A vida atribulada de Manuel da Costa, o português de Marrocos

A vida atribulada de Manuel da Costa, o português de Marrocos

Desporto

A vida atribulada de Manuel da Costa, o português de Marrocos

Foi internacional jovem pela equipa das quinas, agora defende as cores dos africanos e tem tido uma carreira com vários episódios polémicos.

Artigo de André Cruz Martins

19-06-2018

O defesa central Manuel da Costa tem nacionalidade portuguesa, francesa e marroquina e escolheu representar o país africano a nível de seleções A, isto depois de ter sido internacional jovem português. Esta quarta-feira é uma das opções para o centro da defesa marroquina no jogo com Portugal, a contar para a segunda jornada da fase de grupos. No entanto, encontra-se em dúvida, depois de se ter lesionado na partida de estreia, com o Irão, mesmo tendo estado em campo apenas a partir dos 82 minutos.

Manuel da Costa nasceu há 32 anos em Nancy, filho de pai português e mãe marroquina. E foi precisamente no AS Nancy que começou a jogar futebol, tendo-se estreado como sénior no clube francês com 19 anos, na época de 2005/06, realizando 13 jogos oficiais. Por esta altura, já a Federação Portuguesa de Futebol estava de olho nele e convidou-o para representar as seleções nacionais jovens, ao que o jovem defesa não se fez rogado, tendo atuado pelos sub-20, sub-21 e seleção B.

Faltou-lhe apenas a equipa principal, embora tenha chegado a ser chamado por Luiz Felipe Scolari. “Não pensei mais em Portugal, nunca mais fui chamado. Scolari convocou-me e acreditava muito em mim, mas depois nunca mais me chamaram”, lamentou, em entrevista em maio de 2014.

Entretanto, ainda em 2014, sabendo do seu passaporte marroquino, foi convidado pela federação deste país para representar a seleção e aceitou, negando que tivesse recusado uma proposta do género no passado. “Joguei nas seleções jovens de Portugal e foram momentos importantes da minha vida, mas todas as histórias acabam e neste momento só penso em ajudar Marrocos. Os jornais escreveram que eu recusei Marrocos no passado, mas é mentira, nunca tinha sido contactado oficialmente, ao contrário do que sucedeu agora. Tive uma conversa com o selecionador e aceitei de imediato, pois Marrocos é o país da minha mãe e sinto-me orgulhoso por representar as suas cores”, garantiu, ao site “Almarssadpro”.

Fama de “bad boy” persegue Manuel da Costa

Depois da época de estreia no Nancy, mudou-se para os holandeses do PSV Eindhoven, onde não se conseguiu impor, apesar de ter sido bicampeão. Ainda assim, a Fiorentina foi buscá-lo no início da época seguinte, mas não realizou um único jogo pelos “viola” durante essa temporada. Foi então emprestado à Sampdoria e mais uma vez não convenceu, totalizando apenas quatro partidas em 2008/09.

Passou depois pelo West Ham e fez 12 jogos na Premiership em 2009/10 e mais 14 na temporada seguinte. Fora do campo, enfrentou uma acusação de abuso sexual a uma rapariga de 20 anos, numa discoteca. Segundo esta, o jogador colocou a mão no seu peito sem autorização e ainda a agrediu. Em tribunal, Manuel da Costa defendeu que foi a mulher a aproximar-se, ele levantou-se para falar e tocou sem querer no peito da rapariga, com esta a dar-lhe um estado e ele a responder da mesma forma. O juiz inocentou-o da acusação de abuso sexual, mas obrigou-o a pagar 1250 libras pelo estalo (1419 euro ao câmbio atual).

Entretanto, mudou-se depois para o Lokomotiv Moscovo, com relativo sucesso e em 2012/13, emprestado pelos russos, teve a sua única experiência num clube português ao serviço do Nacional, onde cumpriu 20 jogos, com dois golos apontados, ajudando na boa época dos “alvinegros”, que terminaram a I Liga na oitava posição.

Terá agredido Candeias e foi alvo de um processo disciplinar do Nacional

No entanto, a experiência na Madeira terminou mal: em março, num jogo com o Rio Ave, depois de ter visto o amarelo, pontapeou a bola para longe e foi expulso por Bruno Paixão. E não se ficou por aí: após a partida, terá agredido o seu colega Candeias e foi alvo de um processo disciplinar do Nacional. Na altura, o pai de Manuel da Costa negou tudo, em declarações à TSF: “Foi tudo simulação. O Candeias começou a falar mal dele, proferiu-lhe insultos muito graves até e ele agrediu-o, porque tem sangue português. Mas garanto que não o agrediu”, referiu.

O certo é que foi suspenso e não voltou a vestir a camisola do clube madeirense, até porque poucos dias depois deste episódio rescindiu contrato. E durante o período de suspensão, foi apanhado a conduzir sob o efeito de álcool, tendo pago 350 euros de multa e ficado inibido de conduzir durante três meses.
Depois do Nacional, seguiu-se o Sivasspor, já desvinculado do Lokomotiv Moscovo. Teve duas temporadas de sucesso na Turquia e depois mudou-se para os gregos do Olympiacos, onde viveu possivelmente as duas melhores épocas da carreira. Foi bicampeão e titular indiscutível quando as lesões não o obrigaram a parar. Em 2017/18, regressou à Turquia, para representar o Basaksehir, tendo jogado apenas 16 jogos.

Marrocos afastou Portugal no México’86

Marrocos volta a estar presente num Campeonato do Mundo, 20 anos depois da última participação. A grande estrela é Hakim Ziyech, médio ofensivo do Ajax, seguido do central Benatia, que atua na Juventus. Do lote de 23 convocados faz ainda parte Carcela, antigo futebolista do Benfica.

A estreia no Mundial 2018 não foi famosa, pois apesar da superioridade revelada diante do Irão de Carlos Queiroz, a formação africana foi derrotada por 1-0. Por isso, nova derrota colocaria Marrocos praticamente de fora dos oitavos de final. E se o Irão pontuar com Espanha, ficaria mesmo eliminado.

Portugal que se cuide, pelo menos tendo em conta uma má experiência do passado com Marrocos. No México 86, os africanos venceram por 3-1 na fase de grupos e contribuíram decisivamente para a eliminação lusa na prova. A seleção lusa tinha começado por bater Inglaterra e depois perdeu com a Polónia e com uma vitória frente a Marrocos assegurava a qualificação. No entanto, tudo correu mal e Portugal esteve inclusivamente a perder por 0-3, conseguindo apenas diminuir a desvantagem aos 80 minutos, por Diamantino.

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André Cruz Martins

19-06-2018



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