Ana Dias: “Era viciada nas ‘Marés Vivas’ e tinha como ídolo a Pamela Anderson”

Ana Dias: “Era viciada nas ‘Marés Vivas’ e tinha como ídolo a Pamela Anderson”

Entrevistas

Ana Dias: “Era viciada nas ‘Marés Vivas’ e tinha como ídolo a Pamela Anderson”

Estivemos à conversa com a única fotógrafa portuguesa que trabalha para a Playboy. Ana Dias abre-nos as portas de uma realidade que poucos conhecem.

Artigo de Bruno Seruca

19-02-2018

Tirou a primeira fotografia com apenas cinco anos. Participou num concurso que lhe abriu as portas da Playboy. O trabalho de Ana Dias foi ganhando cada vez mais fãs até ao dia em que o telefone toca. Queriam marcar uma reunião com a Playboy norte-americana. Privou com Hugh Hefner, esteve em festas da publicação e hoje é uma referência. É a deusa da fotografia que leva mulheres a desejarem ser fotografadas por si. Isto e muito mais contado pela própria Ana Dias. Que partilha connosco algumas das suas melhores imagens.

A primeira fotografia que tiraste foi em 1989, quando tinhas cinco anos. Esse clique foi o sinal para o que aí vinha?
Nessa altura era apenas uma criança curiosa, que adorava pegar e explorar objetos, e a câmara fotográfica desde cedo, começou a ser o meu objeto preferido. Era como se fosse um objeto mágico, bastava clicar num botão e aquele momento ficaria registado para sempre. E depois todo o processo da revelação das fotos, ver a imagem a aparecer… era lindo! Nessa altura não sabia o que iria ser de mim no futuro e o que queria, mas sabia que aquele objeto era especial e por isso queria tê-lo por perto.

 

«Hoje em dia, para que sinta que consegui uma vitória, a fotografia precisa de contar uma história ou necessita de me fazer sentir algo»

 

Nessa imagem a vitória foi a tua mãe estar enquadrada na foto. Nos dias que correm, qual a vitória que resulta de cada imagem?
Hoje em dia, para que sinta que consegui uma vitória, a fotografia precisa de contar uma história ou necessita de me fazer sentir algo… algo de excitante ou divertido! Tem que ser algo poderoso e que tenha significado. É por isso que, para mim, é muito importante ter modelos profissionais e que saibam exatamente o que pretendo em cada imagem e sobretudo que sejam expressivas o suficiente para contarem uma história com as suas expressões (tanto facial como corporal).

Existe alguma imagem que tenha uma vitória que se destaque das demais?
Sim, há várias imagens que se destacam por conseguir superar as minhas expectativas. Como sempre, vou para uma sessão com ideias pré-concebidas do que quero fazer. Mas muitas vezes tenho surpresas boas! A modelo pode ser tão excelente e dar-me muito mais do que peço, a localização pode ser bem mais incrível do que imaginava; estar um sol radiante… há muitos fatores que me ajudam a conseguir imagens melhores. Ter estes três fatores essenciais (modelo, localização e luz) é mais do que meio caminho andado para o sucesso.

Em que fase da vida se dá o encanto pelo corpo feminino?
O fascínio pela beleza feminina começou muito cedo. Aos 11 anos era completamente viciada na série «Marés Vivas» e tinha como ídolo a Pamela Anderson. Nos anos 90, ela era considerada por muitos como o ideal de beleza feminina e eu estava totalmente vidrada na sua imagem e energia. Os ensaios fotográficos que ela fazia nessa década eram sempre muito coloridos e divertidos, e isso atraía-me muito!

 

“Aos 11 anos era completamente viciada na série ‘Marés Vivas’ e tinha como ídolo a Pamela Anderson”

 

E pelo nu artístico?
O interesse pelo nu propriamente dito surgiu bem mais tarde. Enquanto estudante de Arte, a minha cadeira preferira era «Desenho de Representação». Tinha modelos de nu para desenhar durante horas e acho que foi nessa altura que comecei a valorizar verdadeiramente o corpo humano. Tinha esse fascínio por desenhar cada detalhe dos modelos que posavam para mim. E os modelos que mais me interessavam, do ponto de vista estético, eram as mulheres. A nudez feminina é sem dúvida uma das maiores obras de arte que existe.

