A manequim de 26 anos, natural do Porto, esteve esta manhã na Web Summit a falar sobre os novos desafios que a indústria da moda e, em particular, os manequins, enfrentam. «Esta indústria mudou muito desde que comecei. Desde que as redes sociais entrarem no jogo, mudou completamente a forma como a indústria funciona. Antes, as manequins não tinham voz. Aparecíamos nos trabalhos, esperavam que estivéssemos caladas, que fossemos apenas bonitas, que fizéssemos o nosso trabalho e fossemos para casa. Agora, temos uma voz», disse Sara Sampaio. A manequim, que tem dois milhões de seguidores no Instagram, explicou que as redes sociais são “poderosas” e que podem ser determinantes no marcar de uma posição dos profissionais de uma indústria que ainda é alvo de problemas como assédio e abuso sexual e discriminação.
«Houve muitos momentos, ao longo da minha carreira, em que foi coagida a fazer coisas que não queria e o que me diziam sempre era ‘ah, isso faz parte do negócio!’. Não devia fazer parte do negócio. Não devia haver problema em dizer que não quero trocar de roupa nem ficar nua à frente de pessoas que não conheço. Mas, quando fazemos esse tipo de pedidos, somos catalogadas de divas», salientou Sara.
Sara Sampaio recordou a polémica recente com a revista francesa Lui. Que publicou sem autorização imagens de uma produção fotográfica onde a manequim surgia com algumas partes do corpo expostas. A manequim utilizou as redes sociais para denunciar publicamente a situação.
«Fui clara com as condições e eles concordaram. Quando cheguei à sessão fotográfica havia sempre alguém a pressionar-me para ficar nua»
«Fui clara com as condições e eles concordaram. Quando cheguei à sessão fotográfica havia sempre alguém a pressionar-me para ficar nua», recorda Sara. Aos 26 anos, a manequim natural do Porto afirma que, nos últimos dois anos, se tornou cada vez mais seletiva com os trabalhos fotográficos que faz, quando estes implicam expor o corpo. «Isto é uma questão de escolha. Lá por uma pessoa ter beijado muitos homens, isso não dá o direito a ninguém de chegar ao pé dela e desatar aos beijos», diz.
Sara espera que esta tomada pública de posição possa ajudar outras manequins. «Espero que, depois de eu ter tomado esta posição no Instagram, outros modelos percebam que têm esse poder. Não nos podem forçar a fazer coisas que não queremos porque temos o poder de ir para as redes sociais e dizer ‘isto não está certo’» Sara espera, quando os manequins começarem a denunciar estas situações, haja uma «transformação na indústria». Até porque, tal como confessou, está «farta” deste tipo de situações». «E eu estou numa ótima posição na industria. Não consigo sequer imaginar estas miúdas mais novas, que estão agora a começar. Quando somos uma cara nova, temos de aguentar muita merda», concliui a manequim de 26 anos.
Texto: Raquel Costa; Fotos: Tito Calado
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