AS Roma e Liverpool unidos pelos milhões de Boston

AS Roma e Liverpool unidos pelos milhões de Boston

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AS Roma e Liverpool unidos pelos milhões de Boston

Os dois clubes que esta quarta-feira se defrontam na segunda mão das meias finais da Liga dos Campeões são detidos por grandes grupos económicos oriundos de Boston.

Artigo de André Cruz Martins

02-05-2018

AS Roma e FC Liverpool, que esta quarta-feira se encontram na segunda mão das meias finais da Liga dos Campeões no Olímpico de Roma, depois da vitória dos “reds” por 5-2 em Anfield, têm muito mais em comum do que o equipamento vermelho. Isto porque ambos são detidos por grandes grupos económicos norte-americanos oriundos de Boston: os italianos pelos Raptor Group, que também são donos dos Boston Celtics, e os ingleses pelo Fenway Sports Group (FSG), que também mandam nos Boston Red Sox.

Mergulhado em dívidas de 181 milhões de euros, o FC Liverpool foi comprado em 2010 pelo Fenway Sports Group, liderado por John W. Henry, quando este grupo norte-americano tinha o nome de New England Sports Ventures, numa transação avaliada em 310 milhões de euros.

Mas a verdade é que os norte-americanos nunca foram bem aceites pelos adeptos “reds”. Em primeiro lugar, porque o FC Liverpool sempre foi um clube de base popular e esta intromissão de capital estrangeiro não foi bem vista. Em segundo lugar, porque o rendimento desportivo do clube tem deixado a desejar, com o único título ganho nesta nova era a ser uma Taça da Liga inglesa, em 2011/12.

Kop virou ponto turístico

Uma das grandes críticas feitas pelos verdadeiros fãs do FC Liverpool diz respeito à utilização que tem sido dado ao Kop, possivelmente a bancada mais mítica do futebol europeu. Nos jogos da Premier League, o Fenway Sports Group decidiu disponibilizar algumas centenas de lugares “corporate” na bancada e qualquer pessoa os pode adquirir, pagando uma verdadeira fortuna. Entendem os fãs mais ferrenhos que a compensação financeira teve como consequência a a diminuição do fervor e da paixão.

Curiosamente, nos jogos da Liga dos Campeões, não existe essa possibilidade e todos as 12 mil pessoas que estão no Kop são efetivamente detentores de bilhetes de época. Bruce Grobbelaar, velha glória do clube, destaca este facto. “As pessoas de fora não conseguem comprar bilhetes e por isso é que a atmosfera é tão incrível e a paixão tão forte. Nos jogos da Premier League, há pessoas de todo o lado que ali estão para usufruírem de um programa de fim de semana. Não faz sentido e não existe um apoio contínuo durante os 90 minutos, como sucede na Champions”, defende.

Já a AS Roma também padecia de graves problemas financeiros (dívidas na ordem dos 200 milhões de euros) quando foi adquirida pelo grupo DiBenedetto AS Roma LLC, formado por quatro empresários, em 2011. O multimilionário norte-americano Thomas Di Benedetto adquiriu 60% das ações do clube por 42 milhões de euros (os restantes 40% ficaram na posse da Unicredit, principal credora do clube). Curiosamente, Di Benedetto era acionista minoritário do Fenway Sports Group e garantiu que não havia qualquer conflito de interesse, o que foi confirmado pelas autoridades.

Entretanto, cerca de um ano depois de ter chegado à liderança do clube italiano, Thomas Di Benedetto foi substituído por James Pallotta, outro norte-americano, mas proveniente de uma família com raízes italianas. Curiosamente, a sua confirmação como presidente da AS Roma surgiu nas vésperas de um jogo particular com o FC Liverpool.

James Pallota mergulhou numa fonte de Roma

James Pallotta procedeu a uma modernização do clube. “Não tínhamos uma equipa comercial, nem uma equipa digital, nem uma estação de televisão, nem uma estação de rádio. Agora já temos tudo isso”, congratulou-se, em entrevista recente. Pallota tem um grande objetivo: fazer com que 1% dos adeptos de futebol em todo o mundo tenham a AS Roma como segundo clube, estando dispostos a pagar 4 euros anuais. Um objetivo que, reconhece, está ainda muito longe de ser alcançado. Por outro lado, algo em que a AS Roma passou a golear quase todos os clubes do futebol europeu é na forma inovadora como gere as redes sociais.

Dentro do campo, assistiu-se a um indiscutível crescimento da AS Roma, visível não só nesta qualificação para as meias finais da Liga dos Campeões – os “giallorossi” não estavam nesta fase da competição desde que em 1983/84 atingiram a final, quando perderam precisamente diante do FC Liverpool. Na Série A, ainda não conseguiram parar o domínio da Juventus, mas têm ficado sempre entre a segunda e a terceira posição.

Entretanto, James Pallotta esteve nas bocas do mundo devido ao exuberante festejo que protagonizou depois da AS Roma ter eliminado o FC Barcelona nos quartos de final da Champions: cercado por uma multidão de adeptos, mergulhou numa fonte pública da cidade, dando uma cambalhota para trás na fonte da Piazza del Popolo, numa das principais praças de Roma. Depois deste ato, concordou em pagar a multa de 500 euros prevista em casos como este e pediu desculpas à presidente da Câmara, Virginia Raggi.

No entanto, há poucos dias, o ambiente já não era de festa e criticou os dois “casuals” da AS Roma que atacaram um adepto do FC Liverpool de 53 anos, deixando-o em coma, entre a vida e a morte. “É tempo das coisas mudarem em Itália e em Roma. O que se está a passar com Sean Cox em Liverpool é vida ou morte e isso afeta a família. Não quero saber do resultado do jogo. É uma desilusão que Roma e a AS Roma sejam culpadas por alguns gajos que fazem coisas estúpidas. Não conheço toda a história e tudo o que vi foi o vídeo, mais foi um ato nojento. As minhas preces estão com ele e com a sua família”, referiu, acrescentando: “Temos uma longa história na AS Roma e o que se passa é que temos alguns estúpidos que estão a destruí-la, atacando o nosso legado. Estou farto deles e este não é apenas um problema para a AS Roma, mas para Itália e para as autoridades. Lamento que estes estúpidos de merda manchem a nossa imagem”.

Foto: AS Roma

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Artigo de
André Cruz Martins

02-05-2018



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