Como é que a menina que tira a primeira foto com uma máquina analógica acaba a trabalhar para a Playboy em mais de 20 países?
O momento em que atingi os 20 países foi um momento de êxtase! Colaborar com a Playboy era o meu grande objetivo e, por isso, sinto que foi uma enorme vitória ver o meu esforço dar frutos. Passei muito tempo a construir um portfolio rico em nudez ao meu estilo, e dei o litro para ver o meu nome na Playboy, mas hoje tenho o prazer e o orgulho de poder dizer que pertenço a essa família.

Tudo começou com a Playboy Sérvia…
A minha primeira experiência como fotógrafa da Playboy ocorreu através de um concurso de fotografia organizado pela Playboy Sérvia. Os vencedores teriam a oportunidade de fazer um editorial para a Playboy desse país. Concorri e fui uma das premiadas. Nessa mesma altura a Playboy Portugal entrou em contacto comigo para fazer a minha primeira capa – Raquel Henriques – e foi assim que a aventura com o coelhinho começou. A partir daí, vários diretores e editores da revista de outros países começaram a mostrar interesse no meu trabalho.

 

«Colaborar com a Playboy era o meu grande objetivo e, por isso, sinto que foi uma enorme vitória ver o meu esforço dar frutos»

 

Há algum país que se destaque mais?
Eu sinto-me honrada por poder trabalhar para 22 edições da Playboy em todo o mundo, e cada país tem as suas particularidades fascinantes. Os Estados Unidos são o berço da marca e por isso tenho um grande apego a essa edição da revista, mas cada país por onde vou trabalhando me deixa boas memórias. Gostei muito de fotografar na Islândia, a terra de gelo e fogo, onde fiz um episódio do meu webshow para a Playboy americana. Adorei as águas cristalinas das Bahamas, a paisagem desolada do mar morto em Israel, a mistura de paz e caos do Japão, os aromas da Tailândia.

E algum que não deixe saudades?
Muito francamente, em todos os lugares tive experiências positivas.

Como reagiste quando és convidada para uma reunião para ter um webshow com a Playboy “mãe”?
Foi a melhor coisa que me podia ter acontecido. Desde sempre o meu maior sonho era trabalhar com a Playboy americana e quando surgiu o convite para uma reunião na sua sede em Beverly Hills, nem queria acreditar! Não sabia para o que ia e a proposta que me fizeram superou todas as expectativas! Era a primeira vez que a Playboy fazia algo do género: um webshow acerca do trabalho de um fotógrafo da revista. A ideia de ter um show sobre mim, enquanto fotógrafa era de loucos! Nos anos anteriores ao webshow, por ter colaborado com as edições internacionais da revista, e por ter mais de 80 publicações em mais de duas dezenas de países, tinha vindo a ganhar alguma notoriedade e credibilidade no universo Playboy. Acho que foi isso que fez com que a Playboy americana entrasse em contacto comigo.

 

«Desde sempre o meu maior sonho era trabalhar com a Playboy americana e quando surgiu o convite para uma reunião na sua sede em Beverly Hills, nem queria acreditar»

 

Para quem não conhece, o que podes dizer do programa?
Chama-se «Playboy Abroad: Adventures with Photographer Ana Dias» e graças e ele já pude explorar 24 países diferentes num ano e trabalhar com muitas modelos lindas! Consiste numa espécie de diário da minha vida enquanto fotógrafa da Playboy. Em cada episódio há uma nova modelo, que é fotografada sempre numa cidade diferente, num qualquer país pelo mundo. Mostramos sempre os bastidores da sessão fotográfica, mas também as minhas aventuras com a modelo e a minha equipa na cidade em questão, desde o trabalho fotográfico propriamente dito até aos momentos de descontração, que incluem passearmos pela cidade, conversarmos, bebermos uns copos. É muito interessante conhecer e poder dar a conhecer um pouco do mundo, as diferentes culturas e como cada país reage ao erotismo. Acho que é isso que torna os episódios especiais e diferentes de tudo o que já foi feito.

