O futebol chinês tem (cada vez mais) sotaque português

O futebol chinês tem (cada vez mais) sotaque português

Desporto

O futebol chinês tem (cada vez mais) sotaque português

Aquele que é um dos mais mediáticos campeonatos da atualidade conta com três treinadores e três jogadores portugueses.

Artigo de André Cruz Martins

17-04-2018

Portugal está bem representado na mediática SuperLiga chinesa, com a chegada esta época de três treinadores – Vítor Pereira, Paulo Bento e Paulo Sousa – e de dois jogadores – Orlando Sá e José Fonte, que se juntaram a Ricardo Vaz Té, que já lá estava. Isto para além de outros futebolistas que deixaram marca no futebol português, com destaque para Hulk e Gaitán.

Depois da realização das primeiras seis jornadas, vamos analisar qual é a situação dos seis representantes portugueses num campeonato que ganhou grande destaque nos últimos anos, à boleia das aquisições milionárias de jogadores como Hulk, Tévez (que entretanto já regressou à Argentina), Oscar, Lavezzi e Gaitán.

Em teoria, o Shanghai SIPG de Vítor Pereira, que substituiu o compatriota André Villas Boas, é o grande rival do heptacampeão Guangzhou Evergrande na luta pelo título. E a verdade é que até ao momento, a equipa do último treinador campeão nacional ao serviço do FC Porto tem conseguido um percurso imaculado, com seis vitórias em seis partidas e um fantástico score de 21-4 em golos. E logo na estreia na prova, o Shanghai SIPG mostrou ao que vinha, aplicando uma goleada de 8-0 ao Dalian Yifang, que contou no onze inicial com José Fonte e Gaitán.

O Shanghai SIPG tem nos brasileiros Hulk, Oscar e Elkeson as grandes estrelas. Aos 31 anos e a cumprir a terceira temporada neste emblema, o ex-portista tenta finalmente conquistar o seu primeiro título de campeão nacional na China. E não tem sido por causa das suas prestações que a equipa tem claudicado: na época passada, só no campeonato, marcou 27 golos, somente menos três do que o máximo goleador, Eran Zahavi.

Paulo Bento assumiu o comando técnico do Chongqing Lifan, clube pertencente a uma grande empresa de automóveis, ocupando para já o nono lugar (em 16 equipas), com 8 pontos, uma prestação dentro do que era expectável. O antigo técnico do Sporting já defrontou o Shanghai SIPG de Vítor Pereira e perdeu 2-1, com grande polémica.

O ex-benfiquista Alan Kardec fez uma assistência de calcanhar para o golo de Feng Jing, aos 83 minutos, mas foi mal assinalado fora de jogo ao brasileiro e anulado o golo que daria o empate. Paulo Bento não se conteve e saiu da área técnica, esbracejando de forma indignada.

Por falar em Alan Kardec, o antigo futebolista do Benfica leva dois golos nos cinco encontros que disputou na SuperLiga. Cumpre a terceira temporada no clube chinês e com rendimento razoável (19 golos em 42 jogos).

Paulo Sousa treina o Tianjin Quanjian, equipa que está no décimo lugar, a um ponto da formação de Paulo Bento. A escolha do técnico de 47 anos não deixou de ser surpreendente, depois de ter sido apontado ao AC Milan. Depois do terceiro lugar da época passada, a prestação do Tianjin Quanjian tem estado muito abaixo das expectativas.

José Fonte e Gaitán no “lanterna-vermelha”

José Fonte saiu do West Ham em janeiro, onde não jogava e aceitou o desafio do Dalian Yifang por duas grandes razões: a financeira, naturalmente, mas também pela possibilidade de jogar com regularidade, de modo a ser opção de Fernando Santos para o Campeonato do Mundo. O defesa de 34 anos tem sido titular indiscutível, mas a prestação da sua equipa tem constituído uma grande desilusão, como se comprova pelo último lugar que ocupa, com apenas dois pontos.

O ex-benfiquista Gaitán, e o belga Ferreira-Carrasco, ambos ex-Atlético de Madrid, foram as grandes aquisições para esta época, mas o rendimento de ambos tem deixado muito a desejar. E o argentino até já sofreu um grande susto, quando desmaiou em pleno campo, durante o Dalian Yifang-Beijing Guoan, acabando por ser salvo pela rápida intervenção, precisamente de Ferreira-Castro, ao evitar que asfixiasse.

Vaz Tê e Orlando Sá são os outros dois portugueses em ação nos relvados chineses, ao serviço do Henan Jianye, antepenúltimo classificado. O segundo saiu do Standard Liège de Sá Pinto, onde era figura maior e marcou logo na estreia, fazendo o único golo na partida com o Tianjin Teda. Depois disso, cumpriu mais dois jogos, nos quais ficou em branco. Quanto a Ricardo Vaz Té, também tem sido habitual titular, mas ainda não se estreou a marcar.

Ramires, que representou o Benfica, é outro jogador com passagem pelo futebol português, representando o Jiangsu Suning. Já o ex-portista Fredy Guarín pertence aos quadros do Shanghai Greenland Shenhua e Axel Witsel (ex-Benfica) está no Tianjin Quanjian.

O futebol chinês tem regras muito especiais

Recorde-se que o campeonato chinês tem algumas regras muito específicas: cada plantel só pode contar com quatro futebolistas estrangeiros, sendo que só três podem estar em campo ao mesmo tempo. Existe ainda a possibilidade de ter atletas de Hong Kong, Macau e Taiwan, que não contam como estrangeiros. E por cada estrangeiro em campo, os treinadores têm de fazer alinhar um futebolista sub-23 chinês, estratégia englobada no plano nacional para que o futebol chinês seja o melhor na Ásia em 2030 e no mundo em 2050. Por outro lado, os guarda-redes têm de ser chineses.

Quase todos os clubes da Superliga chinesa são detidos por grandes empresas de construção, que recebem incentivos do governo para investir no futebol e na contratação de jogadores estrangeiros. Daí os salários milionários.

Ainda assim, a Associação Chinesa de Futebol (CFA) estabeleceu um teto salarial para os clubes (definido pelas receitas que geram), que passam também a ser sujeitos ao escrutínio financeiro por auditores, depois dos gastos recorde da época anterior com estrelas internacionais. De acordo com o site “Transfermarkt”, as contratações em 2018 somaram um total de 147 milhões de euros, número bem abaixo dos 400 milhões de 2017.

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Artigo de
André Cruz Martins

17-04-2018



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