Quim: “A relação com Jesus nunca foi nada especial”

Quim: “A relação com Jesus nunca foi nada especial”

Entrevistas

Quim: “A relação com Jesus nunca foi nada especial”

O paraeles esteve à conversa com Quim, que será o jogador mais velho do próximo campeonato. Fizemos uma retrospetiva de toda a sua carreira, desde a conquista do europeu sub-18 por Portugal até à saída conturbada do Benfica.

Artigo de Hugo Mesquita

19-07-2017

São quase 400 jogos na primeira liga (383) e o número vai certamente crescer – o recorde é de 485 (Manuel Fernandes). Joaquim Manuel Sampaio da Silva é um dos maiores nomes na história da nossa liga, mas à primeira vista o nome poderá não dizer nada até aos adeptos mais atentos.

O paraeles esteve à conversa com Quim, guarda-redes do Desportivo de Aves, que fez história no Sporting Braga e no Benfica, e que se prepara para se tornar o jogador mais velho do nosso campeonato, com 41 anos.

paraeles: Uma carreira tão completa não poderia ter tido um começo melhor. Quim foi campeão europeu de sub-18, em 1994…

Quim: Tive a sorte de desde muito novo representar a seleção nacional, por isso, não foi novidade para mim estar nesse contexto competitivo. Foi um início muito bom de uma carreira que me orgulha imenso.

p: O ano de 94 foi também importante por ter sido a sua estreia a profissional, ao serviço do Sporting de Braga numa deslocação ao Bonfim para defrontar o Vitória de Setúbal. Recorda-se?

Q: Recordo claro. O nosso sonho quando estamos nas camadas jovens é chegar ao profissional e à primeira liga. Nunca pensei que a minha estreia fosse tão cedo, tive essa sorte. Foi uma sensação incrível, já foi há alguns anos e ainda hoje guardo na memória.

p: Num jogo que até lhe correu bem porque deixou a baliza a zeros.

Q: Sim, o objetivo do guarda-redes é esse mesmo. Foi um bom jogo, infelizmente também não marcámos e o jogo acabou com um nulo. Sinceramente, eu não me importo de sofrer um ou dois golos desde que os meus companheiros façam três ou quatro.

p: Quais eram as suas referências na altura?

Q: A minha referência era o Vítor Baía. Era o melhor guarda-redes português e um dos melhores do mundo. 

“Dou muito valor à família e para sair do país teria que ser por algo que valesse a pena em termos financeiros.”

p: Algum motivo para nunca ter representado uma equipa no estrangeiro?

Q: Surgiram várias oportunidades, mas a sair seria sempre por uma oportunidade financeira muito boa. Dou muito valor à família.

p: Não se sente arrependido por não ter saído?

Q: Não, de maneira alguma. Tudo que fiz na minha carreira foi de consciência tranquila. Não me arrependo de nada.

Quim já foi considerado o melhor guarda-redes da segunda liga por duas vezes, em 2013/2014 e 2014/2015

p: Como está a ser a sua experiência no Aves?

Q: Desde o primeiro convite que me identifiquei, até porque sou natural daqui de perto de Vila das Aves. Para lá disso, sempre fui muito acarinhado por todos, desde os dirigentes até aos adeptos.  Prometi ajudar o clube a voltar à primeira liga. Felizmente consegui.

p: Jogar contra o Braga na próxima época, vai ser especial?

Q: É sempre especial jogar contra o Braga, como é contra o Benfica, clubes que me deram muito. Voltar a jogar na Luz e no Axa vai ser muito especial para mim.

“Fui para defender uma bola do Nani, coloquei mal a mão e parti o pulso”

p: A sua carreira é marcada por dois episódios menos felizes. A lesão no estágio para o Euro 2008 e saída conturbada do Benfica. Começando pela lesão, como aconteceu?