 

«Trabalhar com a Playboy americana já não é para quem quer! Sinto-me mesmo a maior privilegiada por ter sido a escolhida entre tantos fotógrafos fantásticos»

 

O melhor aspeto deste projeto é a possibilidade de viajar e conhecer culturas diferentes?
Para mim, o melhor aspeto é mesmo o facto de estar a trabalhar com a marca que mais amo. É claro que viajar é outra das minhas grandes paixões, mas isso também se pode fazer nas férias. Trabalhar com a Playboy americana já não é para quem quer! Sinto-me mesmo a maior privilegiada por ter sido a escolhida entre tantos fotógrafos fantásticos que colaboram com a revista. Outro aspeto fabuloso é o de poder trabalhar com algumas das modelos mais requisitadas (e lindas) do mundo.

 

«Lembro-me claramente da emoção que senti quando vi pela primeira vez o Hugh Hefner a descer as escadas da sua mansão. Nunca imaginei poder abraçar o homem que criou o mundo onde trabalho e que tanto me tem dado»

 

Privaste com Hugh Hefner. Que memórias guardas do empresário que acabou por marcar a história da indústria em que trabalhas?
Foi um sonho tornado realidade. Era algo com que sempre tinha fantasiado! Sempre soube que nada é impossível e que os sonhos podem tornar-se realidade, mas não imaginava que fosse acontecer tão rápido. Lembro-me claramente da emoção que senti quando vi pela primeira vez o Hugh Hefner a descer as escadas da sua mansão. Nunca imaginei poder abraçar o homem que criou o mundo onde trabalho e que tanto me tem dado.

Nestes primeiros tempos pode falar-se num período pós Hefner?
A morte de Hugh Hefner ainda é muito recente e desde então pouca coisa mudou. O acontecimento mais triste, após a morte do Hefner, foi o fim da mansão Playboy. Já não existe mais uma mansão Playboy propriamente dita. A propriedade foi vendida ainda quando ele era vivo, com a condição de ele continuar a viver nela até à sua morte. E assim foi. Neste momento, o filho do Hefner, o Cooper Hefner está na direcção artística da revista e acredito que irá manter a filosofia Playboy, criada pelo pai, de pé.

Quando se fala de Playboy e de Hugh Hefner é obrigatório falar das famosas festas na mansão da Playboy. Estiveste em alguma?
Já estive em várias festas Playboy, mas nunca na mansão. Quando estive na mansão, foi a convite do Hefner para jantar e para uma sessão de cinema. Era um evento mais recatado, só com poucos amigos chegados, a sua mulher e eu, que era a convidada. Acho que foi ainda mais giro e especial que uma festa.

 

«Quando estive na mansão, foi a convite do Hefner para jantar e para uma sessão de cinema»

 

E das festas em que estiveste, como são?
O que mais gosto nas festas Playboy é de poder conhecer pessoas que sentem o mesmo fascínio que eu pela marca. Também adoro conversar com as personalidades que admiro. Por exemplo, há dois anos, estive numa festa na Playboy Enterprises, na Califórnia, e aí pude conhecer várias celebridades americanas, incluindo a playmate do ano: a belíssima Dani Mathers. Recentemente, estive em Munique na festa dos 45 anos da Playboy Alemanha e nessa festa, além de conhecer pessoas super interessantes como a artista plástica Milo Moiré, recebi um dos maiores elogios de sempre. Uma das playmates alemãs, chamada Antonia Petrova, veio ter comigo e disse que estava muito feliz por me conhecer e que tinha sido o verdadeiro motivo para ela se tornar uma playmate. Disse que o meu trabalho a inspirava e que sonhava ser fotografada por mim. Foi lindo!

