Morreu Bertolucci, o realizador de uma das mais polémicas cenas de sexo da história do cinema

O filme “O Último Imperador” (1987) conquistou nove óscares e foi aquele que mais prémios deu a Bernardo Bertolucci, realizador que morreu no dia 26, aos 77 anos. Mas foi com “O Último Tango em Paris” (1972) que o italiano conquistou a fama mundial. Nos dias que correm o filme, que tinha como protagonistas Marlon Brando e Maria Schneider, ainda seria polémico, tal como foi naquela época, especialmente devido às cenas de sexo explícito. É ainda nesta longa-metragem que se pode ver uma das cenas de sexo mais polémicas da história do cinema.

“Não se pode obrigar alguém a fazer algo que não está no guião, mas naquela altura eu não sabia disso”

Na polémica cena, o personagem de Marlon Brando viola o de Maria Schneider, que na altura tinha apenas 19 anos. O destaque vai ainda para uma baguete e um pacote de manteiga que acaba por ser utilizado na cena. O cenário em si já era controverso. Pior ainda quando, em 2007, a atriz disse não estar a par da cena de violação. “Devia ter ligado ao meu agente ou pedido a presença de um advogado na rodagem porque não se pode obrigar alguém a fazer algo que não está no guião, mas naquela altura eu não sabia disso. O Marlon disse-me: ‘Maria, não te preocupes, é só um filme’. Mas durante a cena, mesmo não sendo real o que o Marlon estava a fazer, as minhas lágrimas eram reais. Senti-me humilhada e, para ser honesta, senti-me quase violada, tanto pelo Marlon como pelo Bertolucci. Depois da cena, o Marlon não procurou consolar-me ou pedir-me desculpa”, disse Maria Schneider, em declarações ao Daily Mail. “Felizmente, só houve um take”, acrescentou. Palavras que chocaram diversas estrelas de Hollywood.

Veja a polémica cena de “O Último Tango em Paris”

Mais tarde, Bernardo Bertolucci desmentiu a atriz. “Isso é falso! A Maria sabia de tudo porque tinha lido o guião, onde tudo isso estava descrito. A única novidade foi a ideia da manteiga. E isso, soube eu muitos anos depois, ofendeu-a. Não a violência a que foi sujeita na cena, que estava escrita”, disse, através de comunicado divulgado à imprensa. Maria Schneider morreu em 2011, vítima de cancro da mama, e só há quatro anos é que o realizador voltou a falar do tema.

“O que queria era ter a reação dela como pessoa, não como atriz”

“Estávamos a tomar o pequeno-almoço, com o Marlon, no chão do apartamento onde estávamos a filmar. Havia uma baguete, havia manteiga e nós olhámos um para o outro e, sem dizermos nada, percebemos o que queríamos. Fui horrível para a Maria porque não lhe disse”, acabou por reconhecer. “Quando ela morreu pensei, meu Deus, lamento não lhe ter pedido desculpa pelo que o Marlon e eu lhe fizemos naquela cena, por termos decidido não lhe dizer. O sentimento de humilhação foi muito real, mas acho que o que realmente a ofendeu foi sentir que não lhe foi permitido preparar-se para a cena como atriz. Mas o que queria era ter a reação dela como pessoa, não como atriz”, defendeu.

Com a morte de Bernardo Bertolucci, já não está mais ninguém vivo – Marlon Brando morreu em 2004 – deste polémico triângulo de Hollywood. Só falta saber se chega assim ao fim uma das maiores controvérsias da história do cinema.