, disse em entrevista ao Observador, que existe “uma concertação óbvia” das operadoras que tem dificultado o acordo.

Assistir a todo o tipo de oferta desportiva em Portugal acarreta um custo mensal de 50 euros

Certo é que com esta “guerra” quem sai prejudicado é o consumidor de desporto em Portugal. Dada a divisão de direitos entre as duas empresas, assistir sem restrições a toda a oferta de desporto no nosso País acarreta um encargo na ordem dos quarenta euros por mês – 29,99 € pela Sport TV mais os 9,99€ da Eleven Sports – isto sem contar com os restantes valores de subscrição de pacotes das diferentes operadoras. Se a este valor, acrescentarmos os jogos em casa do Benfica, que passam na BTV, então esse valor sobe em mais 9,90€ por mês.

Com a entrada da Eleven Sports o monopólio de direitos de transmissão de conteúdos desportivos detido por muitos anos pela Sport TV foi colocado em causa. A estação criada por Joaquim Oliveira perdeu inúmeros conteúdos para a Eleven Sports. À cabeça vem a já referida Liga dos Campeões, mas também os direitos da principal liga espanhola, alemã e francesa foram adquiridos pelo novo canal de desporto. Uma verdadeira sangria na oferta da Sport TV que foi estancada, em certa medida, com a mudança de Cristiano Ronaldo para a Juventus, uma vez que a estação detém os direitos da primeira liga italiana.

Também a NFL e a Fórmula 1 (apenas na próxima temporada) estão nas mãos do novo “player”. A Premier League, para muitos o melhor campeonato do mundo de futebol, implicou que a Sport TV abrisse os cordões à bolsa, para desta forma a manter no seu portefólio, ainda que os valores não tenham sido tornados públicos. A estação passou a deter os direitos até 2022.

Sport TV não baixa valor de subscrição

A redução na oferta de conteúdos não teve qualquer implicação no valor da subscrição da Sport TV que, pelo menos para já, se mantém igual (29,99 €) e, pelas declarações do seu CEO, Nuno Ferreira Pires, numa entrevista à agência Lusa, é uma posição que a estação vai manter.

“Não tenho qualquer dúvida de que qualquer português a fazer as contas, olhando para as 55 mil horas de programação, as modalidades que nós damos, para os 2 mil jogos que damos, e para tudo aquilo que é o nosso conteúdo no próximo ano, estarão tão ou mais tranquilos do que já estavam os nossos clientes com o valor que nós cobramos na Sport TV”, explicou.

A propósito da perda para a Eleven Sports dos direitos da Liga dos Campeões, Nuno Ferreira Pires reconhece que é um “produto importante”, mas considera que “os valores, em especial para um país como Portugal, começam a ser muito pesados para os broadcasters”, uma declaração que sugere uma clara indireta à concorrente.

Na entrevista ao Observador,  o diretor-geral da Eleven Sports Portugal defende-se das acusações de que os conteúdos adquiridos têm sido pagos com valores demasiado elevados. “A Eleven quando entra em qualquer um dos mercados, entra de forma sensata e no sentido de identificar quais é que são as assimetrias que o mercado oferece”, explica. Devolve as críticas, afirmando que a concorrência se “descuidou no momento de renegociação. Ou, provavelmente, até teve sobranceria”.

Eleven Sports defende partilha de conteúdos

Se a postura da Sport TV é a de manter o valor de subscrição, a Eleven Sports defende uma opção mais em conta para os consumidores e que abrange todo o conteúdo desportivo disponível em Portugal.  O diretor-geral da Eleven Sports Portugal defende que a oferta deste tipo de conteúdo deve ser feita em “bundle” (“pacote”, em português).

“Acho estranho que não seja possível essa estratégia de bundling ser discutida. E que os clientes portugueses dos vários operadores se deparem com uma situação em que vão ter de pagar 30 mais 10 mais 10. 50 euros por mês para acompanharem as ligas de futebol internacional ou as equipas portuguesas que movimentam nas altas esferas das ligas internacionais”, afirma Jorge Pavão e Sousa.

Esta sugestão do responsável da Eleven Sports parece ser a mais benéfica para os consumidores, mas dado este recente corte de ligações entre a Sport TV e a Nowo, o fumo branco parece estar longe de se tornar uma realidade.


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Artigo de
Hugo Mesquita

14-11-2018



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