Ainda fazes coleção de revistas Playboy?
Sim, a minha coleção tem vindo a crescer muitíssimo ultimamente. Agora decidi centrar-me mais nas edições americanas e portuguesas da revista. Tenho ido propositadamente a Londres só para comprar revistas Playboy antigas. Não é fácil encontra-las em Portugal. As portuguesas tenho-as todas!

Das “coelhinhas” que fotografaste, destacas alguma?
Todas as coelhinhas com quem trabalhei foram diferentes e especiais à sua maneira. Algumas destacam-se pelo carisma e atitude à frente da câmara, outras pela timidez e graciosidade. Mas de todas, posso dizer que as modelos escolhidas para o “Playboy Abroad” são particularmente especiais. Essas foram escolhidas a dedo por mim e pela minha equipa e não desiludiram!

 

«Uma das playmates alemãs, chamada Antonia Petrova, veio ter comigo e disse que estava muito feliz por me conhecer e que tinha sido o verdadeiro motivo para ela se tornar uma playmate»

 

Os teus amigos brincam muito contigo por ter a possibilidade de fotografar as melhores produções da revista que faz parte do imaginário de todos os homens?
Sim, é o prato do dia. Gostam muito de mandar bocas do género: “Não precisas um assistente?”. Todos os dias ouço isso e até acho uma certa graça.

Que personalidades gostarias de fotografar?
Há tantas mulher lindas que quero fotografar! É difícil escolher apenas uma como sendo a ideal. Das personalidades internacionais que me estou a lembrar agora, sempre gostei muito da Kate Moss, que com os seus 43 anos, ainda tem aquele charme indescritível. Das modelos mais jovens, adoro a holandesa Daphne Groeneveld. Tem um rosto incrível e uma atitude fabulosa. Portuguesa, destacaria a Sara Sampaio.

És uma mulher muito bonita. Já foste desafiada a estar do outro lado da máquina numa sessão como aquelas que fotografas?
Muito obrigada pelo elogio! Já tive algumas propostas para ser fotografada, mas para mim, neste momento, é muito mais interessante estar do outro lado da câmara, a tirar fotos. Esse é o lugar onde me sinto mais criativa e feliz.

Já fizeste tantas coisas e estás inserida em tantos projetos. O que ainda te motiva?
Nunca acho que fiz suficiente! Quanto mais trabalhos faço, mais crítica fico em relação à fotografia. Há até muito do que fiz para trás com o qual já não me identifico, mas faz parte da evolução. Creio que é essa evolução que me faz querer sempre mais e mais. O que me motiva e me inspira é a beleza, e é atrás dela que eu vou, com a câmara na mão.

 

«Já tive algumas propostas para ser fotografada, mas para mim, neste momento, é muito mais interessante estar do outro lado da câmara»

 

Existe alguma receita para conseguir produções tão bonitas como aquelas que fazes?
A minha receita é o amor com que me dedico ao meu trabalho. Quando se ama o que se faz e se trabalha arduamente, os resultados aparecem naturalmente.

Já foste eleita uma das 20 fotógrafas a seguir por seres uma inspiração…
Quando alguém me diz que sou uma inspiração, é claro que fico muito feliz. Espero vir a ser, com o meu trabalho, uma inspiração para muitas mais pessoas pelo mundo fora.

Estás habituada a viajar pelo mundo. Que imagem têm os portugueses do tipo de fotos que tiras?
Os portugueses estão cada vez menos conservadores. Sente-se uma grande diferença na postura nacional comparando, por exemplo, com o país de há 20 anos. A nudez ainda não é algo de natural, mas caminhamos nesse sentido. Já há muita gente por cá que valoriza a estética da nudez com sensibilidade. O mundo está sempre a mudar e Portugal não foge à regra.

A nível de futuro, o que aí vem?
Tenho vários projetos novos para a Playboy e também para a minha revista, a INSOMNIA Magazine, em que estou a trabalhar neste momento. No futuro, consigo imaginar-me a trabalhar cada vez mais em fotografia, amando o que faço, aprendendo e crescendo com cada projeto.

Fotos: Ana Dias

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Artigo de
Bruno Seruca

19-02-2018



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