A segunda vida de cinco jogadores portugueses

A segunda vida de cinco jogadores portugueses

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A segunda vida de cinco jogadores portugueses

Manuel Fernandes, Fábio Coentrão, Rolando, Sérgio Oliveira e Bruma recuperaram a aura e vivem dos melhores períodos das suas carreiras.

Artigo de André Cruz Martins

24-03-2018

Cinco internacionais portugueses passam por uma excelente fase nas respetivas carreiras, depois de terem sido colocadas muitas reticências em relação às suas capacidades. Manuel Fernandes, Fábio Coentrão e Rolando até foram convocados por Fernando Santos para os dois próximos jogos da seleção nacional, com o Egipto e com a Holanda (o defesa esquerdo foi dispensado por apresentar alguns problemas físicos), enquanto Bruma e Sérgio Oliveira ficaram de fora, mas certamente que o seu nome não está descartado para o Campeonato do Mundo, em face da excelente época que está a realizar no RB Leipzig. Estas histórias provam que o futebol pode ser uma montanha-russa de emoções e nunca se pode dar por um jogador como acabado.

Manuel Fernandes

13 golos e 12 assistências são os fantásticos números apresentados por Manuel Fernandes esta temporada, ao serviço do Lokomotiv Moscovo e por isso, em novembro de 2017, não surpreendeu o regresso do médio de 32 anos à seleção nacional, cinco anos e meio depois da última chamada. De resto e tendo em conta o facto de alguns dos médios habitualmente convocados por Fernando Santos não passarem propriamente por um bom momento – lembramo-nos por exemplo de João Mário, Adrien, André Gomes e Renato Sanches – Manuel Fernandes pode preparar-se para continuar na Rússia em junho, em vez de vir a Portugal passar férias.

«Não sei se é a minha última hipótese de representar Portugal numa competição desta dimensão, mas sinto que é a minha grande oportunidade», reconheceu Manuel Fernandes, em entrevista recente ao «Diário de Notícias».
A jogar como médio criativo no Lokomotiv, Manuel Fernandes tem estado mais perto da baliza adversária, daí a maior capacidade goleadora que tem revelado e que incluíram os dois únicos «hat-tricks» na sua carreira como sénior, ambos na Liga Europa, diante do Zlín e do Nice.

Depois de ter sido apelidado de “Malelé” quando aos 18 anos apareceu na primeira equipa do Benfica, devido às alegadas parecenças com Makelelé, jogador que brilhou com a camisola do Real Madrid e da seleção francesa, Manuel Fernandes estagnou e passou por tempos conturbados no Valência, no Everton e no Besiktas, ao mesmo tempo que foi ganhando a fama de “bad boy”, algo que rejeitou na mesma entrevista ao Diário de Notícias, ao mesmo tempo que garantiu que nunca renunciou à seleção nacional, ao contrário do que garantiu Paulo Bento.
No Lokomotiv desde 2014, as coisas não lhe começaram por correr bem, mas tudo começou a mudar na época passada (26 jogos, nove golos), precisamente quando avançou no terreno.

Fábio Coentrão

Muitos deram Fábio Coentrão como acabado para o futebol e o próprio futebolista deu um contributo importante para que esse sentimento fosse generalizado. Não só porque jogou muito pouco nas últimas três temporadas, ao serviço do Real Madrid, mas também pela seguinte afirmação que proferiu em março ao ano passado: “Não tenho problemas nenhuns em dizer isto, sinto que atualmente não tenho condições para jogar num clube com a dimensão do Real Madrid. Não é mau admitir as nossas limitações em determinada fase da vida e eu sei que neste clube tem de se estar ao mais alto nível para corresponder. E eu não estou”.

Muitos adeptos do Sporting torceram o nariz ao ingresso do defesa esquerdo no clube, não só devido ao seu pouco recomendável historial clínico dos últimos anos, mas também por ter garantido que em Portugal só jogaria no Benfica. Isto embora quando se afirmou no Rio Ave, no início da carreira, tenha confessado ser sportinguista desde pequenino e admitido que seria um sonho representar os leões.

O início da aventura de Coentrão em Alvalade não foi fácil: apesar de não comprometer sempre que jogava, não tinha capacidade de explosão e volta a meio surgiram problemas físicos que o afastaram de algumas partidas. No entanto, desde meio de outubro que tem mostrado “estar como o aço”, joga com grande regularidade e já soma qualquer coisa como 35 encontros de leão ao peito, dos quais 34 como titular.

O regresso à seleção nacional foi natural – isto embora tenha sido dispensado por apresentar alguns problemas físicos – até porque Eliseu não está a jogar no Benfica e de negativo só mesmo algum descontrolo emocional que tem demonstrado, de que são exemplos os murros na estrutura do banco em Setúbal, o choro compulsivo em Astana, confortado por Bruno de Carvalho ou a discussão bastante acalorada com Acuña no jogo da Taça da Liga com o Belenenses, no Restelo.

