O treinador argentino Marcelo Bielsa tem a alcunha de “El Loco”, devido ao seu comportamento pouco convencional. No seu novo clube, o Leeds United, não tem sido exceção, mas com uma novidade: está finalmente a apresentar resultados desportivos que correspondem ao estatuto que granjeia no futebol internacional, com a sua equipa a ter conquistado o Championship e, garantido desta forma, a subida ao principal escalão do futebol inglês. Marcelo Bielsa tem adotado um discurso bastante humilde nesta sua jornada em Inglaterra. “Penso que estou num clube maior do que mereço. O meu objetivo é provar que não sou um demagogo”, refere. Ainda assim, assume que não deixa de lado a habitual proposta de jogo romântico. “Prefiro sempre jogadores com criatividade e sempre os irei proteger, mesmo sabendo que corro alguns riscos”, assume.

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Foi a quarta escolha

Curiosamente, Marcelo Bielsa esteve longe de ser a opção prioritária de Andrea Radrizzani, dono do clube inglês. “A primeira opção foi o Conte, tenho um fraquinho por ele. Oferecia-lhe 20 milhões de euros para o convencer, porque tinha a certeza que íamos garantir a subida à Premier League. Depois falámos com Ranieri, uma excelente pessoa mas que nos rejeitou porque estava a aguardar um clube maior [a imprensa inglesa referiu que se tratava do Sporting, como técnico do então candidato Pedro Madeira Rodrigues]. Por último falei com o Roberto Martínez, mas depois daquele Mundial não quis deixar a seleção belga”, revelou.

Muita fama mas pouco proveito

Considerado o melhor treinador do mundo por Pep Guardiola, a aura de Marcelo Bielsa tem pouca razão de ser, pelo menos a avaliar pelos pouquíssimos troféus que conquistou. Treina equipas ou seleções profissionais há 28 anos e só ganhou três campeonatos argentinos, todos na década de 90 do século passado e os Jogos Olímpicos de 2004, ao serviço da seleção argentina. Os últimos anos têm sido marcados por rotundos fracassos, ao serviço do Olympique Marselha, Lazio e Lille.

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Para a história ficou a sua saída da Lazio, ao segundo dia dos trabalhos da pré-época de 2016/17. A justificação foi o facto do clube não ter conseguido contratar um único dos sete futebolistas que pediu e de terem saído 18 atletas que tinham feito parte do plantel na época anterior. Já no Lille, saiu em dezembro de 2017, depois de ter estado um mês suspenso. O motivo da “suspensão temporária”, expressão utilizada pelo clube, não foi revelado, isto numa altura em que a equipa estava em penúltimo lugar do campeonato. Sabe-se no entanto que desde que chegou ao clube, despediu 11 jogadores por SMS, entre os quais o português Éder.

Pôs os jogadores a recolher lixo

Uma das primeiras medidas de Marcelo Bielsa no Leeds United foi colocar os seus jogadores a recolher o lixo nas imediações do centro de treinos do clube. De acordo com o jornal “The Guardian”, o objetivo foi fazer com que os futebolistas valorizassem o esforço que alguns adeptos do Leeds fazem para verem os seus ídolos no estádio. A tarefa teve a duração de três horas, o tempo necessário de trabalho que alguém com o salário médio em Inglaterra demora para adquirir um ingresso para um jogo dos “peacocks”. Algo que Bielsa ainda tem de melhorar é o domínio da Língua inglesa. Enquanto isso não acontece, vai-nos proporcionando situações caricatas, como a que se pode ver no vídeo que se segue, referente ao “flash interview” do Leeds United-Stoke City.

Pedido de desculpas a Crespo

Entretanto, há poucos dias, Marcelo Bielsa foi notícia por ter apresentado um pedido de desculpas público a Hernán Crespo, que chegou com 20 anos de atraso. “Vou contar-vos um erro grave que cometi enquanto treinador. Este é um daqueles que não me perdoo a mim mesmo. Hernán Crespo era um homem muito humilde e treinei-o em duas alturas da sua carreira: quando ainda não estava futebolisticamente maduro e depois quando já estava. Durante esse processo, uma vez disse-lhe que o considerava um jogador maduro.

Mas estava a mentir. Queria, sim, melhorar a auto-estima dele e fazer com que ele pensasse que tinha essa característica. Depois, quando ele realmente estava maduro, voltei a dizer-lhe o mesmo. ‘Estás muito maduro, nem pareces o mesmo de antes’, ao que ele me respondeu ‘como assim, se antes já me tinha dito isso? Enganou-me quando me disse uma coisa que não pensava’. E eu nunca me perdoei, de facto. Quero pedir-lhe desculpas, porque o desiludi”, referiu.

Disse a Redondo que não gostava dele

Ao longo da sua carreira de treinador, foram várias as ocasiões em que Marcelo Bielsa fez jus à alcunha de “El Loco”. Certa vez, quando treinava o Athletic Bilbao, um jornalista reparou que ele dava sempre dava a mesma quantidade de passos (13) antes de se agachar na área técnica. Na conferência de imprensa, questionou-o sobre isso e recebeu a confirmação: “Sim, é verdade, mas o que vocês não perceberam é que o 12º passo é curto, enquanto o 13º é longo”.

Quando assumiu o cargo de selecionador da Argentina, viajou pela Europa para observar jogadores selecionáveis. Uma das paragens foi em Madrid, para ver Fernando Redondo. No entanto, disse o seguinte ao médio: “Quero deixar bem claro que não gosto de ti, mas tenho de observar todos os jogadores”.

Viveu três meses num convento

Bielsa é conhecido por ter uma enorme coleção de DVDs de jogos de futebol. Quando Josu Urrutia lhe prometeu o cargo de treinador do Athletic Bilbao caso ganhasse as eleições do clube, o argentino passou a analisar todos os jogadores do clube e garantiu ter assistido aos últimos 55 jogos da equipe e que viu duas vezes 42 desses jogos.

Quando era selecionador argentino, mandou instalar um ecrã no seu seu carro para poder assistir a jogos e treinos enquanto se deslocava de carro. Por isso, contratou um motorista. E quando a Argentina disputou o Mundial 2002, o técnico levou cerca de sete mil vídeos para o Japão. As coisas não correram nada bem à seleção das “pampas”, eliminada na fase de grupos. Depois da desilusão, o técnico viveu três meses num convento, onde leu dezenas de livros sobre futebol.

“Barras bravas” ameaçados com granada

Quando orientava o Newell’s Old Boys, alguns torcedores “barra bravas” foram até à sua casa, furiosos com a derrota sofrida pela sua equipa. Reza a história que os terá espantado com uma granada na mão e que eles fugiram a sete pés. Durante um jogo ao serviço do Olympique Marselha, viveu um episódio caricato, ao sentar-se em cima de um copo de café quente, por culpa de um dos seus adjuntos.

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