Q: Foi no último treino antes do Euro. Como é costume, alguns jogadores costumam chutar à baliza. Recordo-me que fiquei com o Cristiano Ronaldo e o Nani. Fui para defender uma bola do Nani, mas coloquei mal a mão. Na altura não me pareceu nada de especial, mas durante a noite o pulso inchou, fiz exames no dia seguinte e o pior confirmou-se: tinha o pulso partido e não podia ir ao Euro. Foi duro.

Quim fez 32 jogos pela Seleção A de Portugal

“O treinador não quis que eu continuasse e eu só tive que respeitar a sua opinião”

p: Relativamente à saída do Benfica. Guarda mágoa?

Q: Eu acabava o contrato naquele ano, mas tive sempre a esperança de continuar. Fui campeão nacional, fiz mais de 30 jogos a titular, na defesa menos batida do campeonato. As pessoas não quiseram que eu continuasse … (pausa) … o treinador não quis que eu continuasse e eu só tive que respeitar a sua opinião, mas com alguma mágoa claro porque tinha noção que podia continuar a representar o Benfica.

p: Como era a relação com Jorge Jesus?

Q: Nada de especial. Ele não me quis, eu respeitei e segui feliz para o Braga.

p: Os festejos na meia final da Taça da Liga, quando o Quim defende um penalti, foram bastante criticados na altura. Pode esclarecer melhor essa situação?

Q: Fui muito mal interpretado. Aquela defesa valeu a final da Taça da Liga e o Braga não estava habituado a ir a finais. Fui ter com a minha família que estava na tribuna atrás do banco do Braga, e eu tive que passar pelo banco do Benfica, mas de forma natural. Nunca foi minha intenção provocar alguém.

Quim fez 299 jogos oficiais com a camisola do Benfica
“Fernando Santos marcou-me muito.”

p: Teve vários treinadores que agora estão na ribalta, como Leonardo Jardim por exemplo.

Q: Tive essa sorte. Infelizmente não fui treinado pelo Mourinho, mas fui pelo mister Fernando Santos.

p: Algum treinador que o tenha marcado?

Q: Naturalmente o primeiro. Manuel Cajuda foi quem me pôs na baliza, é como se diz na gíria “o meu pai do futebol”. Fernando Santos também me marcou muito.

p: Surpreendeu-o o sucesso de Fernando Santos ao leme da equipa das ‘quinas’?

Q: De maneira alguma. É um treinador fantástico que tem a sua maneira muito própria de treinar. Já tinha tido uma boa experiência com a seleção grega e agora por Portugal, apanhou um grupo de jogadores muito bom e isso é meio caminho andado para o sucesso. Pode não ter tido o futebol mais vistoso, mas foi uma equipa muito compacta.

p: Como viu a prestação do Rui Patrício no Euro?

Q: Para mim foi o melhor guarda-redes do europeu e já é há longos anos o melhor guarda-redes português. Conheço muito bem o Rui, trabalhei com ele alguns anos na seleção e sei das suas qualidades. Nos últimos anos evoluiu imenso. É o tipo de guarda-redes com o qual me identifico.

“O segredo é a felicidade”

p: O Quim prepara-se, ao que tudo indica, para ser o jogador mais velho da primeira liga, com 41 anos. Algum segredo para a longevidade?

Q: O segredo é a felicidade. Ao longo da minha carreira tive algumas lesões complicadas, mas consegui superá-las muito bem. Para além disso, ser guarda-redes com 41 anos é diferente de ser-se jogador de campo com a mesma idade. Sendo guarda-redes, vai se perdendo alguma coisa, mas ganha-se muito com a experiência.

 

Quim quer seguir a carreira de treinador de guarda-redes

p: Já pensa no futuro após pendurar as luvas?

Q: Eu gostava de ficar ligado ao futebol, mais na área específica de treino de guarda-redes.

p: Treinador principal não gostava?

Q: Sinceramente não me vejo como treinador principal (risos) mas nunca se sabe.

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Artigo de
Hugo Mesquita

19-07-2017



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