A seleção nacional iraniana, treinada por Carlos Queiroz, discute esta quinta-feira com a China (16h00, em Portugal Continental) a passagem às meias-finais da Taça da Ásia. E como não poderia deixar de ser, na sua baliza vai estar o indiscutível Alireza, uma das grandes figuras da equipa e que tem feito jus ao seu estatuto durante a competição.
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No encontro dos oitavos de final, diante de Omã, Alireza foi decisivo com mais uma boa exibição e inclusivamente defendeu uma grande penalidade, logo aos 3 minutos. O guarda-redes de 26 anos é um especialista em parar remates da marca dos onze metros e no último Campeonato do Mundo Cristiano Ronaldo não o conseguiu bater dessa forma. Essa partida terminou empatada a uma bola e poderia ter comprometido a qualificação da equipa das quinas para os oitavos de final, não fosse o empate que se verificou no Marrocos-Espanha.
Pai rasgou-lhe o equipamento
Alireza nasceu em 1992 numa aldeia iraniana. A sua família era nómada e estava em permanente busca de pastagem para as suas ovelhas e como tradicionalmente acontece no Irão, desde cedo começou a ajudar os pais no trabalho.
No entanto, o futebol era a sua grande paixão e aos 12 anos começou a jogar num pequeno clube da cidade de Sarabias, como ponta de lança. No entanto, o guarda-redes lesionou-se, foi o escolhido para o substituir e nunca mais saiu da baliza.
Nessa altura, o seu sonho já era ser profissional de futebol, algo que não era do agrado do seu pai. “Ele não apreciava futebol e disse-me que tinha de trabalhar para ajudar a família. Houve um dia que até rasgou o meu equipamento e cheguei a jogar sem luvas várias vezes”, revela.
Fugiu de casa em busca do sonho
Alireza não desistiu de perseguir o sonho e fugiu de casa, tendo ido para a capital Teerão, à procura de uma oportunidade num clube de futebol. Foi então que conheceu um treinador de um clube local que lhe fez uma proposta inusitada: podia treinar-se com a sua equipa, mas para isso tinha de pagar 200 mil toman (moeda iraniana).
Alireza realizou o pagamento, o que o deixou sem dinheiro. Por isso, teve de dormir na rua e passou várias noites perto da Torre Azadi, em Teerão, local onde muitos sem-abrigo se juntam. E chegou a dormir às portas do clube. “Certo dia, quando me lavantei de manhã, tinha várias moedas no chão, pois as pessoas pensavam que eu era um mendigo. Agarrei nelas e pela primeira vez em muito tempo tomei um pequeno almoço de jeito”, revelou.
Chegou a ser varredor de rua
Após algumas semanas, o seu treinador concordou em deixá-lo treinar sem ter de pagar. Entretanto, durante 15 dias, viveu em casa do capitão de equipa até que arranjou emprego numa fábrica de costura, onde também passava à noite. Seguiram-se trabalhos numa estação de lavagem de carros, numa pizaria e como varredor de rua e durante meses nunca teve casa, dormindo na rua ou em casa de companheiros de equipa.
Em 2011, com 19 anos, passou a representar o Naft Theran e a sua sorte começou a mudar, não demorando muito tempo até ser convocado para a seleção iraniana de sub-23. A partir de 2015, tornou-se titular da seleção principal, sob o comando de Carlos Queiroz.
Joga no bicampeão iraniano
“Passei por muitas dificuldades para conseguir realizar os meus sonhos, mas não tenho intenção de esquecer tudo o que passei, porque se não fosse tudo isso não seria a pessoa que sou hoje”, faz questão de referir.
Alireza joga atualmente no Persepolis FC, bicampeão iraniano. E pode dizer-se que Alireza deu sorte ao clube, pois desde 2007/08 que não festejava o título nacional, voltando aos títulos quando o guardião chegou. Apesar do seu indiscutível valor e de se falar no interesse de clubes europeus nos seus serviços, a verdade é que Alireza vai continuando a jogar no seu país.
Incrível lançamento com um braço
Entretanto, no recente jogo com o Iraque da Taça da Ásia, Alireza entrou para a história, ao colocar a bola a muitos metros de distância usando apenas um braço. Depois de agarrar a bola, conseguiu colocá-la a uma distância muito considerável, deixando perplexos os espectadores. Os relatos falam numa distância de 75 metros, algo claramente exagerado, pois o guardião lançou a bola praticamente à saída da sua grande área e a bola parou a meio do meio campo adversário, mas mesmo que tenham sido 50 metros não deixa de ser uma proeza assinalável.