Rolando

A carreira do defesa central Rolando seguia em velocidade de cruzeiro e foi um elemento preponderante em três títulos de campeão nacional do FC Porto entre 2008/09 e 2011/12. No entanto, na época seguinte foi excluído do plantel dos dragões, depois de ter entrado em rota de colisão com o treinador Vítor Pereira e a vida começou a correr-lhe francamente mal.

Foi emprestado ao Nápoles, mas quase não jogou durante toda a temporada de 2012/13, entretanto voltou ao FC Porto para cumprir a pré-época seguinte, mas Paulo Fonseca prescindiu dos seus serviços (ou terão sido ordens superiores?) e foi emprestado ao Inter Milão, onde jogou com alguma regularidade, mas sem ser titular indiscutível.
Foi então cedido ao Anderlecht, experiência que não lhe correu nada bem (apenas dez jogos disputados em 2014/15) e finalmente desvinculou-se do FC Porto, assinando pelo Marselha.

O central não é muito dado a entrevistas, mas em novembro de 2016 abriu um pouco a ponta do véu, em entrevista ao jornal Record. “Tento ao máximo não guardar mágoa do FC Porto porque sou portista. Aprendi que a vida tem muitos caminhos e há uma diferença entre o clube e as pessoas e houve algumas pessoas que falharam comigo no FC Porto. Estou triste, mas não por ter saído, pois percebi que era o momento. Guardo o clube no meu coração mas a nível profissional deu-se a rotura”, referiu.

Em 2015/16 só passou a ser titular indiscutível no Marselha após a chegada do treinador Rudi Garcia, estatuto que manteve na temporada transata. Mas foi na corrente época que voltámos definitivamente a ver o “velho” Rolando, a viver um segundo fôlego aos 32 anos.

Não surpreende por isso a chamada de Fernando Santos para os jogos particulares com a Holanda e com o Egito, embora beneficiando da atual falta de soluções para o centro da defesa nacional. A presença no Campeonato da Rússia do próximo verão está longe de ser uma miragem.

Sérgio Oliveira

Sérgio Oliveira tinha apenas 17 anos quando Jesualdo Ferreira promoveu a sua estreia como profissional do FC Porto, num jogo da Taça de Portugal com o Sertanense. Na altura, já estava “carimbado” com uma cláusula de rescisão de 30 milhões de euros e era considerado uma das grandes promessas da formação azul e branca.
A estreia até foi auspiciosa, com uma assistência para golo, mas nunca se afirmou de dragão ao peito e foi sucessivamente emprestado a Beira-Mar, Malines, Penafiel e Paços de Ferreira. E diga-se, nem sempre jogou com a regularidade esperada.

Apesar das óbvias qualidades técnicas, era óbvio que faltava intensidade ao seu jogo e pensava-se estarmos em presença de mais uma promessa adiada. Esta época acabou por permanecer no plantel do FC Porto, uma notícia que não deixou de ser surpreendente, atendendo ao facto do treinador ser Sérgio Conceição, que na época passada quase não o utilizou no Nantes.

A verdade é que Sérgio Oliveira aproveitou bem a ausência de reforços do FC Porto, devido à crise financeira do clube. Primeiro, começou por mostrar-se apenas nos jogos com adversários mais complicados, nos quais Sérgio Conceição não abdicava dele e após a lesão de Danilo, assumiu a titularidade, fazendo uma excelente dupla com Herrera. Esta temporada já vai em 20 jogos oficiais, com três golos marcados e o seu nome já foi ventilado para a seleção nacional, cenário que para já não se concretizou para os jogos particulares com o Egipto e com a Holanda.

Bruma

Com apenas 18 anos, Bruma foi lançado por Jesualdo Ferreira no Sporting, no complicadíssimo cenário de crise de 2012/13, a época do sétimo lugar dos leões na I Liga. E a verdade é que a revelação do extremo foi das raras boas notícias que os adeptos leoninos receberam por esses dias.

Tudo se conjugava para que o extremo esquerdo fosse forte aposta do Sporting na temporada seguinte, mas recusou renovar contrato com o clube e forçou a saída, acabando por se mudar para o Galatasaray, por 11 milhões de euros.
A primeira temporada na Turquia não lhe correu da melhor forma e apesar de ter sido mais vezes utilizado na época seguinte, foi emprestado à Real Sociedad, onde demonstrou grande irregularidade, alternando boas exibições e a titularidade com períodos de ocaso. Nesta altura, temeu-se que pudesse ser uma promessa adiada.

Tudo começou a mudar na época transata, regressado ao Galatasaray, em que realizou 37 jogos, com 11 golos, despertando o interesse do RB Leipzig, que pagou 13 milhões de euros pelo seu passe. Tem sido um dos jogadores mais importantes nos alemães, somando 33 jogos e cinco golos nos atuais segundos classificados na Bundesliga, que estão ainda nos quartos de final da Liga Europa. E aos 23 anos parece ter tudo para confirmar as altas expetativas que gerou quando apareceu na equipa principal do Sporting.

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André Cruz Martins

24-03-2018



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